Greve dos caminhoneiros: saiba o impacto 1 mês após greve começar
Preço do diesel congelado e valor mínimo do frete são pontos polêmicos que podem afetar o bolso do consumidor
Economia em cinco minutos|Karla Dunder, do R7
Há praticamente um mês, no dia 21 de maio, caminhoneiros de todos o país cruzaram os braços e pararam as principais rodovias do Brasil. A paralisação provocou uma reação em cadeia, com falta de alimentos em supermercados, remédios em hospitais e combustível nos postos.
O Economia em 5 Minutos ouviu especialistas e faz um balanço dessa greve que abalou o país. A falta de produtos, principalmente os perecíveis, teve forte impacto no bolso do consumidor. A batata, por exemplo, virou artigo raro nas feiras e supermercados, o preço disparou e o aumento chegou a 150% — ou seja, o preço quase triplicou.
A falta de combustível atingiu em cheio todo o país. Diversos setores da indústria não tinham como funcionar. Com isso, houve perda na produção de bens e também de serviços. A paralisação atingiu setores de toda a cadeia produtiva.
“Esses dez dias [de greve] tiveram um impacto muito grande em toda a economia e a greve reduziu a previsão de crescimento em pelo menos 0,5% — a expectativa era de 2,5% — o PIB não deve passar dos 2%”, avalia o professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Mauro Rochlin.
O professor faz o seguinte cálculo: de início, podemos avaliar que o ‘PIB médio diário’ do Brasil, que é a soma das riquezas produzidas em todo o país, é de cerca de R$ 16,6 bilhões (R$ 6 trilhões, o valor do PIB, dividido por 360 dias). "Se considerarmos que a greve gerou uma perda diária equivalente a 10% da produção, teremos então uma ‘perda média diária’ de R$ 1,6 bilhão (10% de R$ 16,6 bilhões). Dado que estamos observando um período de dez dias, teremos então uma perda total de R$ 16,6 bilhões no PIB do país", diz.
Os efeitos da greve não devem ficar só nos números. A negociação deixou o governo mais vulnerável a novas e eventuais pressões. Sem contar que algumas reivindicações terão impacto na economia a longo prazo como o tabelamento do preço do diesel e o valor do frete.
“Quando o valor do diesel é congelado, se levarmos em consideração a elevação dos preços no mercado externo, fica a dúvida: quem vai pagar a conta?”, questiona o professor. “Ou a Petrobras assume as perdas ou o Tesouro vai bancar esse custo e fará isso cortando verba para esportes prejudicando diretamente a população ou aumentará impostos.” Na visão do professor, a conta fica para a sociedade.
O professor de economia da PUC-SP Claudemir Galvani questiona a política de preços adotada pela Petrobrás. "É um monopólio que define o preço com base no mercado internacional, em dólar. Quando a moeda se valoriza frente o Real, há um aumento no preço dos combustíveis. Tivemos uma alta de 25% no preço da gasolina, essa política funciona muito bem em países com moedas fortes, que não sofrem oscilações."
Na visão dele, o Brasil é um produtor de petroléo e o custo do barril é menor do que o valor fixado no exterior. "Quem lucra com essa política são os acionistas da Petrobrás."
Outro ponto muito debatido é a questão do valor do tabelamento do frete, estipulando preços mínimos a serem cobrados. A Medida Provisória dividiu setores do governo e fez muita gente torcer o nariz.
“O frete mínimo atende a um determinado grupo e não respeita a oferta e a demanda, a livre negociação, na prática, teremos mercadorias mais caras para o consumidor”, explica o professor da FGV.
Para Galvani, o governo erra ao fixar um valor mínimo e não respeitar as negociações do mercado, mas faz uma ressalva: "Os produtores rurais compram em bloco, formam um oligopsonio, estabelecem um valor para o frete o que deixa os caminhoneiros à mercê, é um conflito difícil que o governo precisa intermediar".
E o que esperar para os próximos meses? Dependerá muito das ações do governo. A Petrobras manterá a política de preços internacional? E se os preços subirem, serão repassados ao consumidor? Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos.
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