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Refletindo Sobre a Notícia

Retorno de Lula e Foro de São Paulo: democracia sob ameaça

Fundado em 1990 pelo petista e Fidel Castro, organização reúne partidos e tem objetivos ideológicos questionáveis 

Refletindo Sobre a Notícia por Ana Carolina Cury|Do R7 e Ana Carolina Cury

No início da década de 1990, após a queda do Muro de Berlim e, consequentemente, a derrota do socialismo soviético, os partidos políticos de esquerda da América Latina se reuniram para decidir o que fazer para fortalecer seus ideais. Foi quando, por uma iniciativa de Lula e o então presidente de Cuba, Fidel Castro, nasceu o que se tornaria o chamado Foro de São Paulo. A organização existe até os dias de hoje e tem mais de cem partidos e outras organizações políticas.

A promessa inicial era a de restaurar perdas relacionadas ao comunismo na América Latina. As declarações apontavam uma preocupação com a democracia, direitos humanos e soberania popular. Teoria bonita, mas prática totalmente diferente. 

Lula e Fidel Castro idealizaram o Foro de São Paulo
Lula e Fidel Castro idealizaram o Foro de São Paulo

Quando o ditador cubano e Lula propuseram uma reação à queda do Muro de Berlim ficou claro o viés autoritário do Foro. Mais nítido ainda quando analisamos que todos os compromissos citados não foram cumpridos, vide a triste realidade dos povos de Cuba, Venezuela, Nicarágua, entre outros que sofrem com todo tipo de miséria. 

"A verdade é que trata-se de uma organização que une chefes comunistas da América Latina e Caribe. Sua intenção é articular lideranças de resistência e governos constituídos a fim buscar uma hegemonia político-territorial de suas pautas e princípios", explica o filósofo Pedro Henrique Alves.


Recentemente, Lula afirmou que articulou o Foro de São Paulo para moderar a esquerda latino-americana. Mais um discurso questionável. "Foi graças ao Foro que o governo brasileiro, por meio do PT, financiou e ajudou ditaduras que integravam a entidade, como Cuba, Venezuela, Bolívia etc. Quando Lula foi preso em 2018, ficou evidente a articulação da esquerda latino-americana para defender sua imagem internacionalmente. Os líderes comunistas tentaram abafar ou desmentir as revelações e condenações. O PT sempre encontrou proeminência no grupo, pois o Brasil é de longe o mais produtivo e também o mais capaz para ser a 'galinha dos ovos de ouro'. Basta ver como o BNDES atuou nos governos de PT", acrescenta o especialista.

Luiz Inácio Lula da Silva em evento que deu origem ao Foro de São Paulo
Luiz Inácio Lula da Silva em evento que deu origem ao Foro de São Paulo

No Foro de São Paulo, o Brasil é visto como um grande financiador. "Este pode ser o motivo pelo qual os governos petistas investiram pesado na infraestrutura de países cujas economias foram destroçadas pelo socialismo e será o papel que Lula e sua equipe voltarão a exercer no Palácio do Planalto", alerta Alves.


O próprio já mostrou sua admiração pelo PCC, Partido Comunista da China. Inclusive, em nota, o Foro de São Paulo chegou a prestigiar o "camarada" Xi Jinping, afirmando que ele exerceu um "trabalho excepcional para melhorar as condições de vida de seu povo". Elogios e mais elogios para um governo que viola constantemente os direitos humanos de sua população.

Perigo democrático


Os líderes comunistas acreditam ter encontrado um lugar "perfeito" para o reflorescimento político de suas causas. Ao contrário do que foi o comunismo da primeira metade do século XX, o comunismo latino-americano passou a ter uma outra visão de 'tomada de poder': por meio dos próprios meios 'democráticos', conseguindo, assim, que seus líderes e expoentes fossem eleitos. Isso ocorreu na Venezuela, Nicarágua, e recentemente na Colômbia e Chile.

"Está mais do que claro que o Foro visa aparelhar as instituições. Trata-se, como teorizou Antonio Gramsci, de um golpe silencioso e sistêmico. O que se prega é uma perpetuação ideológica no continente. Infelizmente, o PT conseguiu infiltrar seus agentes nas instituições. Eles são fieis às suas ideologias, e não à democracia e à constituição. Acredito que o PT vem para terminar o serviço, alinhar o restante da máquina pública à sua visão e gerenciar uma estratégia de hegemonia política no país, o que acredito ser muito difícil, ainda que possível", reflete o filósofo.

Pós-eleição

Com a vitória de Lula no pleito, os líderes comunistas da América Latina se reuniram rapidamente com o novo presidente e seus assessores afim de garantirem, segundo eles próprios, uma rápida retomada nas articulações políticas e econômicas entre os países. 

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, e o presidente eleito do Brasil, Lula
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, e o presidente eleito do Brasil, Lula

"O que assistiremos após a posse de Lula é uma rápida volta nas relações unilaterais entre os partidos e os governos comunistas", critica Alves.

Alerta importante

Se Lula tentará um governo de permanência não sabemos ainda. "Mas é fato que ele visa uma perpetuação ideológica nas instituições. O STF é inteiro dele, por exemplo, e se o STF é seu servo, quase nada importa que o congresso seja conservador. E isso basta para que Lula faça o que ele veio fazer", destaca Pedro Henrique Alves.

Para ele, a direita deve urgentemente se organizar como uma resistência democrática às pautas da esquerda. "A direita padece da falta de organização e suas vitórias foram mais um impulso gerado pelas revoltas populares e corrupções descobertas do que por organização política e clareza ideológica. Uma aliança é a única forma de contrapor efetivamente as investidas judiciais e, talvez até, antidemocráticas do novo poder. Enquanto não se vencer a esquerda no campo cultural e social, as vitórias da direita serão relâmpagos. Durante mais de uma década o Foro de São Paulo teve a chance de crescer, se articular e angariar países. Cair novamente no erro de subestimar a organização e competência dessa organização é uma burrice consentida".

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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