Economia e controle: como fazer o dinheiro durar na quarentena
Com a perspectiva de um isolamento mais duradouro, as responsabilidades podem apertar; veja as recomendações de especialistas para suas economias
Renda Extra|Caio Sandin, do R7
Em um período tão cheio de incertezas, em que muitas pessoas estão reclusas em suas casas, sem saber ao certo como será o próximo mês, o R7 conversou com especialistas em finanças para sanar algumas dúvidas e traz dicas de como fazer seu dinheiro durar toda a quarentena, sem que você tenha que se endividar.
Para o coordenador do MBA em gestão financeira da FGV-RJ, Ricardo Teixeira, a prioridade deve ser manter a cabeça fria, planejar e somente gastar com aquilo que for vital:
“Só gaste o que for necessário, até a situação melhorar. Este não é o momento para você ter nenhum tipo de gasto extraordinário, por menor que seja”.
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O conselho é semelhante ao de Leandro Benincá, educador financeiro da Messem Investimentos, que ressalta a necessidade de manter a calma. “O problema já existe, se você se desesperar, já são dois problemas. Nós não podemos aumentar ainda mais o problema que já temos”.
“É hora de dar uma economizada forte. Cortar tudo que não seja absolutamente necessário. Conversar com todos os credores, seja o banco, a empresa do cartão de crédito, as companhias de luz, telefone e água… A maioria destas empresas estão com medidas de relaxamento desta dívida por algum tempo."
Ele orienta que até mesmo aqueles que tenham dinheiro na mão para pagar estes credores, liguem para tentar uma renegociação:
"Se o seu credor te der um prazo maior para o pagamento, como 60 dias, você pode guardar este dinheiro e, se não precisar para absolutamente nada, daqui a 60 dias você vai lá e paga, tudo certo. Mas se precisar, você tem esta reserva”.
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“Talvez isso seja chover no molhado, mas pode ser que tenha gente que ainda esteja se garantindo, como se, ‘não, isso vai durar pouco, vai ficar tranquilo’. Não. Economize o máximo, o quanto você puder agora, para poder ter dinheiro na mão”, conclui o educador financeiro.
Estocar comida ou guardar dinheiro
Um ponto importante, neste momento, são as reservas, seja de comida, remédios ou dinheiro. Para Teixeira, deve-se ter parcimônia, principalmente, aqueles que receberam algum dinheiro extra às vésperas da quarentena:
“Aquelas pessoas que vão se beneficiar de uma receita inesperada, seja o adiantamento do 13º ou alguma outra verba que o governo está liberando, devem usar este dinheiro para preparar uma reserva de emergência de alimentos e de remédios para aqueles que precisam e usam muitos. Sem precisar fazer grandes estoques, só uma reserva que lhe permita passar alguns dias"
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Neste quesito, Leandro considera que as pessoas estão equivocadas ao estocar grandes quantidades de produtos:
“As pessoas estão fazendo agora é estoque de alimentos, estoque de papel higiênico, estoque de álcool gel. Além de ser prejudicial à sociedade, pois você está tirando das mãos de quem não pode fazer estoque, se você precisar comprar outros itens em mercados ou farmácias, em algum momento mais adiante deste isolamento, eles não irão aceitar o seu estoque de feijão ou papel higiênico, como forma de pagamento"
Os dois concordam, que este é o momento de outro tipo de estoque, o de dinheiro. "Seja em espécie ou em uma conta no banco, para pagamentos com cartão de débito”, comenta Leandro.
E para aqueles que começam a pensar em não quitar os pagamentos das contas para economizar, os dois sugerem o contrário, temendo a criação de um efeito bola de neve:
“Você não paga este mês, aí a quarentena dura até mês que vem. No mês que vem você não tem dinheiro e tem duas contas vencidas. Com duas contas vencidas vai vir o corte do serviço. Aí você está sem dinheiro, sem trabalho e sem energia elétrica. É complicado. Eu acho mais prudente você tentar negociar com todas as concessionárias”, comenta Leandro.
“Seria extremamente desagradável, em uma situação como esta, você ainda ter a sua luz cortada. Então, o melhor é sempre manter estas contas de consumo em dia, a menos que sejam liberadas pelo governo ou pelas empresas responsáveis”, completa Teixeira.
Para empresários, as dicas são as mesmas: cortar custos e negociar. Conversar com fornecedores, com os funcionários, tentando parcelar salários semana a semana, sem que isso atrapalhe no pagamento das contas deles.
Outro conselho do educador financeiro é usar e abusar da criatividade. “Se você é dono de um restaurante ou vende itens perecíveis, tente criar um sistema de pedidos e entregas para sua região, ofereça vouchers de desconto para o futuro, com pagamento imediato”.
Autônomos de quarentena
Os trabalhadores autônomos vivem situação mais complexa, já que, para aqueles que não acumularam uma reserva durante o tempo em que era possível trabalhar, o aperto chega mais rápido. Para eles, Leandro dá as mesmas recomendações de corte de gastos e utilização da criatividade, mas ampliando sua área de possível atuação.
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“O momento atual inviabiliza as práticas de pessoas que trabalham a domicílio, como manicures, massagistas, pintores, mas os clientes, amigos e conhecidos podem ser uma arma e tanto para combater a crise. Tente conversar com eles, oferecendo planos de atendimento com desconto, ou até mesmo um serviço paralelo para o qual se tenha talento".
Ele sugere opções mais tecnológicas para não desanimar na busca por novas oportunidades:
"Olhe seus contatos do celular um a um e tente pensar em algo que você possa oferecer, especificamente, a cada um deles ou que vocês possam fazer juntos para superar este momento difícil”.
Para quem tiver de apelar a empréstimos, Teixeira também recomenda que, primeiro, sejam procuradas as pessoas mais próximas:
“A ajuda não deve ser através da contratação de crédito, onde você vai ter de pagar juros. A primeira coisa que se deve fazer é procurar dentro da família e dos amigos, em cima de um orçamento que você vai fazer e apresentar, demonstrando sua capacidade de pagar este empréstimo no futuro”.
O coordenador do MBA da FGV enxerga um futuro que, apesar de incerto, dá demonstrações otimistas. “A gente tem uma série de notícias que sinalizam que não vai haver uma catástrofe. Por outro lado, a gente tem um horizonte que a gente não consegue ver se vai ter sol ou não vai ter sol, no curto prazo”.
Para que este sol brilhe, são necessárias medidas governamentais logo após a estabilização, com o final da crise:
“A gente precisa que logo depois deste período, tenha um estímulo na economia que permita que as empresas comecem a vender rapidamente. Quando elas começam a vender, elas começam a comprar das indústrias e aí a máquina, como um todo, começa a girar".
Este tipo de incentivo, segundo Teixeira, já está sendo pensado pelo governo:
"A ideia é jogar este dinheiro no momento que as pessoas puderem consumir. Este período em que as pessoas vão estar de quarentena em casa é um momento preparação, como no caso dos R$ 200 para profissionais liberais, que pode soar como pouco, mas é dinheiro que entra na roda da economia. São R$ 15 milhões que vão ser jogados na economia como um todo”.
Mas ele ainda adota um tom moderado: “A gente não vai fazer a economia crescer, mas, ao menos, girar”.
Para encerrar, os dois frisam a necessidade de se manter atento aos gastos e resistir ao máximo às coisas supérfluas:
“As pessoas precisam ser muito comedidas com seus gastos para que consigam atravessar esta crise e para terminar, lá do outro lado, com algum dinheiro na mão. Porque aí não vai ter problema nenhum. Quem, por ventura, venha a perder um emprego, vai conseguir outro”, conclui Teixeira.
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“Os três itens mais importantes a se pensar neste momento são na economia, no sentido de economizar, mesmo; no controle, para saber, exatamente, para onde o dinheiro está indo; e na criatividade, para superar as incertezas e as dificuldades que se apresentarem pelo caminho, tentando coisas novas. A preguiça, a inatividade, neste momento, não ajudam. E ficar em casa chorando só vai te fazer pior”, completa Leandro