MPF reconstitui suposta incineração de corpos ocorrida na ditadura em usina de Campos

O Ministério Público Federal reconstituiu, nesta terça-feira (19), em Campos dos Goytacazes, cidade do Norte Fluminense, episódios ocorridos durante a ditadura, quando a usina de açúcar Cambaíba era supostamente usada para incinerar corpos de possíveis vítimas do regime militar, segundo apontou o ex-delegado do Dops (Departamento de Ordem e Política Social) Cláudio Guerra.

A simulação teve a presença do procurador da República Eduardo Santos de Oliveira, responsável pelas investigações e de Cláudio Guerra.

Segundo o MPF, o ex-delegado relatou, em depoimento, que participou da queima de ao menos 12 corpos levados da Casa da Morte, em Petrópolis, região serrana do Rio. Para a reconstituição dos fatos, foram usados manequins. Cláudio Guerra indicou como os corpos eram trazidos e jogados no forno da usina Cambaíba.

Ao descrever Cláudio Guerra, Eduardo Santos de Oliveira destacou que o ex-delegado teve uma postura fria diante da reconstituição. O procurador disse ainda que a incineração de pessoas na usina de açúcar não seria algo impossível de ter ocorrido durante a ditadura e afirmou que vai prosseguir nas investigações sobre o caso.

— Cláudio Guerra, apesar de colaborar, é um assassino frio e confesso. Foi braço do Regime Militar e merece pagar à Justiça por suas atrocidades. A reconstituição mostrou que a queima era possível. Vamos prosseguir nas investigações.

Na ocasião, foram ainda ouvidas outras testemunhas e empregados da usina, que estariam envolvidos na cremação dos corpos. As investigações sobre a incineração de corpos na usina foram abertas em maio de 2012. Na época, foi instaurado procedimento investigatório criminal para apurar declarações do ex-delegado no livro Memórias de uma guerra suja.