Ao assumir a PM, comandante citou estratégia especial para Baile da Dz7
Em maio do ano passado, coronel Salles disse em entrevista ao R7 que teve uma experiência "muito exitosa" ao atuar sem invadir baile funk
São Paulo|Kaique Dalapola, do R7
Há pouco mais de um ano e meio, coronel Marcelo Vieira Salles assumia o comando da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Logo depois de se tornar o número um da PM paulista, Salles concedeu uma entrevista ao R7 e falou sobre a atuação policial em Paraisópolis e, especificamente, no Baile da Dz7.
Na ocasião, o coronel havia acabado de sair do comando do policiamento que atua na área de Paraisópolis e disse que tinha uma preparação especial para atuar no baile: "Começamos desde 18h, com a operação do trânsito, e demonstrando que a instituição ia ter uma atuação ali. Tinha até um caráter dissuasor. É o aprimoramento do trabalho", disse Salles.
Para impedir a realização do evento, o coronel afirmou que a PM atuava nas 27 entradas da favela "com controle, com entrada tática, com um convencimento e com trabalho junto a outros órgãos, como a prefeitura e conselho tutelar, porque às vezes nos deparamos com crianças e com adolescentes".
O comandante contou que "essa experiência foi muito exitosa" e, portanto, era a orientação do comando mesmo sabendo da existência de outras ocorrências que poderiam, eventualmente, modificar a estratégia da PM. "Sempre procurando respeitar as pessoas".
No último domingo (1º), no entanto, policiais militares da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicleta) entraram no baile sem nenhum planejamento, atrás de supostos homens que estariam de moto e em fuga, conforme apontam as investigações iniciais.
Após a ação policial que terminou com nove jovens mortos supostamente pisoteados, o R7 questionou a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo) se os PMs contrariaram o que Salles disse quando assumiu o comando.
"A Polícia Militar iria ocupar previamente o local onde aconteceria o baile, mas às 20h a área já estava tomada. Após análise de risco, os agentes preservaram o entorno da comunidade do Paraisópolis, para evitar crimes adjacentes, como roubos de veículos", respondeu a pasta, por meio de nota.
Na entrevista, coronel Salles ainda disse que era necessário ter "mais cuidado" para entrar em Paraisópolos, porque no local "tem um número muito grande de pessoas vivendo em um espaço muito pequeno".
O comandante explicou que a região "tem casas com vários andares, tem um número muito grande de pessoas e requer o cuidado nessa entrada porque, às vezes, determinado lugar é ponto de tráfico de entorpecente e nós sabemos que nesses pontos, a experiência nos diz, de encontro de arma, de entorpecente, de recrudescimento da ação criminal, você tem que tomar alguns cuidados".
Após as nove mortes, a SSP-SP disse que "todas as circunstâncias relacionadas à ocorrência deste final de semana, em Paraisópolis, são investigadas por meio de inquérito conduzido pela Corregedoria da Polícia Militar", e ressaltou que "o DHPP [departamento da Polícia Civil que investiga homicídios] também instaurou inquérito policial".