PF recupera mais dinheiro em operações contra PCC do que tem de orçamento anual
O orçamento da PF tem sido cada ano menor, além de sofrer contingenciamentos; em 2024, mais de R$ 133 milhões foram congelados

O orçamento da Polícia Federal em 2024 foi de R$ 1,5 bilhão. Em 2025, a corporação conseguiu R$ 230 milhões a mais, mas ainda assim, segundo o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, o valor ficou R$ 800 milhões abaixo do necessário para manter as contas. As contas para 2026 já foram estimadas. A PF luta por um orçamento mínimo de R$ 3 bilhões.
Hoje, o dinheiro apreendido em operações da PF fica bloqueado em contas judiciais e sua destinação definitiva só ocorre após o trânsito em julgado do processo. O juiz de cada caso define o destino dos valores, que geralmente são revertidos para os cofres da União ou para a entidade lesada.
Só nas operações Quasar e Tank, deflagradas nesta quinta-feira (28) pela PF e Receita, somadas à operação Carbono Oculto, do Ministério Público de São Paulo, resultaram no bloqueio e sequestro de mais de R$ 2,2 bilhões em bens e valores do crime organizado, todos ligados a esquemas de lavagem de dinheiro no setor de combustíveis. Montante bem superior ao orçamento da Polícia Federal em 2024 e 2025.
Na Operação Quasar, foram registradas autuações fiscais que totalizam R$ 1,2 bilhão. Já a Operação Tank bloqueou bens e valores de 41 pessoas físicas e 255 jurídicas, bloqueando mais de R$ 1 bilhão.
Nas ações lideradas pela PF, os investigadores identificaram a utilização de fundos de investimento e fintechs como engrenagens centrais de complexos mecanismos de ocultação de capitais, que fez com que a Receita Federal e o Ministério da Fazendo mudassem regras e equiparassem critérios de transparência dessas instituições às de bancos, através de instrução normativa.
Diante dos resultados, delegados federais voltaram a criticar o contingenciamento orçamentário imposto pelo governo, tanto em 2024 quanto em 2025.
Este ano, o pagamento de diárias e a indenização por sobreaviso chegaram a ficar suspensas por alguns meses e até o final do ano podem parar novamente, segundo fontes na corporação.
Em 2024, os policiais ficaram 4 meses sem receber a indenização em razão do contingenciamento de R$ 133 milhões, valor equivalente a apenas 6% do total bloqueado nas operações de ontem comandadas pela PF. Houve casos em que não havia verba para combustível de viaturas.
Para o presidente da ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal), Luciano Leiro, há uma incompatibilidade entre os resultados da PF e o que é efetivamente investido no órgão.
“A Polícia Federal tem se mostrado um dos principais instrumentos de recuperação de ativos ilícitos no país, com resultados concretos e mensuráveis que superam, em múltiplas vezes, os valores destinados à própria instituição. No entanto, enquanto a PF assegura bilhões de reais ao erário, os delegados federais convivem com uma política de contingenciamentos, ausência de investimentos estruturantes e uma crescente perda de atratividade da carreira. Essa contradição compromete a sustentabilidade da instituição no longo prazo.”
O presidente da associação diz que apresentou um conjunto de propostas de valorização ao diretor-geral da PF este mês, visando a recomposição de investimentos e medidas de atração para a carreira.
“É imprescindível recompor os recursos orçamentários e valorizar tecnicamente a carreira de delegado federal para garantir que o país não apenas recupere valores desviados, mas também fortaleça sua capacidade de prevenção e repressão qualificada ao crime organizado”, afirma o delegado Leiro.
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