Família de Moïse se reúne com senadores e deputados na OAB-RJ
Representantes de diversos órgãos públicos cobram avanço nas investigações e disponibilização de vídeo que registrou morte
Rio de Janeiro|Victor Tozo*, do R7
Uma comitiva com parlamentares do Senado e da Câmara dos Deputados veio ao Rio de Janeiro para se reunir com a família de Moïse Kabagambe, congolês de 24 anos espancado até a morte em um quiosque na zona oeste da cidade, para cobrar avanços nas investigações do caso.
O encontro, que ocorreu na sede da OAB-RJ (Ordem dos Advogados do Brasil), no centro do Rio, também teve a presença de representantes do governo do estado, da prefeitura, do Ministério Público, da Alerj e da comunidade congolesa no Rio.
Um dos objetivos da visita, que deve durar dois dias, é que os parlamentares cobrem da polícia a disponibilização integral do vídeo que registrou o crime, já solicitada pela OAB. A família também não teve acesso ao inquérito sobre a morte de Moïse, de acordo com o procurador e representante de defesa Rodrigo Mondego.
Responsável pelo caso, o promotor Alexandre Murilo Graça, da 3ª Promotoria de Investigação Penal, garantiu à família do congolês e a Mondego que o MP-RJ apresentará uma denúncia até o início de março.
No Congresso, o pedido para criação imediata de uma comissão temporária externa para acompanhar as investigações foi enviado ao presidente da Câmara, Arthur Lira, e ao governador do Rio, Cláudio Castro, e será submetido ao plenário.
Também foi apresentado um requerimento para a criação da Comissão Mista de Combate ao Racismo. Caso seja aceito pela Câmara, o projeto será responsável por elaborar propostas de combate ao racismo e de promoção da equidade racial no país.
A OAB-RJ citou dados divulgados pelo Atlas da Violência 2021, que revelou que a pessoa negra corre um risco 2,6 vezes maior de ser assassinada no Brasil. Segundo o levantamento, entre 2009 e 2019, enquanto a mortalidade de vítimas não negras caiu 33%, o índice para pessoas negras aumentou 1,6%.
Ainda de acordo com a OAB-RJ, a família de Moïse deve se reunir ainda nesta segunda (14) com representantes da Orla Rio e da Secretaria Municipal de Fazenda e Planejamento para discutir a concessão de outro quiosque, após os parentes terem desistido de assumir o estabelecimento onde o jovem foi morto, por sentirem medo.
Na reunião, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, Álvaro Quintão, comentou a publicação feita no último dia 12 pelo presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, em rede social. Camargo declarou que Moïse era, "em tese, um vagabundo morto por vagabundos mais fortes".
"Quero registrar a minha profunda decepção com esse senhor que preside a Fundação Palmares e que envergonha a fundação desde que surgiu. Esse é só mais um comentário vergonhoso. Depois de Moïse ser espancado até a morte, ele quer espancar a história e a memória dele", disse Quintão.
Em uma postagem nas redes sociais, Mondego também falou sobre o episódio. Afirmou que a família do jovem ficou "estarrecida" com o comentário de Camargo e que a defesa já está estudando medidas cabíveis.
*Estagiário do R7, sob supervisão de Bruna Oliveira