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Trilha do Agro

Ataques a soja do Brasil empurram produtores rumo a uma “crise”

Críticas e denúncias impactam sojicultores em período de queda na produção, baixa de preços e redução das exportações.

Trilha do Agro|Valter Puga JrOpens in new window

A Danone não compra mais soja brasileira... Desvio de 16% do crédito rural concedido para plantio de soja... PIB da cadeia de soja e biodiesel cai quase 6% este ano... A soja, o carro-chefe do agronegócio brasileiro, é o mais novo alvo das críticas e das notícias ruins que, vez ou outra, assombram a agropecuária e a agroindústria do país, alimentando uma imagem negativa do setor, seja aqui ou lá fora.

Esta semana, as agências internacionais de notícias repercutem o que a Danone, centenária empresa de alimentos francesa com atuação em mais de 120 países (desde os anos 70 no Brasil), anunciou: não compra soja brasileira por conta do desmatamento em áreas que os europeus julgam que deveriam ser preservadas (aliás leis ainda sem aprovação no Parlamento Europeu).

Várias empresas multinacionais como Nestlé e Unilever já fogem das multas bilionárias com receio da nova legislação em discussão na Europa.

Via Aprosoja Brasil, os produtores denunciaram discriminação ilegal contra produtos brasileiros e exigiram do Governo Federal uma ação de ressarcimento pelas perdas causadas ao setor, propondo inclusive um boicote aos produtos da Danone no Brasil.


A imediata reação do Ministério da Agricultura enfatizou que o Brasil não aceita “regulamentações que ignorem nossos avanços ambientais e sociais, ao impor restrições desproporcionais a produtos brasileiros”. Mais: o Governo Federal criticou empresas que “comprometem o entendimento dos consumidores sobre a real dimensão da segurança alimentar, baseada na produção sustentável enas negociações internacionais”. Deu algum resultado?

A Danone Brasil emitiu nota assegurando que continuará comprando soja brasileira, mas não houve manifestação da matriz europeia da empresa. O dano para a imagem do Brasil ainda carece de avaliação, mas é certo que deixa outra cicatriz.


Desvio de crédito na sojicultura – Enquanto sojicultores e o Governo Federal se mobilizam nessa batalha com empresas europeias, o Serasa Experian informava que 24% das operações de crédito com recursos do Plano Safra 2022/23 destinados ao custeio do plantio de soja foram desviadas para cultivos diferentes do contratado junto aos bancos. Mais: há áreas com plantio menor do que o previsto. Pior: após analisar dados de quase 4 milhões de hectares via satélite, algumas áreas financiadas sequer foram plantadas.

As estimativas do Serasa Experian indicam que cerca de R$ 3 bilhões em crédito concedido para custeio do plantio de soja estão sob risco de calote.


Mesmo considerando uma margem de erro de 10% da área de produção, e que boa parte do crédito foi usado corretamente, fica claro que é necessário analisar com cuidado a aprovação de crédito para produtores rurais. Outro arranhão na imagem do agronegócio.

Notícias ruins em momento ruim – As noticias e informações negativas chegam ao mercado da soja num período desfavorável. Após um crescimento de 22% em 2023, a quebra de safra traz este ano traz o PIB da cadeia da soja e do biodiesel em baixa de quase 6% (pouco acima de R$ 521 bilhões).

Estudos de dados do segundo trimestre deste ano, feitos pelo Cepea/USP, mostram que o complexo soja sofre baixa frente a 2023. Os preços relativos do setor caíram 17,1%, reduzindo a renda real em quase 22%. Análise do segundo trimestre de 2024 mostra também que o número de pessoas ocupadas na cadeia de soja e biodiesel tende a cair 4% em relação ao mesmo trimestre de 2023 -- com um total de 2,24 milhões de trabalhadores.

O volume das exportações da cadeia de soja e do biodiesel no segundo trimestre de 2024 – aí inclusos soja in natura, farelo de soja, óleo de soja, glicerol, biodiesel e proteína de soja -- totalizou 48,98 milhões de toneladas, ou redução de 3,71% na comparação com o mesmo trimestre de 2023. E o valor exportado caiu quase 21% (cerca de US$ 24,24 bilhões). Este ano o Brasil produziu menos soja, os preços estão mais baixos e há desaceleração das exportações. Atenuam esses números negativos o bom desempenho esperado para a indústria, em especial a do biodiesel, que pode aumentar 26,92%. Falta pouco para desencadear uma “crise” na área.

Pouco há de bom nos números -- Apesar da queda, o PIB da cadeia ainda se mantém anterior ao período da pandemia: cerca de 20,8% do PIB do agronegócio nacional e 4,5% da economia brasileira como um todo, dizem pesquisadores do Cepea/USP.

Os mercados interno e externo exigem muito trabalho dos agropecuaristas, dentro e fora da porteira, e das agroindústrias, o que o país faz. O agronegócio brasileiro passou por crises e solavancos no passado, como o caso da vaca louca; da Febre Aftosa; enfrenta no dia-a-dia guerrilhas por excesso de agroquímicos nos hortifrútis; pela emissão de gases do gado bovino; pelo desmatamento; e, pelos os incêndios criminosos. Mas ao falhar no acompanhamento rigoroso das atividades e na comunicação com a sociedade, o setor continua vulnerável.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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