'Às vezes chorão e sempre medroso', diz prima de jovem morto pela Rota
Nicolas Canda, 19 anos, foi morto pela PM juntamente com três amigos, após suposta perseguição na rodovia Presidente Dutra, em Guarulhos
São Paulo|Kaique Dalapola, do R7
"Ele era uma pessoa alegre, com sorriso marcante, às vezes chorão e sempre medroso". É assim que Thayná Ferreira, 18 anos, define o primo Nicolas Canda, 19 anos, morto na noite da última quarta-feira (18), em uma ação de PMs da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) na rodovia Presidente Dutra, região e Guarulhos (Grande São Paulo).
Além de Nicolas, os policiais militares mataram os jovens Vitor Barbosa, 21 anos, Leonardo Carvalho, 23 anos, e Roney Oliveira, 20 anos. Os quatro eram amigos e cresceram juntos, na região de São Mateus (periferia da zona leste da capital).
Segundo a prima criada junto com o rapaz, o grande temor de Nicolas aconteceu ao lado dos três amigos de infância. "O maior medo dele era perder a família, e hoje nós que o perdemos", diz.
O jovem cresceu sem a presença do pai, que morreu quando ele tinha apenas cinco anos, vítima de câncer. Publicações no Facebook com fotos do pai demonstram que, mesmo tendo convido pouco, sentia muita saudade do homem.
Leia também: "Era reservado e fazia advocacia", diz irmã de morto pela Rota
Nicolas morava com a mãe, a avó e uma irmã de seis anos. Ele estava desempregado, mas havia voltado a focar nos estudos para conseguir um trabalhar na área que gostava.
Para entrar no mercado de trabalho, o rapaz voltou à escola para concluir o ensino médio, se matriculou no EJA (Educação de Jovens e Adultos) e terminariam no meio do ano que vem.
Recentemente ele terminou um curso técnico de engenharia mecânica pago pela mãe e estava buscando bolsas de estudos para se especializar na área de desejava atuar.
Veja mais: No 1º trimestre de Doria, PM mata mais e morre menos
Na versão inicial da Polícia Militar, Nicolas e os outros três jovens estavam em um carro furtado na região do Tatuapé (zona leste), e não obedeceram ao sinal de parada dos policiais. Durante perseguição, ainda segundo a PM, os jovens teriam atirado contra os policiais.
No entanto, o carro que os quatro mortos pela polícia estavam não tinha nenhuma ilegalidade, e pertenci ao Vitor — que o utilizou para fazer serviços via aplicativo de transporte Uber, mas, segundo a empresa, estava há um mês sem fazer nenhuma viagem.
Thayná também não acredita na versão dos policiais que os jovens teriam atirado. "Os meninos não tinham capacidade de conseguir todo aquele armamento, e o Nicolas era medroso, não ia correr esse risco", afirma.