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Eduardo Olimpio

Brincar e brigar com fogo em 7 de setembro

Manifestações em prol de rótulos como liberdade, pátria, moral, família e em apoio ao presidente mexem com pólvora seca e abundante

Eduardo Olimpio|Do R7

Cerimônia comemorativa do 7 de Setembro, no Palácio da Alvorada.
Publicado em 07/09/2020 02:52
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Local: Brasilia-DF
Cerimônia comemorativa do 7 de Setembro, no Palácio da Alvorada. Publicado em 07/09/2020 02:52 Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil Local: Brasilia-DF

Há 199 anos, depois de muito ‘diz que me diz’ e arroubos, Dom Pedro I bradou, à beira de um riacho (diz a História), que daquele dia 7 de setembro de 1822 em diante o Brasil seguiria seu destino sem mais pertencer ou ser colônia de sua até então pátria descobridora, Portugal. E, liberto, o país fez-se monárquico em seu primeiro passo ’autônomo’.

Amanhã, em 2021 desta mesma era cristã, faltando um ano para as comemorações dos 200 anos da independência do Brasil, Jair Bolsonaro sairá às ruas que hoje cobrem córregos e nascentes d´água para ‘garantir’ que a liberdade outrora gritada tenha, de novo, sua ‘razão de ser’ renovada, reafirmada e, se necessário for aos seus olhos e aos de seus apoiadores, reconquistada, seja de que forma for.

Apoiado, segundo institutos de pesquisa com larga experiência em coleta e análise de dados, por não mais do que 20% da população brasileira, o presidente da República eleito em 2018 pelo voto direto, auditável e eletrônico pretende reafirmar, perante a nação, que ainda é o condutor de uma mudança de paradigma na forma de se governar. Entre os que o sustentam há de tudo um pouco, e esse perfil ideológico mesclado e pulsante vê, nessa manifestação pública e organizada para ocorrer no simbólico dia 7 deste mês (amanhã, portanto), que se trata de uma espécie de ‘tudo ou nada’ para imprimir uma marca de gestão que se pretende incorruptível moral e administrativamente, liberal economicamente e algo um tanto intangível que proclamam como sendo o patriotismo.

Tudo isso baseado na apropriação das cores nacionais embandeiradas, como se o verde e o amarelo fossem propriedade adquirida pelo mérito de ser pertencente a essa corrente. Assim como faz alguma oposição ao se embrulhar em panos da cor vermelha.


Há vários perigos e temores na operacionalização desses conceitos. Um deles é uma forte sinalização, por parte do Poder Executivo federal, de que só há um jeito de se ver o que se pretende ser o correto na condução da nação. Em estados autoritários há uma tendência forte em encontrar rastros dessa ordem, o que depõe contra justamente a outra pregação que esse mesmo grupo faz quando infla o discurso dizendo que a democracia seria, se levar em consideração o que desejam, um governo central forte e possivelmente condutor dos poderes judiciário e legislativo.

Outro ponto nervoso é o uso que se prega das Forças Armadas para se conquistar, no grito e no tiro, o que defendem. Nunca é exagerado repetir que, se planejam o que planejam a olhos nus, sem pudor, sem se esconderem nas sombras é porque, justamente, a democracia tripartite assegura a liberdade de opinião de expressão constitucionalmente asseguradas com regras pétreas.


Parece que querem jogar o jogo nem dentro nem fora das 4 linhas da Carta Magna. Querem ditar as regras e, quem sabe, modificá-las casuisticamente se assim for necessário para a vitória.

O mundo olha para nós, hoje, com algum assombro, pois é desta mesma terra que treme sem precisar tremer (ou não tínhamos problemas demais e acabamos por fabricar alguns para temperar a inexistente temperança?) que, historicamente, surgiram homens que construíram malhas de relações intranacionais e internacionais equilibradas, efetivas e respeitadas para além das múltiplas linhas demarcatórias territoriais, políticas e sociais.

Estão brincando com o fogo. Fogo esse que arde sem se ver como metaforizou para sempre o grande lusitano Luís Vaz de Camões (1524?-1580): “Amor é fogo que arde sem se ver/é ferida que dói, e não se sente/é um contentamento descontente/é dor que desatina sem doer”. E bem diferente do que arde, de doer, nos biomas vitimados pelo aquecimento global, esta ‘lenda’ que figura em listas negacionistas tão em voga quanto outras utopias nas direitas redes sociais.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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