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Um mês após tragédia em Muzema, moradora ainda paga por imóvel

Daniela Andrade perdeu irmã no desabamento e tenta arrecadar dinheiro para pagar dívida de R$ 60 mil; doméstica mora na casa dos patrões

Rio de Janeiro|PH Rosa, do R7

Prédios desabaram e deixaram 24 mortos na Muzema
Prédios desabaram e deixaram 24 mortos na Muzema Prédios desabaram e deixaram 24 mortos na Muzema

Há um mês, o desabamento de dois prédios na comunidade da Muzema deixou 24 pessoas mortas. Os que conseguiram escapar perderam móveis, documentos, moradia, casa e, em alguns casos, familiares e amigos. Esse foi o caso de Daniela Andrade, de 32 anos.

A jovem, que pagou R$ 120 mil pelo imóvel na planta, agora luta para reconstruir a vida e quitar uma dívida de R$ 60 mil que fez com um amigo para pagar seu sonho à vista. Ela conta que comprou em setembro de 2017 e recebeu o apartamento pronto quatro meses depois.

“Eu pude acompanhar a construção e até escolher como eu queria algumas coisas. Quando ele foi entregue, eu comecei a mobiliar e, um mês depois, comecei a dormir lá nos finais de semana”, disse.

Daniela e o filho passavam a semana na Tijuca, na casa onde ela trabalha como doméstica, e voltavam para o apartamento na sexta-feira, depois que o menino de 11 anos saía da escola. Na semana do desabamento, sua irmã estava hospedada em sua casa, e voltaria para a Paraíba no dia da tragédia.

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Além do sonhado apartamento, Daniela também perdeu a irmã, Divina Patrícia, de 39 anos.

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“Eu tinha me programado de ir para casa no dia anterior, mas eu estava muito cansada e não consegui. Ela me ligou e, antes de desligar, disse que me amava muito.”

Na manhã do dia 12, Daniela acordou com outra ligação da irmã, dizendo que estava pegando os documentos porque o prédio estava estalando e todo mundo estava saindo. Na mesma hora, a doméstica chamou um carro por aplicativo e foi ao apartamento.

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Daniela diz que, dentro do carro, ligou para o corretor que vendeu o apartamento e ele confirmou que havia sido o prédio dela que caiu. Desesperada, ela o xingou, mas foi acalmada pelo motorista.

“Quando cheguei lá, fui subindo a ladeira procurando o rosto da minha irmã e do meu cunhado em todo mundo. Aí quando vi com meus próprios olhos a altura que o prédio estava, era como se tivesse caído em um buraco e não desse para ninguém ficar vivo, eu me desesperei.”

Dívida

Daniela vive no Rio há 12 anos, desde que veio do interior da Paraíba. Quando chegou à cidade, trabalhava em uma cafeteria na Tijuca, zona norte, e morava no Rio das Pedras. Quando o filho nasceu, ela foi morar com o companheiro, mas, assim que se separou, conheceu a atual patroa e mora na casa dela desde então.

“Eu moro aqui na Tijuca há 11 anos e, desde que comprei o apartamento, saía para minha casa nas folgas. Geralmente eu pegava meu filho no colégio na sexta e ia para lá”.

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Agora que perdeu tudo no desabamento, Daniela tenta se reeguer e conta com ajuda dos patrões, que a acolheram desde então. Enquanto trabalha, ela tenta arrecadar R$ 60 mil para pagar o conhecido que a ajudou.

“Ele ficou sabendo da minha situação e resolveu me ajudar. Meu maior medo não era o prédio cair. Meu medo era eles pegarem de volta meu apartamento por falta de pagamento. Preferi quitar tudo de uma vez. Esse dinheiro que peguei emprestado era pagao como se fosse um aluguel, mas ainda estou pagando alguns móveis no cartão e preciso quitar isso de uma vez”, contou.

Para isso, Daniela criou uma vaquinha virtual para arrecadar R$ 30 mil e pagar parte dessa despesa. Até o momento, ela arrecadou cerca de R$ 1.445.

Investigação

A Polícia Civil realizou uma operação, no último dia 2, para investigar os responsáveis pelo desabamento dos dois prédios. Agentes da 16ª DP (Barra da Tijuca) e Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas) apuram a participação de três investigados na milícia que atua na região.

Na ação, foram apreendidos documentos e computadores na sede da Associação de Moradores da Muzema.

De acordo com as investigações, o homem conhecido como Zé do Rolo, que está foragido, teria construído os prédios, enquanto outros dois teriam atuado como corretores informais. Os três foram reconhecidos por testemunhas ouvidas na 16ª.

A prisão deles foi decretada no dia 19 de abril. Na ação do dia 2, o objetivo foi encontrar familiares dos suspeitos que poderiam estar ocultando provas e também provas escondidas, segundo a delegada Adriana Belém, responsável pelo caso. Os suspeitos vão responder por homicídio por dolo eventual, qualificado 24 vezes, que é o número de mortos no desabamento.

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