Cuidado ou abuso? "Passaporte" para entrar em igrejas causa polêmica
Exigência já está valendo para todos os municípios de Pernambuco
Refletindo Sobre a Notícia por Ana Carolina Cury|Do R7 e Ana Carolina Cury
Desde segunda-feira (27), em todos os municípios de Pernambuco, igrejas e templos religiosos que fizerem eventos com mais de 300 pessoas precisam exigir o comprovante de vacinação das duas doses da vacina contra a Covid-19 ou o teste negativo. A medida foi estabelecida pelo governador Paulo Câmara (PSB).
Nos próximos dias, o governo local deve liberar detalhes sobre como se dará essa fiscalização. Mas o fato é que tal decisão criou polêmica e está repercutindo de forma negativa. "O governador de Pernambuco é a personificação da hipocrisia da classe política. Pouco ou nada fez pela melhoria do sitema de saúde durante a pandemia e agora surge com a exigência absurda do passaporte sanitário até para cultos", afirma o sociólogo especialista em educação e política Thiago Cortês.
De qualquer forma, no estado de Pernambuco, quem ainda não tomou a vacina, ou só tomou uma dose, não pode mais ir à igreja ou ao templo religioso. Isso é inviável e inconstitucional para a Associação Nacional das Igrejas e Pastores Evangélicos (Unigrejas).
"Apesar de o governador agir em suas prerrogativas para tentar evitar nova disseminação da Covid-19, tal medida de exigir certificado de vacinação ou comprovante de resultado negativo para a doença é inconstitucional. As igrejas têm mantido todo o cuidado sanitário necessário a fim de realizar suas atividades com segurança", afirmou a instituição em nota.
Controvérsias
O governador Paulo Câmara foi alvo de muitas polêmicas e críticas neste período de pandemia. Uma delas foi quando ele destinou R$ 70 milhões enviados pelo governo federal para combater a pandemia para pagar uma dívida pública do estado. "Vale lembrar que ele foi alvo de inquérito do Ministério Público Federal porque transferiu esse dinheiro – que era fonte de recursos para o enfrentamento do coronavírus – para a Secretaria Estadual da Fazenda", lembra o sociólogo Thiago Cortês.
Além disso, no mesmo período, Câmara processou criminalmente um estudante do Recife, David Alves, pelo fato de o jovem ter uma página em que fazia sátiras políticas. "Eu não ofendi ninguém, só fazia críticas com humor. Perguntaram se eu era filiado a algum partido político, eu disse que não. Depois sugeriram que eu fizesse um vídeo pedindo desculpas ao governador, mas eu me recusei, afinal não havia feito nada de errado. Se tivesse feito uma ofensa ou calúnia contra ele, poderia até entender esse processo. Mas não houve nada disso. Por favor, me ajudem", clamou na época o estudante em seu perfil na rede social.
Radicalismo ou perseguição?
Diante de tal cenário, fica o questionamento: será que o Carnaval terá essa mesma obrigação? A forma como essa fiscalização vem sendo implementada é correta e justa?
"Em vez de promover ações que reforcem a rede básica de saúde, esse governador prefere tomar uma atitude midiática que podemos classificar como sinalização de virtude, no sentido de querer demonstrar uma postura de gestor responsável com medidas exageradas de restrição", conclui Cortês.
Como já disse neste blog, essa exigência, além de promover o constrangimento e o preconceito, transmite a imagem errada de que aqueles que estão vacinados não transmitem a doença, o que é mentira. Diversos estudos já alertaram para o fato de que os imunizantes visam a reduzir a gravidade do efeito da Covid-19 no organismo mas não bloqueiam sua transmissão.
Por isso, não podemos ser vencidos pelo medo e aceitar qualquer tipo de obrigação. Precisamos questionar, usar a razão e buscar respostas concretas.
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