Bienal do Livro Rio: Edição de 40 anos vai propor "conversas diferentes", diz curadora
Escritora e crítica literária, Stephanie Borges contou que a programação vai valorizar autores nacionais
Rio de Janeiro|PH Rosa, do R7

Valorizar a literatura nacional e discutir temas que nos tornam humanos. Esse é um dos objetivos da Bienal do Livro do Rio de Janeiro, que comemora 40 anos na edição que começa nesta sexta-feira (1º), no Riocentro, na zona oeste. O evento, que tem estimativa de receber 600 mil pessoas, vai apresentar mais de 300 atrações, entre escritores, artistas e pensadores em diferentes mesas e debates.
Ao longo dos dez dias, o público vai poder acompanhar conversas sobre inteligência artificial, sonho, luto e amor, além de explorar diferentes formas de narrativas. Para construir essa programação, a organização montou um conselho curador formado por Clara Alves, autora de livros para o público jovem; Matheus Baldi, jornalista e escritor; e Stephanie Borges, poeta, tradutora, jornalista e crítica literária.
Stephanie conta que, durante a curadoria, cada um acrescentou um pouco do seu olhar.
“O que tentamos fazer foi identificar alguns assuntos que achamos importantes, que vão chamar atenção das pessoas dentro dessa premissa do que nos torna humanos, neste tempo em que se preocupa tanto com inteligência artificial, e propor essas conversas diferentes.”

Ao R7, a poeta disse ter ficado emocionada com o convite para integrar o trio que pensou a programação da Bienal, já que tem uma relação com o evento desde a infância.
“Eu fui para a Bienal pela primeira vez em um passeio da escola, eu devia ter 7 ou 8 anos. Isso foi muito marcante para mim, eu nunca tinha visto tanto livro em um único lugar na minha vida até então.”
Filha de professora da rede pública do Rio, Stephanie sempre foi cercada de livros e se interessava por gibis da Turma da Mônica. Na escola, desenvolveu a escrita e, mais tarde, começou a publicar textos na internet.
“Depois disso, fiquei um tempo sem escrever, até resolver retomar um projeto autoral como poeta e publicar meu primeiro livro, em 2019”, disse.
Talvez Precisemos de um Nome para Isso é o livro lançado pela carioca, que vai mediar três mesas durante o evento. A primeira delas, no domingo (3), debaterá a influência da oralidade na escrita, um ponto importante na obra de Stephanie.
“Eu penso muito nessa questão da oralidade no meu trabalho, já que o poema é uma coisa que geralmente a gente lê em voz alta, né? Acho que tem uma questão de a gente prestar atenção em como as pessoas falam, para que isso seja uma forma de a pessoa se aproximar da poesia.”
Na mesa, Stephanie estará ao lado de José Falero, autor de Os Supridores; Geovani Martins, que lançou, em 2022, seu romance Via Ápia; a escritora de Louças de Família, Eliane Marques; e o autor angolano Ondjaki. Para ela, esse debate é importante para desmistificar a ideia da crítica de que a oralidade é um “problema” para a literatura.
“Eu gosto de usar uma gíria no poema para criar uma expectativa, de fazer referência a um meme, não só para trabalhar o humor, mas também porque essas coisas fazem parte das nossas vidas. A gente está falando de literatura contemporânea. Se eu mando um meme para uma amiga minha, porque eu não vou colocar um meme em um poema?”
Bienal nas escolas
No início de agosto, Stephanie foi convidada pela Bienal para fazer uma oficina de poesia em uma escola municipal em Quintino, bairro da zona norte onde estudou durante a adolescência. Na ação, os alunos do 9º ano da Escola Municipal Oswaldo Teixeira foram estimulados a colocar ideias no papel e recitar seus poemas.
Para a escritora, participar do projeto foi importante para encorajar os jovens a ler e escrever textos com que se identifiquem, para além do que a escola determina.
“O sentido da oficina com eles é muito de dizer: ‘Olha, a escrita é de vocês, sim. Nem todo mundo aqui precisa ser um escritor profissional, mas procurem ter uma relação com a escrita, procurem usar as palavras para se conhecer, para se entender, porque isso vai ser bom para vocês de qualquer maneira’.”