Brasil e Israel dividem tecnologia e tentam superar discordâncias
Ministro da Ciência e Tecnologia de Israel esteve nesta sexta-feira em São Paulo e afirma que a parceria ajudará na reaproximação dos dois países
Nosso Mundo|Eugenio Goussinsky, do R7
Há pouco tempo, Ofir Akunis bem que poderia ser visto com amigos conversando em um point de Tel Aviv, perto da rua Frishman ou na Dizengoff. Hoje, aos 44 anos, ele é ministro da Ciência e Tecnologia de Israel, um dos dois países que mais investem no setor no mundo (o outro é a Coreia do Sul).
Estilo jovial, sem o habitual terno e gravata, ele tem uma função estratégica no governo: mostrar uma nova cara de Israel para o mundo. Mais aberta, menos desconfiada.
A iniciativa tem dado resultado e, em apenas três dias no Brasil, ele conseguiu completar uma reaproximação com o país, por meio de algo que Israel está utilizando nesse novo contexto: a intensa cooperação com a comunidade internacional.
Nesta sexta-feira (2), ele esteve no colégio Renascença, cuja nova sede foi aberta recentemente em São Paulo. Ao lado do embaixador israelense, Yossi Shelley, entre outros, participou da inauguração de um laboratório. E, em meio a passos corridos, a truculência de alguns seguranças e a rispidez de alguns assessores, ele foi solícito e falou com exclusividade ao R7.
Franco, o ministro não escondeu sua decepção em relação às últimas votações do Brasil na Unesco e na ONU, contrárias à soberania israelense sobre Jerusalém. Mas mostrou exatamente o que o país tem feito para ganhar mais aliados: estar aberto à cooperação tecnológica e econômica para reforçar laços políticos.
— Israel é um centro de referência nessa área de tecnologia. Esse é o nosso futuro e o da comunidade judaica. Claro que ficamos tristes com alguns votos do Brasil, mas vejo que a situação está melhorando. O acordo de cooperação e os desafios em conjunto nessa área irão melhorar as relações econômicas e diplomáticas entre os dois países.
Brasil e Israel se reaproximam com visita de chefe do Itamaraty
Na última quarta-feira (28), Akunis esteve em Brasília, assinando um acordo de cooperação nas áreas de utilização da água, cibersegurança, robótica, espacial, de aviação, entre outras. Na quinta-feira (29), ele esteve em São José dos Campos (SP) para conhecer o parque tecnológico brasileiro nas áreas de aviação, visitando a Embraer, e espacial, obtendo informações sobre o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
— O Brasil também é um país que tem um volume grande de alta tecnologia. O maior objetivo do acordo é intensificar as pesquisas em conjunto. Esse é o começo de uma nova era para Israel e entre os dois países.
Em meio ao alarido das crianças, ele descia as rampas do colégio, percorrendo salas de aula e corredores modernos, rodeados de play-grounds, jardins e gramados. Mesmo apressado, demonstrou satisfação com a viagem, tentando ser um símbolo deste novo momento de Israel, país que investe 3,5% de seu PIB em Ciência e Tecnologia (o Brasil investe cerca de 1,6% do PIB).
— Israel se tornou esse centro de difusão do conhecimento por vários motivos. Um deles é a qualidade intelectual de sua população, sempre apegada aos estudos e ao conhecimento. O outro é o livre mercado. E depois há o apoio do governo ao setor. Tudo isso gera uma atmosfera para o país manter esse alto grau de desenvolvimento tecnológico.
Ele explicou que a origem de todo esse conhecimento está nas universidades. A partir disso, as pesquisas desenvolvidas passam a ser utilizadas por toda a sociedade, chegando inclusive às empresas, que as colocam no mercado.
— Estamos abertos a todos os países que quiserem compartilhar essa tecnologia. Inclusive na América Latina e em especial no Brasil, onde sei que há muitos usuários do Waze (aplicativo criado por israelenses).
A insistência em toda a comitiva afirmar que a visita foi histórica, colocando-a como a primeira oficial de um ministro da Ciência e Tecnologia ao Brasil, reflete o interesse que ambos os países têm em deixar o passado recente para trás.
Nele, o então ministro da Ciência e Tecnologia israelense, Daniel Hershkowitz, veio ao Brasil em 2012 e nem foi recebido pelo seu par em Brasília, o ex-ministro Marco Antônio Raupp. Reuniu-se com o então secretário de Políticas de Informática. Nem participou de sessão no Senado, como fez Akunis, cuja repercussão da viagem sinaliza mesmo para novos tempos nas relações entre os países.
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