Eles conseguiram emprego temporário na pandemia
Com aumento do desemprego e suspensão de contratos de trabalho, modalidade vem sendo alternativa para profissionais manterem renda
Renda Extra|Pietro Otsuka*, do R7
A pandemia de covid-19, provocada pelo novo coronavírus, trouxe um período de insegurança e apreensão tanto em relação à saúde quanto ao futuro no mercado de trabalho dos brasileiros. Os negócios passam por aperto, cortam gastos e pessoas perdem a única fonte de renda.
Neste cenário, o regime de trabalho temporário passou de coadjuvante a protagonista e vem sendo uma alternativa de renda formal para muitos.
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Se em 2019 houve um aumento de 16% no volume de vagas de trabalho temporário, totalizando 1,48 milhões, a tendência de 2020 é que esse número seja avalancado ainda mais com a pandemia.
Ao mesmo tempo que houve um contingenciamento de oportunidades em diversos setores, em outros, houve sim um crescimento da modalidade de empregos temporários, segundo Michelle Karine, porta-voz da Asserttem e ex-presidente da associação.
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“Em setores como saúde, cadeia produtiva, insumos, medicamentos, alimentação, tanto na indústria quanto no comércio, houve um aumento. E eles precisam de mão de obra para poder dar atendimento na capacidade de serviços essenciais”, diz Michelle.
Gestão hospitalar
É o caso de Chrislene Santos Silva, que hoje é a responsável por toda gestão de equipe e controle dos processos de qualidade e produção da cozinha no hospital em que trabalha.
“Foi um momento bem desafiador. A gente está passando por algo que a gente não sabe o que vai ser e como vai ficar. Tudo estava meio incerto, mas eu gosto dessa área, então pensei também como poderia contribuir. Não pensei só no meu ganho pessoal, mas em ajudar também uma área onde a ajuda é necessária. Então coloquei na balança esses dois pontos”, conta.
Chrislene foi desligada de seu último emprego no meio do ano passado e estava desempregada desde então. Além da chance de se recolocar no mercado de trabalho, a gestora vê no emprego temporário mais do que uma oportunidade passageira.
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“É uma grande oportunidade para você estar se revalidando, se reavaliando. As pessoas querem o certo, acham que vão perder tempo em uma oportunidade como essa. Eu acho o contrário. Acredito que é o momento de se mostrar como profissional. Eu vou, faço o meu melhor e, quem sabe num futuro, se eles não me efetivarem ao final do contrato, eles podem me contratar depois”, avalia.
Vaga em farmácia
Assim como Chrislene, outra pessoa que abraçou uma oportunidade temporária é Victor Cavalcante. O jovem estava desempregado desde que concluiu o ensino fundamental e, com o período de crise e instabilidade causado pela pandemia, viu os problemas financeiros de casa se acirrarem.
“Já estava difícil e ficou ainda mais. Acabei de entrar na faculdade e, por estar no primeiro semestre, tenho poucas aulas ainda, então tinha tempo. Falei com meus pais que ia tentar arrumar algo e vi que em algumas áreas a oferta de empregos aumentaria por conta da pandemia”, lembra.
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Depois de algumas semanas, Cavalcante conta que conseguiu se empregar em uma farmácia, na zona norte de São Paulo.
“Está longe de ser minha área%2C mas é uma chance que muitos gostariam de ter%2C tenho certeza disso. Meu contrato vai até o final de julho e%2C além de ser minha primeira experiência como temporário%2C é meu primeiro emprego num geral.”
Emprego temporário supre demanda pontual
O trabalho temporário torna mais fácil a vida não só para o empregador, mas também para o empregado também, de acordo com Michelle.
“É uma modalidade extremamente rápida e flexível, principalmente no prazo de contratação. A empresa contrata aquele profissional qualificado, aquela mão de obra específica, para uma necessidade pontual. Por isso que a essência do trabalho temporário tem sido fundamental no enfrentamento desse cenário, no que diz respeito ao mercado de trabalho”, analisa.
“É uma modalidade, criada em 1974, que deu direito ao profissional de prestar sua qualificação por um período de curto de tempo em uma empresa que tem uma necessidade transitória”, explica.
Segurança do trabalho
O analista de segurança do trabalho, Victor Bocciadi, também retornou ao mercado por meio de uma vaga temporária, após seis meses desempregado.
Atualmente, ele atua na equipe responsável pelas rotinas e indicadores de saúde e segurança do trabalho em uma empresa, mas, acima de tudo, destaca como a oportunidade contribuiu para sua saúde financeira e, principalmente, mental.
“Essa oportunidade está me ajudando bem financeiramente e é um apoio psicológico conseguir uma recolocação neste período atípico.”
Para Chrislene, o lado mental também pesou em sua escolha. Ela conta que, logo após perder o emprego, viu seu pai adoecer e, posteriormente, falecer. Com a pandemia piorando a passos largos no Brasil, era hora de ocupar a cabeça.
“Mentalmente, para mim foi muito bom [conseguir o emprego]. Você sair e ter que trabalhar, apesar de todos os perigos do deslocamento até o local de trabalho e até no hospital mesmo, é melhor do que ficar em casa, sem fazer nada”, diz.
Direitos garantidos por lei
Michelle destaca também a importância de se diferenciar o trabalho temporário de precarização.
Ela explica que o intermédio entre empregador e empregado é feito por uma empresa autorizada pelo Ministério da Economia e, portanto, o trabalhador está duplamente protegido.
“Além da proteção da lei, ele tem da empresa que precisa da mão de obra dele, e dessa agência que faz o intermédio da relação contratual.”
“Para o trabalhador, ele estando sob essa modalidade de contratação formal, no Brasil é determinado que o profissional receba o mesmo equivalente ao profissional efetivo. Então ele tem ali a base salarial protegida, tem direitos trabalhistas como fundo de garantia, contribui para aposentadoria, tem 13º e férias proporcionais. O que difere do CLT é apenas a multa dos 40% do FGTS e o aviso prévio”, completa.
*Estagiário do R7, sob supervisão de Márcia Rodrigues