Ainda em obras, cinema reabrirá para o público neste sábado
16.07.14/RENATO MENDES/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Salvatore Di Vita, o memorável protagonista de Cinema Paradiso, ficaria orgulhoso. Depois de três anos projetando apenas lembranças e saudades a portas fechadas, o Cine Belas Artes vai reabrir ao público no próximo sábado (19), depois de uma grande pressão popular que convenceu a iniciativa privada e a Prefeitura de São Paulo.
O septuagenário cinema de rua localizado no encontro da Consolação com a avenida Paulista, na região central da cidade, foi rebatizado de Caixa Belas Artes, o que caracteriza a parceria entre o proprietário André Sturm, a Caixa Econômica Federal e a prefeitura.
O retorno foi viabilizado tanto política quanto financeiramente: a fachada foi tombada em 2012 pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico), o que facilitou a retomada do espaço para a sétima arte. Além disso, um investimento privado de R$ 7 milhões e um patrocínio anual da Caixa, na quantia de R$ 1,8 milhão, deram novo fôlego a uma história de amor com o cinema autoral.
Com exceção das paredes, toda a estrutura foi repaginada, incluindo a parte elétrica, o ar condicionado, as poltronas, e todo o sistema de som, projeção e iluminação, afirma Sturm. Nesta quarta-feira (16), o R7 visitou o espaço, ainda em obras e com detalhes a serem finalizados, como a fixação dos telões e de carpetes. No sábado, serão reabertas as salas 2 (Cândido Portinari), 3 (Oscar Niemeyer) e 4 (Cine Aleijadinho). Esta última será dedicada a filmes nacionais, entre estreias, obras sem distribuição no mercado e clássicos.
A sala 1 (Villa-Lobos), com a maior capacidade de público — 316 pessoas — deverá ser reinaugurada no próximo domingo (20), enquanto as demais, 5 (Mário de Andrade) e 6 (Carmen Miranda), são esperadas em um prazo de 15 dias a partir do sábado, informou Sturm.
A sala 2 terá um palco para eventos mensais relacionados a outras expressões de arte, como pocket shows, videoinstalações ou até mesmo peças de teatro. A reabertura inaugura também o "Drive-in Riviera", uma parceria com o Riviera Bar que terá sessões de filmes para exibição para turmas particulares, com bebidas e comidas do bar.
Todas as salas terão cadeiras numeradas, rampas de acessibilidade e assentos próprios para cadeirantes e obesos, além de projetores digitais. Três delas terão projetores de película 35mm.
Cerca de 90 funcionários trabalham para a finalização das obras. Segundo Barbara Sturm, programadora do cinema, o espaço terá pelo menos três novidades que destacam a relação entre o Belas Artes e o cinema autoral. Uma delas é um mural de fotos em agradecimento à mobilização popular feita para que o cinema voltasse. A outra é uma vinheta de segurança gravada com trechos de filmes clássicos como Nosferatu, Cidadão Kane, Metrópolis, Caixa de Pandora e Cão Andaluz. Por fim, as paredes terão painéis temáticos com reprodução de pôsteres do cinema italiano, de Alfred Hitchcock e do expressionismo alemão.
— O objetivo da reforma, das cadeiras com nome aos painéis temáticos, é fazer com que ir ao Belas Artes seja tão legal quanto no começo, há 70 anos.
Em todo o cinema, percebe-se a inclusão das cores vermelho e verde à decoração. Mas é o hall que demonstra as mudanças mais evidentes, com a instalação de um espelho e com mais iluminação.
A administração promete o famoso combo pipoca e refrigerante a preço mais acessível que os concorrentes. Além disso, a lanchonete terá opções para dieta vegana (sem consumo de carnes ou derivados de leite ou ovo).
Para Sturm, a mobilização popular que aconteceu quando o Belas Artes foi fechado, em janeiro de 2011, teve muita importância para a reabertura do cinema. Na época, um documento com 20 mil assinaturas foi entregue ao Condephaat, além de uma manifestação na porta do cinema e 90 mil assinaturas em um abaixo-assinado digital promovido pelo Movimento Belas Artes.
— Não imaginava que fossem ocorrer passeatas, abaixo-assinados e manifestações no Facebook. Em dois anos, fomos batendo de porta em porta para o cinema continuar.
Para Juca Ferreira, secretário municipal de Cultura, a reabertura foi um processo importante e “didático”.
— Quando o Belas Artes foi fechado, a cidade reagiu. O cinema se tornou um emblema de São Paulo, que está perdendo muitos equipamentos públicos. O Cine Belas Artes é um patrimônio afetivo.
O apoio da população também se manifestou financeiramente, por meio da campanha Belas Artes, Meu Amor. Nela, interessados em se tornar sócios do cinema poderiam pagar R$ 3.000 e batizar uma das poltronas da Sala 1, com direito a assistir uma sessão por dia, com acompanhante, durante um ano, além de uso de guichê especial na retirada dos ingressos. É por isso que algumas das poltronas hoje "pertencem" a nomes como Eduardo Suplicy, Gilberto Dimenstein, Fernando Henrique Cardoso, Nando Reis e Marcelo Rubens Paiva.
Uma opção mais econômica, de R$ 800, também foi oferecida. Nesse plano, a sociedade permitia um filme por semana, durante um ano, além de outros benefícios.
Ingressos
No sábado e no domingo, as sessões de cinema terão ingressos com o preço fixo de R$ 5, excepcionalmente. Serão exibidos clássicos e pré-estreias.
Os ingressos regulares para o Caixa Belas Artes custarão R$ 20. Estudantes têm o benefício diário da meia-entrada (R$ 10), e os trabalhadores pagarão metade do valor às segundas-feiras — basta apresentar um comprovante do trabalho.
Correntistas da Caixa Econômica Federal também terão 50% de desconto no pagamento por cartão de débito ou com dinheiro, mediante comprovação de que é cliente.
Iniciativas clássicas do Belas Artes, como o Noitão e o cineclube, estarão de volta em agosto. Nos próximos meses, o cinema receberá retrospectivas dos diretores Jia Zhangke, da China; do norte-americano Gus Van Sant, e também mostras de filmes paraguaios e africanos.
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