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Trilha do Agro

Produção de mandioca diminui e agricultores migram para outras culturas

Com a alta nos custos e clima desfavorável, produtores de mandioca reduzem a área plantada. E o preço sobe no campo

Trilha do Agro|Valter Puga JrOpens in new window

Produtores de mandioca reduzem a área plantada LUCIANO COCA/ESTADÃO CONTEÚDO

O produtor de mandioca procura alternativas de rentabilidade em outras culturas e reduz ano a ano a área plantada. No ano passado o inverno atrapalhou: a planta usou reservas de amido e desenvolveu pouco. E com os preços dos insumos aumentando, o produtor reduziu mais uma vez a área plantada, o que tem sido recorrente.

A área destinada ao cultivo de mandioca no Brasil vem encolhendo nos últimos 20 anos. Dados do IBGE mostram que de 2000 para cá a área plantada com mandioca diminuiu 2,0% ao ano, reduzindo a produção em média 1,5% todo ano, relata Fábio Isaias Felipe, pesquisador do Cepea.

Este ano, o aumento dos custos com insumos impulsionou a migração dos produtores de mandioca para outras culturas, conta Aguinaldo Lima, que também é produtor em Juquiá (SP).

Para piorar a situação, o clima não ajudou. “A mandioca precisa de água nos primeiros 90 dias, quando realiza o desenvolvimento da raiz, e como este ano o regime de chuvas não ajudou, a produção foi menor”, disse ele. Com oferta menor, os preços subiram.


Na região de Ivinhema (MS), em junho o produtor recebia R$ 386,15 pela tonelada de mandioca entregue na fecularia. Em agosto o preço pago foi 31%maior, em média R$ 506,48 por tonelada.

Na região de Araruna, no Centro-Oeste do Paraná, entre junho e agosto a cotação média saltou de R$ 451,28 para R$ 539,02 a tonelada, aumento de 19%, segundo apurou o Cepea/USP. Em setembro os preços subiram mais. Em Araruna, na primeira semana de setembro, o preço da tonelada avançou para R$ 576,44; e em Ivinhema R$ 566,48.


Este mês, a umidade baixa nos solos e as temperaturas elevadas, já causaram perdas em algumas áreas plantadas com mandioca, inclusive exigindo replantio, aponta o Cepea/USP. Os produtores esperam por chuvas, reduzem a colheita, e evitam vendas na expectativa de preços maiores.

Mandioca está 37% mais cara

O Cepea/Usp registrou que, entre os dias 2 e 6 de setembro, o valor médio nominal a prazo da tonelada de mandioca posta fecularia foi de R$ 557,70 a tonelada, ou (R$ 0,9699 por grama de amido), aumento de 3,9% em relação à última semana de agosto.


Desde o dia 10 de maio, quando registrou a cotação mais baixa do ano, até primeira semana de setembro o preço médio da mandioca avançou 37,3%, embora ainda seja 10,4% inferior aos preços nominais do mesmo período do ano passado.

Enquanto os preços da mandioca aumentam, os preços na farinha não avançam na mesma proporção. É que no caso da farinha de mandioca “o varejo não consome tanto”, explica Isaias Felipe, que acompanha o mercado.

Se em junho, na região de Araruna (PR), a farinha de mandioca seca fina era cotada a R$ 110,84 a saca de 50 quilos, em agosto avançava para R$ 113,51, aumento de apenas 2,4%. Na região de Assis (SP), o preço até cedeu: em junho a saca era negociada a R$ 116,13 e recuou em agosto para R$ 112,38, baixa de mais de 3% no preço.

Indústria já pagou mais pela fécula

A demanda das indústrias de alimentos por amidos tem crescido, pois são usados na panificação (bolos e massas), na composição de molhos e de embutidos como salsichas e mortadelas, por exemplo. Essa demanda crescente das indústrias tem estimulado a produção de fécula.

Dados compilados pela Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca, a Abam, e pelo Cepea/Usp mostram que produção brasileira de fécula foi aumentou de 400 mil toneladas em 2000 para 676,70 toneladas em 2023, um crescimento médio de 0,70% ao ano. Estima-se que de janeiro a julho deste ano, volume de fécula produzido já superou 476 mil toneladas.

“Pode ser um dos maiores volumes desde o início da série histórica iniciada em 1990 pelo Cepea/Usp”, diz Isaias. Mas essa demanda firme tem explicação: “A produção de fécula (de mandioca) tem avançado devido ao menor custo de extração”, explica Isaias.

E o aumento de produção tem barateado o custo para as indústrias, que em 2022 pagavam até R$ 5.700,00 por tonelada e hoje pagam perto de R$ 3.000,00.

Apesar desse aumento na produção de fécula, “a produtividade da mandioca no Brasil ainda está abaixo do potencial que se pode obter... Depende de planejamento, pesquisa e gestão, o que, inclusive, pode elevar o nível de competitividade dos amidos derivados da mandioca nos mercados doméstico e internacional”, ressalta o pesquisador.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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