"Se fôssemos realmente contar as aulas, o ano de 2016 precisaria ser refeito", diz professora da Faetec
Instituição registra alto índice de evasão dos estudantes; servidores estão em greve
Rio de Janeiro|Do R7*
O ano é 2017, mas para os estudantes da rede Faetec (Fundação de Apoio à Escola Técnica) o calendário acadêmico ainda marca 2016. Alunos, professores e servidores estão preocupados com o abandono da Instituição. Salários atrasados, falta de funcionários para realizar a limpeza e preparar a alimentação, mato crescendo e até animais circulando dentro das escolas são alguns dos problemas apontados. Temendo prejuízos, estudantes da Faetec têm optado em deixar a escola. A professora Simone Bastos da Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch, em São Cristóvão, zona norte do Rio, conta que a rede tem registrado números de evasão alarmantes.
— A evasão está muito alta. O Iserj (Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro) registrou saída de 500 alunos em fevereiro. Lá as turmas estão muito enxugadas, a situação da unidade é catastrófica. Às vezes não tem comida, outras vezes não tem funcionários. Muitos contratados foram embora — disse a professora. Ela contou ainda, que novos concursos não são realizados desde 2010. Sem a entrada de profissionais há sete anos, as unidades também estariam com o quadro de profissionais desfalcado.
Quem trabalha hoje na instituição enfrenta muitos desafios, principalmente, com relação a sobrevivência financeira. No final de março, após três meses sem receber, os servidores da Faetec entraram em greve. De acordo com o sindicato, o problema com os salários começou a ser desenhado no final de 2016, quando o Governo do Estado começou a parcelar o pagamento dos servidores. Desde então, o período de atraso foi sendo ampliado e o salário pago em parcelas. Os servidores da Faetec ainda não receberam o 13º salário e nem férias. O último pagamento recebido foi referente ao mês de janeiro, mas a última parcela só foi paga no dia 22 de março. Até a publicação desta matéria, a administração estadual não tinha previsão para iniciar o pagamento de fevereiro.
— A partir do dia 29 de março foi decretado a greve e a partir daí a adesão vem aumentando. Inclusive, tivemos assembleia no dia 5 que confirmou a decisão. Essa é uma luta antiga, a gente já vem brigando com o governo há bastante tempo, pedindo que olhe para a Faetec, que olhe para o sucateamento. O governo está sempre oferecendo alguma coisa, mas ai chega na hora e volta atrás, não tem dinheiro. Estamos vivendo de promessas, o governo dá uma data para pagar, chega na data e não paga — apontou João da Silva, funcionário na unidade de Santa Cruz e dirigente do sindicato dos servidores da Faetec. Para o sindicato, a adesão dos servidores estaduais à greve está em torno de 90%.
Mesmo com a paralisação dos servidores, a Faetec informou que as aulas não foram interrompidas. De acordo com a instituição, apenas a unidade de Volta Redonda, no sul fluminense, aderiu totalmente à greve. Ainda segundo nota, a rede informou que o ano letivo de 2016 está sendo concluído. A partir de maio, novos alunos devem chegar as unidade da Faetec para iniciar o calendário acadêmico deste ano. No último dia 6, a instituição abriu um edital com cerca de cinco mil novas vagas para estudantes do ensino básico, médio e técnico.
No cenário atual a chegada de novos alunos é motivo de preocupação. A docente Simone Bastos e o servidor João da Silva temem que a dificuldade financeira afete a qualidade de ensino aos estudantes.
— Eu não sei como que vai ser. A gente quer que venham novos alunos, mas a gente se pergunta qual situação eles vão encontrar. A gente não sabe nem se vai receber, ele [governador] não anunciou se vai contratar gente — pontuou Simone.
— É mato para todo lado, são animais pastando em todo o campus de Quintino. Tudo sucateado, tudo quebrado, sem condição de nada — ressaltou João.
Ele lembrou também que no início do mês, pais de alunos da Escola Técnica Estadual Ferreira Viana se reuniram em mutirão para fazer a comida na unidade. Os funcionários que cuidavam do serviço foram embora, após vencer o contrato com a empresa responsável. Além de fazer a refeição, o grupo ainda precisou conseguir os alimentos. Ele disse que supermercados, restaurantes e bares próximos da unidade no Maracanã, na zona norte, fizeram doações de mantimentos.
A atitude dos pais demonstra o medo comum na comunidade escolar da Faetec: atrasos e prejuízos na formação. Porém, de acordo com a professora Simone Bastos, por mais que os funcionários se esforcem o impacto negativo aos alunos é inevitável. Ela conta que os problemas nas unidades começaram logo após a categoria voltar da greve, entre março de julho do ano passado.
— O problema é que quando voltamos da greve, um ou dois meses depois as unidades já não estavam funcionando por falta de condições. A Faetec é uma escola que funciona em período integral, o que aconteceu é que desde setembro do ano passado, as unidades passaram a funcionar parcialmente, com aulas apenas de manhã ou apenas a tarde. Se fôssemos realmente contar as aulas, o ano de 2016 precisaria ser refeito — explicou Simone Bastos
A assessoria da rede Faetec informou que a instituição tem se esforçado para tentar colocar as contas em dia e regularizar o calendário acadêmico. "Com a falta de dinheiro nós não tivemos os contratos com terceirizados revistos, mas o presidente da Faetec está tratando disso. O compromisso foi prioritariamente o retorno as aulas e pagamento dos professores que estava em atraso desde dezembro. Vamos ver como vai ficar o repasse dos recursos pra colocar a casa em ordem", informou.
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*Colaborou Jaqueline Suarez, estagiária do R7 Rio