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Paes autorizou amigo fazer prédio onde pai mora em área tombada

Ex-prefeito retirou restrição que havia no local permitindo a empresário erguer um edifício com vista para a Lagoa Rodrigo de Freitas

Rio de Janeiro|Sylvestre Serrano, Thiago Samora e Tony Chastinet, da Record TV

Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul do Rio
Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul do Rio

A Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, é patrimônio da cidade que o ex-prefeito Eduardo Paes decidiu dividir com empresários do setor imobiliário: um deles, amigo e doador de campanha. Na área tombada, foi erguido um edifício de luxo. E até o pai do ex-prefeito tem um apartamento no prédio.

Por decisão do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural, a região é tombada. Construir em frente ao espelho d'água só é permitido com autorização da prefeitura.

O ex-prefeito Eduardo Paes não teve dificuldade para resolver esse problema para a empresa interessada. Em uma canetada, Paes derrubou a restrição e autorizou que um antigo casarão viesse abaixo. Foi em 2012. A autorização foi publicada no Diário Oficial da época. Cinco meses depois a demolição foi autorizada.

Com o terreno vago não faltaram interessados em construir nesse espaço. Um grupo que reuniu oito empresários de construtoras diferentes assumiu o projeto de um prédio de seis andares.


Um desses investidores é amigo de Eduardo Paes e um dos maiores doadores de campanhas eleitorais do ex-prefeito.

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Rogério Chor é um homem forte no setor de empreendimentos imobiliários no Rio.


Começou vendendo pequenas casas na zona oeste da cidade. Expandiu os negócios até a zona sul, a região mais valorizada do Rio.

No mesmo ano em que o terreno na Lagoa foi desocupado, Chor foi generoso com Eduardo Paes. O empresário doou do próprio bolso R$ 75 mil para a campanha de reeleição.


O bom relacionamento entre os dois abriu portas na prefeitura para o empresário. Ele passou a atuar no conselho da cidade que criou um Plano de Desenvolvimento para o Rio que iria receber grandes eventos. A construtora dele teria participado da revitalização do porto do Rio de Janeiro e áreas do centro da cidade.

Pai do prefeito comprou apartamento

O edifício da Lagoa foi legalizado em 2016. Um dos seis apartamentos foi comprado por Valmar Paes, pai do ex-prefeito. Na época, ele teria pago R$ 2 milhões — parte, em dinheiro vivo.

O imóvel, no primeiro andar, tem 175 m². Valmar Paes é advogado e já estava na mira do Ministério Público do Rio de Janeiro. Ele teria duas empresas no Panamá, um paraíso fiscal. Entre os sócios está a mulher dele, Consuelo da Costa Paes, mãe do ex-prefeito do Rio.

Somadas, as duas empresas, que teriam capital de cerca de US$ 8 milhões, ou mais de R$ 40 milhões, foram registradas em junho de 2008, como mostram esses documentos que o núcleo de jornalismo investigativo da Record TV teve acesso.

No mercado financeiro, empresas e contas bancárias abertas em paraísos fiscais são chamadas de offshore e seriam usadas para lavagem de dinheiro. Valmar teria fechado as empresas em 2015 e 2019.

Além de Rogério Chor, o círculo de amizades também incluiria Marco Antonio de Lucca. As empresas dele chegaram à prefeitura em 2008, início da gestão de Eduardo Paes.

Em quatro anos, a prefeitura do Rio teria pago R$ 730 milhões a empresa de De Lucca. O empresário que fez fortuna com contratos públicos foi preso em 2017 na Operação Ratatouille. Hoje está em liberdade.

De Lucca foi condenado por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa no esquema comandado pelo ao ex-governador Sérgio Cabral. As propinas pagas pela empresário garantiam contratos para fornecer merenda para escolas e "quentinhas" para presídios do estado. O desvio de dinheiro público chega a R$ 113 milhões.

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