Comandante tranquiliza passageiros sobre arremetidas 

Em mais uma colaboração com o blog, o Comandante Conrado Ibri, piloto brasileiro que atua em linha aérea o exterior, explica uma das manobras mais comentadas e, (risos), temidas da aviação. Se você já passou por uma situação como esta e pensou que estivesse em perigo, leia abaixo o artigo do Comandante:

Você já passou pela experiência de estar dentro de um avião, pertinho do pouso, já pensando em ligar o celular para atualizar suas mensagens e, de repente, o pouso é “cancelado” e você sente os motores acelerando e a aeronave subindo novamente e aquela tensão de “o que será que está acontecendo?

Pois este procedimento na aviação é chamado de "arremetida".

Constantemente vemos circulando nas redes sociais vídeos filmados por passageiros que, invariavelmente, descrevem o evento como algo perigoso e assustador.

Até na imprensa, com poucos jornalistas conhecedores a fundo da aviação, podemos ver manchetes do tipo: “Avião da empresa tal arremete próximo ao pouso”, como se fosse uma notícia “quente” que merecesse destaque. Não raro, as reportangens nesses casos incluem frases de passageiros como "foi horrível". E até aquele famoso "pensei que ia morrer". 

Vamos lá.

Por que a arremetida acontece?

O que é essa tal de arremetida?

O quão insegura ela é?

Bom, antes de tentar explicar e, tomara, tranquilizar os leitores, já desafio a você que segue firme aqui na missão de compreender este fenômeno a pensar: avião foi feito para voar ou para estar no chão?

Pois bem. Por aí já começo a tentar desmistificar essa manobra.

Avião foi feito para voar!

O “natural” de uma aeronave não é o pouso, mas o vôo. O pouso é uma necessidade.

Na verdade, para se pousar uma aeronave, é preciso uma série de artimanhas da engenharia para que ele possa acontecer, como aumentar a área da asa com o uso dos Flaps - aumentando sua sustenção - para assim permitir voar em velocidades mais baixas. Também é necessário para aeronaves maiores “baixar” o trem de pouso, que são recolhidos após a decolagem para não produzirem arrasto ou resistência à trajetória do avião, além de uma série de outros recursos para ajudar na frenagem da aeronave após o pouso, além dos freios, como os reversores dos motores e os Speed Brakes, aquelas superfícies que levantam na asas após o toque no chão para quebrar a sustenção que produzem.

Observem os pássaros; eles voam como se fosse a coisa mais fácil e natural no universo. Um balé. Mas o esforço que fazem para o pouso não parece exatamente uma manobra fácil.

O mesmo acontece com uma aeronave.

A arremetida é portanto somente um pouso que não aconteceu. Os pilotos colocam a aeronave de volta ao seu “habitat natural” pois, por algum motivo, havia algum risco para o pouso. Seja do mais óbvio possível, como alguma outra aeronave ainda na pista, ou ventos mais fortes do que os recomendados, como baixa visibilidade, chuva muito forte, ordem da torre por algum motivo, “blackout” das luzes da pista, alguma indicação de falha da aeronave, etc. São inúmeras razões que podem fazer os pilotos descontinuarem uma aproximação e cancelarem o pouso. Todas elas, invariavelmente, relativas a algum potencial risco para a operação.

Pilotos estão sempre prontos para arremeter, eles sempre têm um plano para caso algo não pareça correto n o perído da aproximação, quando o avião se encaminha para o pouso.

Para o passageiro, talvez pareça assustador porque o que se espera é o pouso. E talvez o fato de não saber o motivo da arremetida traga a sensação de que algo está errado.

Mas para os pilotos arremeter é um procedimento normal, que vai ser executado para assegurar o nível de segurança da operação.

Portanto, tenha a certeza que da próxima vez que você experimentar uma arremetida na condição de passageiro, saiba que ela ocorreu exatamente para reestabelecer a normalidade, preventivamente.

E então os pilotos se prepararão para uma outra aproximação em condições mais seguras ou optarão por alternar o pouso para um aeroporto que ofereça melhores condições.

Se a arremetida ocorreu, tenha a certeza que foi mais seguro arremeter do que pousar!

Além do mais, se o avião fosse um pássaro, certamente ele daria um sorriso daqueles bem grande nesse momento, como aquela criança que pôde ficar mais uns minutinhos brincando antes de ir dormir, por saber que vai poder passar um pouquinho mais de tempo fazendo aquilo que mais gosta: voar.