De olho em negociações antecipadas, agricultores apostam na indústria de etanol de milho
A produção de etanol de milho cresce rapidamente no Brasil e já altera equilíbrio do mercado de biocombustíveis
Trilha do Agro|Valter Puga Jr e Sandra Santos
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Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

Produzir milho para a fabricação de etanol tem sido a alternativa que produtores rurais vislumbram para reduzir, pelo menos em parte, o chamado risco de mercado. Entusiasmados com o crescimento do número de usinas de etanol de milho no Brasil, agricultores do Centro-Oeste e Nordeste investem na expansão das lavouras com a expectativa de demanda crescente nos próximos anos.
São estimulados principalmente por “contratos a termo” oferecidos pela indústria, ou seja, negociações antecipadas estabelecendo volume e preços, que aumentam a previsibilidade.
“Mesmo em regiões onde o clima não favorece, há agricultores investindo em irrigação para produzir milho em duas safras”, lembra Lucilio Alves, pesquisador do Cepea/USP
O crescimento da indústria de etanol de milho no país surpreende. Atualmente são 25 usinas de etanol de milho em operação, outras 18 plantas em construção e 19 em fase de projeto.
A Consultoria Datagro estima que já em 2026 essas indústrias despejem mais de 10 bilhões de litros de etanol no mercado brasileiro, e em 2027 aumentem a oferta para 13,5 bilhões de litros.
Nesse ritmo de expansão, em 2035 as usinas brasileiras de etanol de milho estarão produzindo 25 bilhões de litros anuais e processando 56,6 milhões de toneladas de milho. São essas projeções que movem os agricultores.
Etanol sustenta preço do milho
No Mato Grosso, por exemplo, onde a colheita gerou 55,4 milhões de toneladas de milho em 2024/25, cerca de 17,6 milhões de toneladas foram destinadas ao consumo interno do estado e, desse total, perto de 76% destinada à indústria de etanol (13,3 milhões de toneladas).
Com perspectivas de crescimento da demanda, da adoção de novas tecnologias, da conversão de pastagens degradadas e confiantes nas compras da indústria de etanol, os agricultores mato-grossenses investem em milho.
As projeções indicam que em 10 anos o Mato Grosso produzirá 80 milhões de toneladas de milho por ano. “O etanol de milho veio como nova frente de consumo. E a queda de preços quando ocorre é mais branda”, diz Rodrigo Silva, coordenador de Inteligência de Mercado do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, o IMEA.
De outro lado, os investidores dessas novas usinas veem — mais do que a demanda por biocombustíveis — a vantagem da receita adicional gerada pelo DDG, um subproduto da produção de etanol de milho usado na nutrição animal, com a possibilidade de exportação principalmente para a China. Assim, a indústria de etanol de milho se espalha por sete estados (MT, GO, MS, PR, AL, MA e SP), aumentando a oferta do biocombustível no país.
É preciso aumentar consumo
Essa rápida expansão do etanol de milho altera a escala de produção nacional e influencia o equilíbrio entre oferta e demanda de biocombustíveis, destacou Plínio Nastari, presidente da Datagro, na 25ª Conferência Internacional sobre Açúcar e Etanol, em outubro.
Ele prevê que, em menos de uma década, a produção de etanol de milho será equivalente à quantidade de etanol de cana nesta safra 2025/2026 (26 bilhões de litros). A produção cresce, mas o consumo nem tanto.
Há riscos de descasamento entre aumento da oferta e demanda potencial de etanol. Para Nastari, “ainda é baixa a penetração do etanol hidratado no consumo da frota flex e persiste baixo o conhecimento, o reconhecimento e a valorização dos atributos pelos consumidores e pela sociedade”.
Além disso, a possibilidade de abertura de importação de etanol pelo Brasil e o aumento crescente da frota de carros elétricos no país (hoje 10,2% do total das vendas de novos automóveis) são aspectos que exigem atenção de produtores e industriais.
Embora o Brasil tenha possibilidade de ampliar o uso interno de etanol — já que somente 27% da frota flex utiliza etanol hidratado regularmente —, na conferência de outubro ficou claro que as exportações e o acesso do Brasil a novos mercados internacionais para DDG, etanol e açúcar, serão determinantes para o equilíbrio e a rentabilidade do setor sucroenergético.
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