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Brasil é líder disparado no genocídio de índios na América Latina

Livro "O Mundo Indígena na América Latina - Olhares e Perspectivas", lançado na USP, aponta que problemas como exclusão não foram superados

Nosso Mundo|Eugenio Goussinsky, do R7

Número de índios no Brasil caiu vertiginosamente
Número de índios no Brasil caiu vertiginosamente

No contexto da América Latina, o Brasil é um país diferente em vários aspectos. Pela dimensão continental, pelo idioma e também pela maneira com que lidou com a população indígena desde a chegada dos colonizadores.

Em território brasileiro, os índios praticamente foram extintos. Atualmente, a população indígena brasileira é bem menor do que a existente na época do Descobrimento.

Estatísticas já admitiram que, em 1500, a população indígena no País era de cerca de 4 milhões. Atualmente o número de índios no Brasil ronda os 470 mil em aldeias.

Segundo a Funai (Fundação Nacional do Índio) um milhão de índios estão espalhados pelo País, em 250 etnias que vivem em apenas 13,8% do território nacional.


Eles ainda têm de lutar por mais autonomia, vivendo permanentemente em risco de perder de direitos, acossados por pressão dos latifundiários, mineradoras, usinas e indústrias.

Por outro lado, apesar de também ter havido extermínios, a grande maioria dos países da América Latina soube incluir melhor os indígenas na sua população.


Hoje, por exemplo, eles são mais do que a metade da população boliviana e estão presentes intensamente no México, Colômbia, Venezuela, Equador e Paraguai.

Um milhão de indígenas brasileiros buscam alternativas para sobreviver


Pode-se chegar a essas conclusões por meio do livro "O Mundo Indígena na América Latina - Olhares e Perspectivas", lançado na última semana na USP (Universidade de São Paulo), em função do Dia do Índio (19 de abril).

A obra é uma reunião de artigos, com coordenação da mexicana Beatriz Paredes, socióloga, política e diplomata, que já foi governadora do Estado de Tlaxcala (1997-2002) e embaixadora do México no Brasil (2012). Os organizadores foram os professores Gerson Damiani, Wagner P. Pereira e Maria A. G. Nocetti.

Damiani observa que o genocídio indígena foi uma realidade na América Latina, mas no Brasil ela foi muito mais intensa. O índio, no País, é o excluído entre os excluídos, não fazendo nem mesmo parte dos sistemas de cotas da maioria das universidades brasileiras.

— Existe no Brasil um processo de exclusão da cidadania, do direito de participar da sociedade nas formas mais dignas, como Educação, Saúde e Cultura.

Damiani lembra que há raízes indígenas na história brasileira e elas foram praticamente esquecidas. O relatório da Comissão Nacional da Verdade, de 2014, apontou, por exemplo, que tribos no Maranhão foram completamente erradicadas e em Mato Grosso, entre 1946 e 1988, período que pautou as investigações sobre graves violações de direitos humanos.

Os índios no Brasil não fazem parte da rotina atual do país como por exemplo ocorre no México, onde monumentos e museus, como o Museu Nacional de Antroplogia, pré-colombiana, mantêm acervos ligados à cultura indígena e à própria essência da nação. Damiani ressalta.

— No Brasil não há algo nem próximo disso, aqui não sê vê a tradição indígena como tesouro cultural, com todo o pensamento, os hábitos de vida, os rituais milenares. Há interesse em quadros de Monet ou de Renoir, o que é louvável, mas não em pinturas indígenas extremamente ricas, de até mil anos atrás.

Colonização por colonização, tanto a portuguesa, no Brasil, e a espanhola, na atual América Latina, utilizaram a violência contra os povos nativos. Mas neste sentido, algumas características específicas das regiões contribuíram para que os índios no Brasil ficassem mais vulneráveis, segundo Damiani.

Uma delas é a própria característica da independência dos países. Em boa parte das Américas a luta pela libertação teve um caráter mais popular, com revolucionários como José de San Martín e Simón Bolívar difundindo uma mensagem de justiça social e igualdade de direitos. No Brasil, a independência ocorreu de forma mais elitista, com as decisões sendo tomadas por autoridades no poder, como Dom Pedro I.

Além disso, pelas próprias dimensões continentais do Brasil, as características dos índios brasileiros, em geral, eram mais pacíficas, pelo fato de a terra ser fértil em várias regiões, o que aumentava as migrações de populações indígenas dentro do território brasileiro. Essas características mais nômades levavam a uma vida menos obcecada pelo controle de territórios. 

— Quase sempre, nas guerras, a origem decorre do conflito por território. Se há pequenas terras férteis elas são motivo de grandes conflitos. O Brasil tinha uma costa gigante, Mata Atlântica, não havia tanto conflito. Os indígenas brasileiros foram surpreendidos pela agressão dos colonizadores. Em outras regiões da América Latina, costumavam ser mais guerreiros e ter fortificações, como incas, maias e aztecas.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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