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Turquia costura alianças e tenta se tornar a potência do Oriente Médio

Israel mantém cooperação com o país, mas acompanha movimentações militares do governo Erdogan

Nosso Mundo|Eugenio Goussinsky, do R7

Turquia surgiu após o fim do Império Otomano
Turquia surgiu após o fim do Império Otomano

Ao ser questionado sobre qual país é o que mais se equipara militarmente a Israel no Oriente Médio, um estudioso em inteligência israelense respondeu: "Israel tem superioridade militar em relação a todos os países da região, mas com a Turquia há um equilíbrio maior, o que merece atenção das autoridades".

Essa resposta dá dimensão de como a Turquia vem firmando seu objetivo de se tornar uma potência regional. Várias coincidências facilitam esse objetivo, em um momento no qual há fragmentações entre ideologias, religiões e hábitos de vida entre os mundos ocidental e o oriental.

A Turquia, por seu posicionamento estratégico, torna-se um interessante aliado para ambos os lados, inclusive por ter seu território tanto na Ásia quanto na Europa. Tentáculos do antigo Império Otomano ainda permanecem invisíveis na região do Oriente Médio, dominada por esse império por alguns séculos, até o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

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Por outro lado, tendo o seu litoral no Mar Negro de frente para Rússia, o país se tornou fundamental para a Otan, organização na qual é filiado desde 1952, no início da Guerra Fria.

Mas a Rússia também vê a Turquia com bons olhos, por ser esta um corredor para a Europa, fazendo fronteira com alguns países da União Europeia, como Grécia e Bulgária. O país presidido por Vladimir Putin, inclusive, tem vendido armas para os turcos, como duas baterias do sistema S-400, de defesa terra-ar de longo alcance, a serem entregues em 2018.


A Turquia partilha fronteiras com a Síria, Irã e Iraque, mas também com membros da União Europeia como a Grécia e a Bulgária. Desta forma, é conveniente para a Rússia manter laços com o país, participando da construção de uma usina nuclear, chamada Akkuyuo, cuja inauguração deverá acontecer a partir de 2023.

Aliada da Rússia, presente na Otan e bem localizada. Só isso já seria suficiente para facilitar investimentos militares no país. No entanto, a própria necessidade da Turquia se manter estruturada, em funções de questões internas, é outro item fundamental para seu fortalecimento.


O país se depara com movimentos que o governo considera terroristas, como dos curdos, na região, e outros históricos, como a permanente atenção em movimentações vizinhas, como a que gerou a crise no Chipre, após a reação turca a um golpe militar local, apoiado por forças gregas e pela Guarda Nacional Cipriota, em 1974.

Essa ambivalência da situação turca, por outro lado, traz desconfianças para seus "parceiros". Para a Rússia, é um incômodo grande a Turquia pertencer à Otan. E para o Ocidente, o fato de o país ser essencialmente islâmico gera controvérsias, que impedem a entrada da Turquia na União Europeia.

Além disso, o atual presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, um dos nomes de maior impacto na história do país, busca com sua política agressiva e centralizadora, o incremento militar. Mantendo ampla simpatia ao islã, o que gera acusações de que ele busca criar um regime teocrático. Erdogan declara que o país é laico mas, ao mesmo tempo, defende o fortalecimento do islã e a participação da religião na sociedade, desde que seja vontade dela.

Poderio militar

Em termos de poderio militar declarado, a Turquia está à frente de Israel em estudo do Global Firepower, feito em 2017. Com um efetivo total (ativo e reserva) de 790 mil membros, Israel tem um orçamento de 15,5 bilhões de dólares anuais, 2.620 tanques, 652 aeronaves e seis submarinos. Ocupa o 15º lugar, segundo a entidade.

A Turquia tem um orçamento menor, de 8,2 bilhões de dólares, com 2.445 tanques, 1.018 aeronaves, nenhum porta-avião e 12 submarinos, ocupando, no entanto, o oitavo lugar.

Não estão incluídos, é verdade, dados relativos a armamento nuclear e investimentos recebidos de Israel, pelos Estados Unidos principalmente. Nem as armas destinadas à Turquia pela Otan, repassadas ou vendidas por um preço mais acessível.

Neste momento, as relações diplomáticas entre Israel e Turquia estão oficialmente normalizadas. Ambos os países, porém, têm passado por momentos de tensão mútua, desde o início do século, culminando com o caso da Flotilha da Liberdade, em 2010, missão que trazia ajuda humanitária para palestinos na Faixa de Gaza.

Na ocasião, nove civis foram mortos a bordo do Mavi Marmara, de bandeira turca, após a embarcação ser bloqueada por forças israelenses, já que não tinha permissão para entrar no mar territorial do país, pelo Mediterrâneo.

Também para Israel, a Turquia tem importância estratégica. Há uma cooperação militar entre os dois países, justamente por ambos compartilharem preocupações similares e não desejarem a instabilidade na região.

Por outro lado, Israel tem consciência de que o Império Otomano controlou o território israelense com mão de ferro em relação aos judeus, entre 1517 e 1917. Assim, mantém um pé atrás em relação à Turquia e acompanha as movimentações militares do país. Como a Turquia mantém em relação aos seus aliados. E como todos se veem nesta complexa teia que se chama Oriente Médio. Ou seria ser humano?

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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