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Trilha do Agro

Consumidor brasileiro foge do feijão; e o produtor rural também

Brasileiro paga caro e produtor ganha pouco; saída é produzir para exportar

Trilha do Agro|Valter Puga Jr. e Valter Puga Jr

Consumo de feijão desaba no Brasil e o produtor rural migra para cultura de soja e milho
Consumo de feijão desaba no Brasil e o produtor rural migra para cultura de soja e milho Freepik

Para alívio dos consumidores brasileiros e, em especial, para as famílias das camadas mais pobres, os preços dos alimentos cederam em 2023, ano de outra safra agrícola recorde. Mas esse alívio nos preços ficou longe do “feijãozinho” do dia-a-dia nas mesas brasileiras.

A inflação no Brasil fechou 2023 em 4,62%, contrariando previsões pessimistas, graças, em grande parte, a queda de 0,5% nos custos com alimentação no domicílio, como aponta o IBGE, que apura o Índice de Preços do Consumidor Amplo (o IPCA).

Nos últimos três meses de 2023, o clima não ajudou o produtor no campo e os preços de legumes, frutas, batata, cereais e arroz subiram, como explicou André Almeida, gerente do IPCA.

E O FEIJÃO DO DIA-A-DIA?


No Paraná, maior produtor de feijões do Brasil, em novembro a Secretaria de Agricultura alertou para o risco de queda na produção. E o feijão não escapou do movimento: aumentou quase 14%, segundo o IBGE.

O brasileiro entrou 2024 pagando entre R$ 6,00 e R$ 9,00 o quilo do feijão “carioca” na Grande SP, enquanto o produtor rural de Goiás já negociava a saca de 60 quilos de feijão (cores) por R$ 350,00, alta de 25% em janeiro segundo a Bolsa Brasileira de Mercadorias, a BBM. 


O plantio cresce. Em 2024, estima-se área plantada 4% maior e produção de mais 4,2% em relação 2023, o que levaria a produção brasileira de feijões (todos os tipos, em três safras) para cerca de 3,1 milhões de toneladas. Isso, no entanto, não muda preços. Continuará caro.

FEIJÃO SOME DA MESA


Os brasileiros não comem feijões hoje como seus pais e avós, e os produtores rurais perdem o interesse na cultura. Alguns fatores explicam as mudanças.

O consumo desabou. No Brasil, em média cada habitante comia 25 quilos de feijão por ano até os anos 70. Mas caiu para 14 quilos nos anos 2000, ensaiou recuperação entre 2006 e 2007, e de lá para cá recuou a 12/13 quilos por habitante ano.

É fenômeno reconhecido que com a melhoria na renda de uma determinada faixa da população, o consumo de proteína vegetal recue, ao mesmo tempo que a demanda por proteína animal avance, lembra Alcido Elenor Wander, pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, em Goiás. E produto caro é mais estímulo para mudança.

No Brasil, a queda no consumo de feijão acentuou a partir de 2016. Foi ano em que a produção foi 600 mil toneladas menor que a média, a saca de 60 quilos disparou para R$ 600,00 no campo e o brasileiro pagou até R$ 20,00 o quilo do feijão “carioca” nos supermercados. Ano atípico e desanimador para o consumidor.

FEIJÃO CARIOCA É ARMADILHA

O brasileiro come feijão, sim, mas 60% do que consome é feijão “carioca”, o que faz o produtor rural refém de um produto que só tem mercado no Brasil. Feijão não é commodity, não é cotado em bolsa. Produto agrícola “com pouco tempo de prateleira” (muda de cor, endurece, demora mais para cozimento), o feijão exige colheita e venda rápidas. Se a produção aumenta, o preço cai. Se não há como exportar, “o produtor cai numa armadilha”, diz Alcido Wander.

Além disso, há muita informalidade e sonegação. Falta transparência no mercado. Por isso, na região Sudoeste de São Paulo, de onde outrora vinha grande parte do feijão consumido, 9 em cada 10 produtores deixaram a cultura. “Migraram para soja e milho”, conta o agrônomo Nelson Meira, do Centro de Sementes da CATI, mantido pelo governo paulista em Itapetininga.

Mas o Brasil procura escapar da armadilha do feijão “carioca”. O mundo demanda feijões vermelho, branco, preto, rajado e caupi, que o país produz. Embora embarque feijões para 65 países, a exportação é pequena: menos de 10% do que produzido anualmente, cerca de 200 mil toneladas. 

“Precisamos estimular a produção e a exportação”, defende Marcelo Luders, do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), que com apoio da Apex — agência de incentivo a exportação — e auxílio do Governo Federal, pretende reunir 300 exportadores e importadores em Brasília, no próximo mês de abril. Uma rodada de negócios.

Enquanto produtores e comerciantes buscam compradores de feijões no mercado internacional, o brasileiro procura alimentos mais baratos. Com a redução do consumo e riscos no mercado, o produtor rural foge do feijão e corre para os bons preços da soja e do milho.

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MILHO PARA O NORDESTE – O Governo Federal quer remover pelo menos 9,2 mil tons de milho dos estoques públicos armazenados em Goiás para o Nordeste, facilitando acesso de pequenos e médios criadores. Nesta quinta-feira, dia 8, a Conab fará leilão de fretes, contratando transporte para o Piauí, Paraíba, e regiões de Goiânia e DF. Transportadores interessados devem ter registro no Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores.

CRÉDITO AO PRODUTOR VIA BNDES – O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ampliou em R$ 4 bilhões o financiamento para produtores rurais e cooperativas com receitas e contratos em dólar. A taxa é de 7,59% ao ano

Agora pessoas físicas vinculadas a uma cooperativa de crédito ou banco cooperativo podem acessar recursos do BNDES Procapcred, que dispõe de R$ 2 bilhões, “desde que natural, residente e domiciliada no Brasil”, ressalta o Ministério da Agricultura.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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