Preço do alho cai com entrada de produto de Minas Gerais e Goiás
Brasil produz só 62% do alho que consome e importa da Argentina e da China para atender consumidor
Os preços pagos aos produtores brasileiros de alho recuaram nos últimos três meses. É que há oferta maior de alho nacional, com a colheita em Minas Gerais e Goiás.
“De fato os preços começaram a cair a partir de junho e julho com a colheita do Centro-Oeste”, disse Rafael Corsino, presidente da Anapa, a Associação Nacional dos Produtores de Alho. E a queda foi acentuada.
Como consequência da maior oferta, já que Minas e Goiás – os maiores produtores de alho do Brasil – iniciaram a colheita em junho, a cotação do produto no atacado cedeu nos grandes centros de comercialização.
No Ceagesp, entreposto de São Paulo, no final de junho o quilo do alho tipo 7 no atacado estava cotado em média a R$ 33,60, mas em meados de setembro já recuava para R$ 28,53 em média, baixa de aproximadamente 22%.
E o produtor também amargou recuo dos preços: em junho no campo as vendas estavam na faixa R$ 23,00 o quilo (no mínimo R$ 22,00), mas na primeira quinzena de setembro não passava de R$ 18,00, ou seja, também cerca de 22% menos.
Brasileiro consome muito alho
Em média, os brasileiros consomem 2,5 milhões de caixas de alho de dez quilos todo mês, um consumo anual de mais ou menos 30 milhões de caixas, segundo estimativa da associação dos produtores.
A produção, no entanto, não acompanha essa demanda. Em 2023, o país teria produzido apenas 18,5 milhões de caixas, ou 61% do que consome. Outras 12 milhões de caixas vieram de fora. Essa dependência de importação, no entanto, já foi maior.
Aliás, o Brasil tem sido um dos grandes importadores mundiais de alho. Em 2019, o país foi segundo maior comprador no mercado internacional, respondendo por 8% das importações totais do planeta.
De 2019 a 2023, as compras no Exterior diminuíram em mais de 30%, segundo a Conab, a Companhia Nacional de Abastecimento. É que a produção no país aumentou.
A produção brasileira evoluiu 52,4% entre 2018 e 2022, graças à tecnologia de alho-semente livre de vírus (ALV), desenvolvida pelo programa de melhoramento genético da Embrapa Hortaliças, em parceria com a Anapa.
“Essa tecnologia consiste em retirar todo o complexo viral do alho. A planta se regenera e produz muito mais que uma planta com vírus”, explica Corsino, que é também é produtor num Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal, próximo a Cristalina (GO).
Com a tecnologia ALV a produtividade saltou de 12/14 toneladas para 20 e até 25 toneladas por hectare. “Cerca de 10 anos atrás o Brasil só conseguia produzir 25% de seu próprio consumo; e nós quase chegamos a produzir 70% em 2022″, lembra Corsino. Mesmo assim o país continua dependendo de importação.
Brasil depende do alho argentino
As compras brasileiras de alho no Exterior ocorrem principalmente nos primeiros meses do ano, já que os maiores estados produtores, Minas Gerais e Goiás, só começam colher a partir de junho. Este ano, dados da Conab apontam importação em média de mais de 1,55 milhão de caixas de 10 quilos por mês até junho.
A Argentina tem sido a grande fornecedora de alho para o Brasil. Nos últimos cinco anos, respondeu por quase 59% do produto que o país importou e aumentou em 11,8% seu fornecimento para o mercado nacional.
Entre 2019 e 2023, a China forneceu quase 33% do total, mas vem reduzindo suas vendas em quase 60%. Entre os cinco maiores fornecedores, a Espanha respondeu por 5% nos últimos anos, mas vem diminuindo as suas vendas.
Como alguns países diminuem a oferta, a Argentina avança no mercado brasileiro. Segundo a Conab, em 2024 esse país forneceu quase 83% de todo alho importado.
E os produtores brasileiros do Sul sentem, ano a ano, a invasão do alho argentino no Brasil e diminuem a área plantada, como lembra Everson Tagliari, presidente da Associação Catarinense dos Produtores de Alho.
Colaborou Lucas Limão
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