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Marielle ofereceu ajuda a dezenas de famílias de policiais no RJ

À frente da CDH, a então coordenadora orientava familiares de policiais na busca por atendimento psicológico, financeiro e jurídico

Rio de Janeiro|Fabíola Perez, enviada especial do R7 ao Rio de Janeiro

Sala usada por Marielle na Comissão de Direitos Humanos
Sala usada por Marielle na Comissão de Direitos Humanos Sala usada por Marielle na Comissão de Direitos Humanos

Era em uma sala pequena e com lírios sobre a mesa que a então assessora parlamentar Marielle Franco (PSOL) e sua equipe recebiam na CDH (Comissão de Direitos Humanos) da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro pessoas que precisassem de ajuda. Os casos oscilavam de pedidos triviais aos mais emblemáticos. Entre as pessoas que buscavam apoio, estavam os familiares de policiais civis e militares da cidade.

Um dos casos mais significativos para a Comissão foi o do policial civil Eduardo Oliveira. De acordo com o atual coordenador da CDH, Antônio Pedro Soares, ele teria sido executado por um dos colegas. A mãe do policial, Rose Vieira, lembra que Marielle atuou ativamente no acompanhamento do inquérito que investigava a morte de seu filho. Segundo a CDH, foram atendidos dezenas de casos por uma equipe de seis pessoas no período em que Marielle era coordenadora.

Lírios brancos para os encontros
Lírios brancos para os encontros Lírios brancos para os encontros

O então comandante da Polícia Militar, coronel Ibis Pereira, afirma que Marielle fazia um trabalho de acolhimento das famílias de violência policial e dos próprios policiais atingidos pela violência. “Uma das nossas tragédias é ignorar a centralidade dos direitos humanos para a segurança pública no Brasil”, diz. “Aproximar a polícia dos direitos humanos é fundamental para humanizá-la. E ela conseguiu isso com grande sensibilidade e intelectualidade.”

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De acordo com Soares, havia, no início, certa resistência das famílias em procurar o trabalho da Comissão. Com isso, a equipe começou a fazer, em meados de 2013 e 2014, uma busca ativa de famílias de policiais vítimas de violência. “Cada família tem uma necessidade particular. Por isso encaminhávamos para a rede de saúde pública para terem assistência psicológica”, afirma o advogado. “Cobrávamos junto à PM a aceleração das pensões porque muitos tinham filhos, o que deixava a família numa situação difícil.”

Outro caso atendido pela Comissão foi o da soldada Alda Rafael Castilho. Ela morreu após ter sido alvo de um disparo durante um ataque a uma base da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Complexo do Alemão. A família de Alda é acompanhada pela Comissão até hoje.

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Familiares do capitão Uanderson Manoel da Silva, comandante da UPP Nova Brasília, também no Complexo do Alemão, receberam apoio psicológico da Comissão de Marielle. A morte do policial em setembro de 2014 deixou traumas em toda a família. A viúva Bianca Silva chegou a declarar que sua vida havia sido destruída. Segundo psicólogos, a filha do policial desenvolveu transtorno opositor desafiador, que significa ter dificuldades para aceitar ordens.

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O trabalho começou a fluir melhor, segundo Soares, entre os anos de 2015 e 2016. “Começamos a receber mais demandas de familiares de policiais”, afirma. Na outra ponta, o coronel Ibis também recebia em seu gabinete casos de policiais e familiares de servidores que precisavam de atendimento e encaminhava diariamente à Comissão. “Muitas vezes não tínhamos o retorno das famílias, ainda existe muito preconceito dentro da instituição sobre os direitos humanos.”

Ponto de virada

Em 2016, Soares relata que a equipe da Comissão passou a perceber uma mudança na demanda. Pela primeira vez, a equipe percebeu um aumento no número de famílias de policiais que buscavam orientações e apoio psicológico e jurídico da CDH.

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Naquele ano também, a Comissão verificou o aumento no número de mortes de policiais e, segundo Soares, pediu uma reunião com o comando da PM. A audiência só ocorreu no início de 2017 quando pipocavam notícias de novas mortes de policiais. “Nesse encontro, se estabeleceu uma parceria entre a CDH e o comando da PM e foi criado o Protocolo de Fluxo de Atendimento aos familiares de policiais mortos.”

Nesse período, Marielle estava à frente da Câmara Municipal, no cargo de vereadora. “Esse resultado, porém, foi fruto do trabalho de Marielle enquanto uma das coordenadoras da Comissão”, diz Soares. “O objetivo passou a ser mapear familiares de servidores para atender às suas necessidades, como recebimento de pensão, auxílio financeiro, psicológico e jurídico.”

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Para o coronel Ibis, o trabalho de Marielle impactou no entendimento dos policiais sobre o que são os direitos humanos. “Alguns passaram a entender de outra forma”, diz ele. “A política de segurança começa com a defesa dos direitos. Não existe segurança pública sem segurança social.”

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