Boi pronto para abate volta a R$ 300 reais a arroba. Vem aí aumento de preços nas carnes
Oferta restrita de gado eleva os preços e os frigoríficos mantém com dificuldade as escalas de abate
Se comer carne foi cada dia mais caro este ano, prepare-se: os preços devem avançar um pouco mais. Nos últimos 12 meses, os cortes de carne bovina no atacado aumentaram: os preços do acém subiram 20,90%, os da alcatra 6,86%, os do contra-filé 10,26% e o coxão duro aumentou 13,24%, segundo dados do Instituto de Economia Agrícola de São Paulo, o IEA-SP. E caso sejam repassados ao consumidor as recentes altas de preços do boi gordo - animal pronto para abate nos frigoríficos --, as carnes terão preços mais altos para os consumidores. “Se a alta da carne bovina ainda não chegou ao consumidor, é certo que vai chegar”, diz Thiago Bernardini, pesquisador do Cepea, da Universidade de São Paulo.
Os valores pagos aos pecuaristas pelo boi gordo sobem seguidamente nos últimos dois meses e esta semana ultrapassaram a faixa de R$ 300,00 a arroba em São Paulo, o que não ocorria desde fevereiro de 2023, como aponta o Cepea. Com pouca oferta de gado, os frigoríficos melhoraram os preços aos pecuaristas, enquanto os consumidores voltavam as compras. A situação agora está mudando.
Boi sobe mais que a carne-- A elevação dos preços do boi gordo e da carne bovina caminharam juntos nos últimos dois meses. De 15 de agosto para cá, o Indicador Boi/ Cepea avançou 29% em São Paulo, saltando de R$ 233 para R$ 300 a arroba, enquanto a carne com osso no atacado da Grande São Paulo subia 28,1%, saindo R$ 16,40 para R$ 21,01 o quilo em média, preço à vista da carcaça casada bovina.
São altas semelhantes, a princípio, mas quando os pesquisadores analisam as chamadas médias mensais, os números mostram que o mercado atacadista já não acompanha a alta dos preços do boi. Até o dia 16 de outubro, o preço do boi gordo subiu 14,4% em relação à média de setembro, enquanto a carcaça casada bovina negociada na Grande São Paulo aumentou 11,7%, ou seja, uma alta menor (em média a R$ 20,05 o quilo à vista), sinalizando que os atacadistas relutam em assimilar a alta do boi gordo, o que preocupa a indústria frigorífica.
Diminuiu a oferta de boi no mercado– A oferta de boi pronto para abate no mercado caiu, e em algumas regiões do país há frigoríficos com programação de abate para apenas quatro dias, o que contribuipara manter os preços do boi e da carne no atacado. Mas enquanto as exportações brasileiras seguem aquecidas com a oferta mundial limitada, as vendas no mercado interno dão sinais de enfraquecimento, sobretudo diante das recentes valorizações do produto.
Para pesquisadores do Cepea, o Brasil vive uma virada do ciclo pecuário. “A intensidade e a duração das altas dos preços da carne, do boi e demais categorias animais vêm surpreendendo, pode-se dizer, todos os analistas. E essa mudança significativa das cotações do boi tem impactado a indústria. Mesmo com a carne em elevação, cálculos mostram que a margem dos frigoríficos diminuiu”, diz a nota do Cepea.
Os valores do boi gordo no mercado futuro da B3 até agosto deste ano comprovam a distância entre o que estimavam os operadores para esta entressafra e os patamares que foram confirmados. Em meados de agosto, o contrato futuro com vencimento em outubro deste ano, por exemplo, era negociado por volta de R$ 241, a arroba. Nesta semana, o ajuste desse contrato foi a R$ 310, fechando acima de R$ 308 a arroba, uma diferença de 28% em dois meses.
Indústria preocupada com a alta do boi– A indústria frigorífica reluta em oferecer preços maiores ao pecuarista, enquanto aguarda a entrada de gado dos confinamentos, já negociada antecipadamente, procurando aliviar a compra de gado no mercado àvista. Mas os preços continuam subindo na maioria das praças de negociação de gado.
Esta semana, as negociações com boi gordo em São Paulo oscilaram entre R$ 294 e R$ 312 (valores à vista, já descontado o Funrural), e o avanço do Indicador Boi do Cepea na parcial de outubro supera 10%. Há negócios acima de R$ 290 a arroba nos estados do Paraná e Minas Gerais, e de R$ 300,00 no Mato Grosso do Sul e Goiás. No mercado de carne bovina, a chamada carcaça casadacom osso no atacado da Grande São Paulo acumula acréscimo de 12,4% na parcial deste mês, com média à vista de R$ 21,01 o quilo (dados do dia 16/10). Carne está em alta, mas boi sobe mais.
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