Opinião: A Armadilha de Gaza: Entre a Sobrevivência e a Destruição
Ao atacar civis indefesos, sequestrar centenas de reféns e se esconder atrás da própria população, o Hamas não buscou abrir caminho para uma solução política
Espaço Prisma|Cláudio Luiz Lottenberg*

O debate internacional sobre a guerra em Gaza tem sido marcado por simplificações que obscurecem a natureza real do conflito. Muitos insistem em equiparar as ações de Israel e do Hamas, como se ambos estivessem engajados em uma disputa simétrica, em que cada lado busca impor sua força sobre o outro. Essa leitura não apenas é equivocada — é perigosa, porque legitima a armadilha deliberadamente montada pelo grupo terrorista em 7 de outubro.
Ao atacar civis indefesos, sequestrar centenas de reféns e se esconder atrás da própria população, o Hamas não buscou abrir caminho para uma solução política. Ao contrário, desenhou uma guerra impossível de ser vencida nos moldes tradicionais: uma guerra na qual cada vitória militar de Israel se converte em derrota de imagem, e cada passo rumo à defesa de sua soberania é apresentado ao mundo como agressão.
É fundamental, porém, entender a assimetria central desse confronto. Israel não deseja destruir Gaza; deseja libertá-la do jugo do Hamas. Quer os seus reféns de volta, vivos. Quer eliminar as estruturas terroristas que ameaçam, dia após dia, sua existência. Seu objetivo, por mais doloroso que seja o processo, é garantir a sobrevivência.
Do outro lado, o Hamas não luta pelo bem-estar palestino, tampouco pela paz. Seu projeto é a destruição de Israel, a qualquer preço. A vida de sua própria população é sacrificada no altar da propaganda. Quanto maior o número de vítimas civis, maior a utilidade política da tragédia. Gaza é transformada em palco de uma encenação macabra, em que o sofrimento real serve como instrumento de manipulação das consciências ocidentais.
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Aqui está a diferença crucial: enquanto Israel é acusado de travar uma guerra de extermínio, o verdadeiro extermínio almejado é o de Israel como Estado. Para Israel, a vida importa mesmo quando o combate impõe decisões terríveis. Para o Hamas, a vida não tem valor algum; a única meta é a perpetuação da morte e da destruição.
O mundo democrático deveria ser capaz de reconhecer essa assimetria. Mas, ao inverter a pressão colocando Israel no banco dos réus, em vez de responsabilizar o grupo que sequestrou a paz,as democracias ocidentais tornam-se cúmplices involuntárias da estratégia terrorista. O Hamas entendeu: em um mundo governado por imagens, o terrorismo compensa, desde que encenado com habilidade.
Por isso, a pergunta correta não é se Israel deseja “acabar com Gaza”. A questão real é: será possível algum dia acabar com o Hamas sem que Gaza deixe de ser refém? Enquanto a comunidade internacional não encarar de frente essa diferença fundamental entre quem luta para sobreviver e quem age para destruir e permanecerá alimentando a tragédia que hoje consome o Oriente Médio.
*Claudio Lottenberg é médico oftalmologista e presidente da Conib (Confederação Israelita do Brasil)
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