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Saiba por que o Irã apoia o governo sírio nesta guerra que já dura 7 anos

Governo iraniano, agora com maior influência no Iraque, tem a possibilidade de utilizar um corredor no país, que facilita a entrega pela fronteira síria

Nosso Mundo|Eugenio Goussinsky, do R7

Tanto Assad quanto o Irã lutam contra hegemonia sunita
Tanto Assad quanto o Irã lutam contra hegemonia sunita

Já são sete anos de Guerra na Síria e a situação no país ainda parece longe de uma solução. Analistas internacionais insistem em vincular a influência do Irã como um dos alicerces para a manutenção de Bashar al-Assad no poder, mesmo diante de uma forte pressão internacional.

E a prova de que essa influência realmente existe pode ser constatada na própria postura do governo iraniano, conforme afirma o professor de Relações Internacionais da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Guilherme Casarões.

— A Guarda Revolucionária iraniana está provendo o governo sírio com assessoria militar e técnicas para o Exército. O próprio apoio diplomático a Assad é um ponto que está claro há pelo menos seis anos.

Um dos grandes intermediários destes contatos é o general Kassem Suleimani, comandante das Forças al-Quds, que já viajou várias vezes para a Rússia a fim de se afinar com o governo do presidente Vladimir Putin, outro grande aliado de Assad.


A questão é que, tanto Assad quanto o Irã, lutam contra a hegemonia sunita no Oriente Médio. Assad, mesmo alauíta, vê no xiismo um suporte imprescindível diante da hostilidade que desperta nas facções sunitas.

Não custa lembrar que a própria ascensão da dinastia Assad ao poder, com o pai de Bashar, Hafez, em 1971, com apoio da França, ocorreu para afastar a maioria sunita, que, no poder, deixaria mais forte a oposição à influência francesa na região.


Também é notória a chegada de armamentos para todos os participantes do conflito. Do lado dos rebeldes, até há pouco tempo, eles recebiam munições de países como Qatar e Arábia Saudita, por meio da fronteira com a Turquia.

Já os iranianos, agora com maior influência no Iraque, têm a possibilidade de utilizar um corredor no país, que facilita a entrega pela fronteira síria. 


A Organização Humans Rights Watch, em seu relatório de 2017, constatou, entre outras denúncias, inclusive contra os Estados Unidos e grupos rebeldes, que o Irã tem atuado militarmente ao lado da Síria.

— Com o apoio da Rússia e do Irã, o governo sírio realizou ataques deliberados e indiscriminados contra civis e contra instalações civis, impediu acesso da ajuda humanitária...

Todo esse contexto tem origem no início dos anos 2000, quando o Irã iniciou nova etapa na busca da hegemonia regional, sob a presidência de Mahmoud Ahmadinejad (2005-2013), conforme afirma Casarões.

— (Ahmadinejad) foi um presidente que quis romper com certo isolacionismo desde a revolução islâmica (1979) e a Guerra Irã-Iraque (1980-1988). Ele quis reposicionar o país e isso envolve também relações além do Oriente Médio. Ho je o Irã tem uma grande relação com a Índia, certa presença no continente africano e isso não ocorre só pela venda de petróleo, mas por relações políticas que o país vem construindo.

A estratégia para construir armas nucleares, neste sentido, se encaixa a esses objetivos expansionistas do Irã. Mas, por outro lado, provocou sanções, a maioria delas encerrada em 2015, mas que ainda repercutem na economia do país.

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O desemprego entre jovens chegou recentemente a 40%. Isso em grande parte devido a medidas unilaterais americanas contra negociações financeiras, que bloquearam crédito a cidadãos iranianos por parte da maioria de bancos ocidentais.

E, sendo ao mesmo tempo causa e consequência, a ânsia de poder do governo iraniano pode gerar, segundo Casarões, maior necessidade de, por razões populistas, investir na guerra para manter sua imagem de potência regional diante de sua população.

Mesmo com a população desconfiada desta tática, o apelo nacionalista diante de ameaças externas costuma funcionar nos momentos de crise. Casarões lembra que isso era muito comum na América Latina dos anos 80.

— Em algum sentido, a crise no Irã está ligada a reações contra internas contra essa estratégia de expansão. Na Argentina dos anos 80, no pior momento da crise econômica, na década perdida dos militares, o governo decidiu invadir as Malvinas para mobilizar um certo nacionalismo, recurso que o Irã pode estar utilizando também.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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