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Morador diz 'fingir não ver' atuação da milícia em comunidade do Rio

“Tem muita situações que a gente vê e tem que fingir que não viu. Se você falar que viu o miliciano tal, eles vão te procurar"

Rio de Janeiro|Do R7

Suspeitos de controlar comunidade foram alvos da operação de operação
Suspeitos de controlar comunidade foram alvos da operação de operação

A lei do silêncio impera em áreas dominadas pela milícia, como a comunidade de Rio das Pedras, vizinha à Muzema, onde dois prédios desabaram há uma semana, na zona oeste do Rio de Janeiro.

“Nunca vi nada”, “passo o dia todo fora de casa”, “não sei quais são as pessoas” foram algumas respostas que a reportagem do R7 ouviu ao tentar entrevistar moradores sobre a rotina no local.

Um deles, mais antigo, no entanto, aceitou conversar sob a condição de não ser identificado. “Tem milicianos presos e foragidos. Está tudo muito instável. A estrutura é muito grande, tenho muito medo [de falar]”, justificou ele.

Moradores denunciam venda de imóveis sem registros em Rio das Pedras e Muzema 


O morador se refere ao grupo do major da PM Ronald Alves Pereira, preso na Operação Intocáveis, em janeiro deste ano. Já o ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Especiais) Adriano Magalhães da Nóbrega, outro alvo da ação do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) e da Polícia Civil, ainda é procurado.

Denunciados por exploração de vendas ilegais de imóveis e serviços na região, a dupla também é suspeita de chefiar o Escritório do Crime, suposto grupo armado ligado à morte da vereadora Marielle Franco.


Apesar de saber que vive em um ambiente controlado por milicianos, o morador diz que não se sente afetado pela atuação da organização criminosa no dia a dia.

Rio das Pedras fica ao lado da Muzema, onde prédios caíram
Rio das Pedras fica ao lado da Muzema, onde prédios caíram

“Não sei se é porque já estou aqui há um tempo, mas ninguém me cobra taxa. Não é como na Muzema, que quem morava lá tinha que pagar para associação dos moradores para ter a segurança", revela. "Em Rio das Pedras, sei que existem estabelecimentos que eles [a milícia] fazem um 'gato' de luz e você paga R$ 800 por mês. E aí, toda semana passa o rapaz que vai arrecadando R$ 100 ou R$ 150 de cada comerciante, a quantia que ele tiver na hora.”


Entretanto, o morador confirmou que assina o serviço de TV a cabo e internet comercializado pela milícia.

“Antes, a gente pagava R$ 20 pela TV. Mas, não sei muito bem, acho que denunciaram e deu uma confusão. Voltou com preço de R$ 40, continua sendo deles. Acho que fizeram alguma legalização, agora tem até [canais em] HD”, comentou.

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Ele destacou ainda que nunca sofreu ameaças pessoais, mas evita fazer comentários sobre os "chefes locais" com receio de retaliação.

“Tem muita situações que a gente vê e tem que fingir que não viu. Se você falar que viu o miliciano tal, eles vão te procurar. Tem que ter cuidado com o que se fala.”

Por fim, o morador comparou a vivência em uma comunidade controlada pela milícia com áreas dominadas pelo tráfico de drogas. Ele afirmou que os códigos de conduta seguem regras a fim de evitar chamar a atenção do poder público, principalmente, da polícia.

“Eles não gostam que use drogas. Então, avisam uma, duas vezes. Na terceira, morreu. Também não gosta que roubem. Teve um dia que pegaram um celular que um miliciano deixou em um balcão da lanchonete. Aí, olharam as câmeras e levaram na associação dos moradores. Eles identificaram o garoto e deram uma surra.”

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