ANA quer mais regras na renovação de outorga do Sistema Cantareira
Recentemente Alckmin pediu transposição do Rio Paraíba do Sul para ajudar no abastecimento
São Paulo|Com Agência Brasil
A renovação da outorga do Sistema Cantareira, o maior complexo de abastecimento de água de São Paulo, prevista para ocorrer em agosto deste ano, vai precisar conter mais regras para atender à população e evitar disputas políticas, defendeu na terça-feira (25) o diretor presidente da ANA (Agência Nacional de Águas), Vicente Andreu Guillo, durante audiência pública de cinco horas de duração, na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), que debateu o racionamento de água.
— A nova outorga do Cantareira precisará ter regras. E aí não importa de que partido é o governo. Aconteceu tal coisa, a população deve saber porque existe um cuidado das empresas de saneamento de não passar risco ou intranquilidade [para a população]. Há sempre cuidado para que não se transfira essa intranquilidade, e isso se reflita na área eleitoral. Nunca discutimos água nessa intensidade, e agora estamos fazendo no momento das eleições, quando tudo fica mais difícil.
A crítica de Guillo se estendeu à disputa pelas águas do Rio Paraíba do Sul pelos governos do Rio de Janeiro e de São Paulo. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), encontrou-se recentemente com a presidenta Dilma Rousseff, em Brasília, para tratar sobre a crise no Sistema Cantareira, e pediu para utilizar água do Rio Paraíba do Sul para ajudar no abastecimento de São Paulo. O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, no entanto, tem defendido que esse projeto é inviável e poderia dar prejuízos para a população fluminense, que é abastecida pelo rio. Para Guillo, essa é uma questão que “não pode ser contaminada pelas eleições” e deveria ser resolvida em uma mesa de discussão.
— Estou apreensivo com o tom dos governadores. É natural, porque estamos vivendo um momento eleitoral, mas não podemos deixar contaminar essa discussão pela questão eleitoral. Todas as soluções, exceto o volume morto, não acontece em nenhum mandato das pessoas envolvidas, mas somente daqui a dois anos. Trazer uma discussão com essa intensidade em um momento como esse é muito complexo.
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Segundo o presidente da ANA, 2014 vai ser um ano “bastante difícil” para a população de São Paulo.
— Esta crise deve continuar durante todo o ano de 2014.
Ele ainda defendeu a utilização do volume morto do Cantareira como medida de curto prazo para ajudar na solução da crise de desabastecimento.
— A utilização do volume morto é uma situação emergencial e necessária.
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Também presente à audiência pública, Paulo Massato, diretor metropolitano da Sabesp (Companhia de Abastecimento Básico do Estado de São Paulo), disse que, apesar da crise, não vai faltar água em São Paulo.
— Não [vai faltar água), mas é preciso que chova. Aqui na Bacia do Alto Tietê está chovendo próximo à média. Na Bacia do Guarapiranga choveu até acima da média. Na Bacia do Alto Tietê, as represas que armazenam os afluentes do Rio Tietê estão em boa condição de regularização. O ponto crítico é o Sistema Cantareira. A bacia onde ficam as barragens do sistema é menos de 20% do total da Bacia do Piracicaba e 80% já está abaixo das barragens. E não está chovendo nessa cabeceira. Normalmente, é um local que chove muito, mas este ano não está acontecendo isso.
Massato negou também que vá ocorrer racionamento de água ou rodízio.
— Tenho pavor de racionamento. Tenho pavor de rodízio. Todos os dias fazendo manobra na rede, aumenta muito o risco de ter um acidente no nosso sistema. Não gostamos de rodízio ou racionamento. Estamos buscando todas as alternativas para manter a qualidade de vida da população. Até agora foi possível atender, reduzindo a produção com as águas do Cantareira e aumentando no Guarapiranga e no Alto Tietê. Onde dá para transferir a água de um sistema e ajudar a do Cantareira, vamos fazer.
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Ele admitiu que alguns lugares da região metropolitana de São Paulo podem estar sofrendo com a falta de água, mas disse que isso não tem relação com a crise no abastecimento.
— Alguns locais têm falta de água. Nosso call center registra entre mil e 1,5 mil reclamações de falta de água todo dia, mas é o mesmo número que vem sendo registrado antes da crise do Cantareira. Isso [a falta de água] acontece porque fazemos manutenção, falta energia elétrica, ou porque dá algum problema na nossa tubulação.
Para Massato, a crise no Sistema Cantareira está ocorrendo por uma questão climática.
— Sei que vocês querem achar todos os problemas, mas no mundo todo, se você for para a Inglaterra agora, ela está sofrendo a pior inundação dos últimos 100 anos. Se você for para a Costa Oeste dos Estados Unidos, eles estão passando pela maior crise de falta d’água. Se for para a Austrália, ela passou pela maior temperatura já registrada. Tem um fenômeno global que atingiu o mundo todo, inclusive a região metropolitana de São Paulo. Quem não quer enxergar, tem um fenômeno global. No momento em que deveria estar chovendo 280 milímetros, em dezembro, janeiro e fevereiro, choveu 60 milímetros. No momento em que deveria estar se enchendo as represas, elas estão esvaziando. É uma crise climática.