RJ: Paes gastou R$ 6 milhões da Prefeitura com viagens de avião
Ex-prefeito do Rio de Janeiro fez 171 voos entre os anos de 2009 e 2016. E ainda pagou TV a cabo com dinheiro público para ver jogos do Vasco
Rio de Janeiro|Sylvestre Serrano, Thiago Samora e Tony Chastinet, da Record TV
O núcleo de jornalismo investigativo da Record TV teve acesso histórico de viagens de do ex-prefeito Eduardo Paes. Foram 171 voos entre os anos de 2009 e 2016. E não foram vôos econômicos.
Paes gastou, em valores atualizados, R$ 6 milhões com passagens aéreas e fretamentos. A impressionante média de R$ 750 mil por ano. Paes viajou 101 vezes em vôos de carreira. Em 59 ocasiões os vôos foram dentro do país. A ponte aérea Rio-São Paulo era o destino mais comum, além de Brasília.
Em 11 de fevereiro de 2015, Paes gastou mais de R$ 5 mil para viajar com o então vice-governador, Luiz Fernando Pezão. Juntos foram ao Congresso Nacional apoiar o então deputado federal Leonardo Picciani que naquele dia, se tornou líder do MDB.
O motivo da viagem reforça que Eduardo Paes fazia parte de um grupo político que saqueou os cofres públicos do estado do Rio de Janeiro.
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Leonardo Picciani é filho do ex-presidente da Alerj. Jorge Picciani era braço direito do ex-governador Sergio Cabral.
Cabral condenado por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa está em Bangu-8 e Picciani está em prisão domiciliar, condenado pelos mesmos crimes.
Nova York e Tóquio
Fora do país, em outras 42 oportunidades, o ex-prefeito do Rio foi para o exterior. E, desembarcou 13 vezes em Nova York.
Em uma das viagens internacionais, em 2016, Paes pagou R$ 46 mil para ir a Tóquio, no Japão, mesmo preço de uma passagem de primeira classe. O compromisso foi a passagem da sede dos Jogos Olímpicos.
Para o jurista Manoel Peixinho, especialista em direito administrativo, qualquer gestor público deve zelar pelo bom senso.
"Entre viajar de primeira classe ou econômica, onde o povo está pagando: o gestor deve procurar pelo menos a intermediária e não a primeira classe", diz Peixinho. "Ele pode viajar sim, mas não pode fazer a viagem para auferir vantagem, tudo observância do princípio da moralidade e eficiência administrativa".
Segundo as planilhas que o Jornal da Record teve acesso, de cada 10 vôos que o ex-prefeito fez, quatro foram de jatos executivos partindo de um aeroporto na Barra da Tijuca.
Esses vôos foram os mais caros. Teriam custado aos cofres públicos R$ 5,2 milhões, em valores atualizados durante os oito anos da gestão de Eduardo Paes. Os vôos para Brasília predominaram. Foram 42 ou 60% dos embarques.
Jatinho
Em 26 de fevereiro de 2014 mais uma vez o ex-prefeito fretou um jatinho. E foi não barato: quase R$ 90 mil, na época pela exclusividade e conforto de ir e voltar no horário que quiser.
Em 2012, ano de reeleição, foi o período em que Eduardo Paes mais fretou jatos executivos. Tinha pressa para costurar alianças e buscar apoio em são Paulo e na capital do país. Custo total R$ 883 mil.
Dos 70 vôos com jatinhos, Eduardo Paes voou 51 vezes com a mesma operadora. As planilhas apontam que 'B Corporate' foi uma das empresas usadas pelo ex-prefeito.
Na época, ela pertencia ao Grupo Águia do empresário Wagner Abrahão.
Abrahão foi acusado na justiça dos Estados Unidos de intermediar pagamento de propina para ex-presidente da CBF, José Maria Marin.
"Eu vejo antecipadamente que essas viagens foram um exagero", diz Manoel Peixinho. "O ex-prefeito deverá então justificar porque preferiu tantos vôos fretados e não de carreira. O dinheiro é público e não do gestor. Na minha opinião, esse fato deve ser investigado com muita seriedade e o ex-prefeito deverá justificar porque gastou tanto e se for condenado deverá ressarcir aos cofres públicos."
Pay-per-view
Além de voar, o ex-prefeito tinha outra paixão: TV a cabo. Pelo menos é o que mostra a conta da prefeitura enquanto Eduardo Paes despachou no 13º andar de um prédio.
O núcleo de jornalismo investigativo da Record TV teve acesso a fatura de um único mês em 2015, quase R$ 3 mil de entretenimento. Os serviços solicitados pelo ex-prefeito incluíam oito pacotes, cada um com três pontos adicionais que liberavam centenas de canais.
Vascaíno, Paes queria ver os jogos do seu time no sistema pay-per-view. O Vasco foi rebaixado para a Série B naquele ano.
A Ccontroladoria Geral do Município do Rio de Janeiro informou que está fazendo uma auditoria em todos os gastos da gestão de Eduardo Paes. O Grupo Águia, proprietário da 'B Corporate', não retornou o contato do Jornal da Record. Procurado, o ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes não se manifestou.