Cenário em Israel dificulta formação de novo governo de união nacional
Em outras ocasiões, opositores se articularam, como nos anos 80, quando o país vivia um período de forte crise econômica; momento agora é diferente
Nosso Mundo|Eugenio Goussinsky, do R7
Um partido com cerca de seis meses de existência pode tirar do cargo o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, após ele permanecer por 13 anos no poder. Isso não quer dizer que Israel dará uma guinada à esquerda com a eventual mudança.
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A situação revela mais uma fragmentação do que uma polarização. Israel vive novos tempos, em que não há mais duas grandes correntes, uma de esquerda e outra de direita, como ficou marcada desde as disputas filosóficas entre David Ben-Gurion, com convicções mais à esquerda, e Zeev Jabotinsky, da extrema-direita israelense nos anos 20,30 e 40.
A dificuldade para um governo de união nacional neste momento é muito maior do que em anteriores. Entende-se por união nacional tanto a formação de uma base no Parlamento, para que apenas um governe, quanto a alternância no cargo de primeiro-ministro.
A primeira vez que uma aliança para governar foi costurada ocorreu há quase 50 anos quando, em outubro de 1969, a então primeira-ministra Golda Meir perdeu a maioria no parlamento, mas conseguiu uma articulação para se manter no governo.
Em outra ocasião, entre 1984 e 1988, o esquerdista Shimon Peres, do Trabalhista, e o direitista Yitzhak Shamir, do Likud, se revezaram no posto de primeiro-ministro em um governo de união.
Israel passava por uma forte crise econômica e a união ajudou a estabilizar o shequel. Foi implementado um programa emergencial de estabilização, que contou com a colaboração de entidades como a Histadrut (Central de Trabalhadores) e com o Comitê de Coordenação Patronal, o que fez a inflação cair de 185% em 1985 para 21% em 1989.
A união, neste sentido, foi fundamental para, a partir de 1992, o primeiro-ministro Itzhak Rabin implementar um projeto de desenvolvimento da infraestrutura para o país, que o levou a se tornar um exportador de tecnologia.
Há 10 anos, o próprio Netanyahu foi derrotado por Tzipi Livni (do Kadima, que ficou com mais cadeiras), mas conseguiu articular uma base formada pela direita e se manteve como primeiro-ministro.
O momento agora é outro. O Partido Trabalhista perdeu muita força, já não consegue se aglutinar para fazer frente ao Likud. Aliado com o Guesher, ficou com apenas seis cadeiras, 4,8%.
Já o centrista Azul e Branco, praticamente recém-criado, na verdade é uma frente ampla de opositores, contando inclusive com esquerdistas, mas tem como suporte maior o centro-direita Benny Gantz. Ficou com 33 cadeiras no Parlamento, contra 31 do Likud.
O fato inédito é que a Lista Unida, que agrupa os partidos árabes, se firmou como a terceira força com 10,62% dos votos e, com 13 assentos no Parlamento, pela primeira vez decidiu apoiar um nome para o cargo de primeiro-ministro, o de Ganz.
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A partir de hoje, haverá cerca de 25 dias para o presidente do país, Reuven Rivlin, conseguir articular a formação de um novo governo, na primeira tentativa.
O fiel da balança pode ser a postura dos partidos direitistas, como o ultra-ortodoxo Shas, com 7,44% dos votos (9 assentos), o direitista Israel Nosso Lar, com 6,99% (8 cadeiras) e o Judaísmo Unido pela Torá com 6,06%.
O ponto de discórdia para que eles apoiem Gantz é o fato de Yair Lapid, político e apresentador de TV, ser defensor de um reformismo laico, contrário à forte influência religiosa na política do pais.
Completam a lista de partidos com assentos o direitista, com viés de extrema-direita, Yamina, com 5,88% (7 assentos) e o União Democrática, de esquerda, com 4,34%.
E neste cenário fragmentado, a possibilidade de uma união formal e duradoura é muito mais difícil do que em outros tempos.
A tendência é de que apenas um dos dois, Gantz ou Netanyahu, fique no comando, apoiado por um bloco, mantendo uma política moderada, que tenha, em primeiro lugar, o objetivo de não desagradar aos grupos mais radicais.
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