Estudo da USP aponta que diversificação de culturas pode dobrar sequestro de carbono no solo
Pesquisadores mostram que ampliar o número de espécies cultivadas e adotar manejo conservacionista pode transformar áreas agrícolas

A pesquisa, realizada no Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), revelou que a diversificação de culturas agrícolas pode mais do que dobrar a taxa de sequestro de carbono no solo.
Os resultados obtidos em áreas de cerrado e pampas mostram que, ao substituir monoculturas — como soja e algodão — por sistemas agrícolas com maior diversidade vegetal, o solo passou a fixar mais de 0,6 tonelada de carbono por hectare/ano. Isso representa mais que o dobro da taxa registrada em monocultivos.
“O plantio direto por si só tem efeito positivo, mas quando combinado com diversidade de espécies, o impacto ambiental é ainda maior”, disse o professor Cimélio Bayer (UFRGS), especialista em manejo de solo há mais de 20 anos, que integra a equipe de estudo do programa Soluções Baseadas na Natureza (NBS) da ESALQ-USP.

Segundo ele, práticas que reduzem o revolvimento do solo e mantêm cobertura vegetal contínua favorecem o acúmulo de carbono não apenas na superfície, mas em camadas profundas — efeito com duração superior a 30 anos.
As amostragens, realizadas até um metro de profundidade, demonstraram que o potencial de sequestro vai além das estimativas anteriores, que previam estabilidade após duas décadas.
A análise profunda e o uso de isótopos para rastrear a contribuição de raízes e parte aérea das plantas possibilitam uma compreensão mais ampla da dinâmica do carbono no solo.
Além da mitigação de emissões, os cientistas agora avaliam os efeitos agronômicos desse acúmulo. A expectativa é que o aumento da matéria orgânica favoreça a retenção de água, a fertilidade do solo e, consequentemente, a produtividade das lavouras.
Essa abordagem representa uma alternativa concreta para o setor agropecuário brasileiro avançar na agenda da sustentabilidade sem largar a eficiência produtiva.
“É possível unir conservação e produção. Precisamos de políticas públicas que incentivem a adoção dessas práticas em larga escala”, defendeu Bayer.
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