As repercussões e teorias acerca do assassinato de Daniel Pellegrini, mais conhecido como MC Daleste, continuam intrigando a família, a polícia, o Ministério Público e os fãs do cantor até hoje, dez anos depois do crime. O jovem, que na época tinha 20 anos, foi atingido por disparos de arma de fogo minutos após subir ao palco durante um show em Campinas, no interior de São Paulo, no dia 6 de julho de 2013. Ele chegou a ser socorrido, mas na madrugada do dia 7 morreu no hospital. O funkeiro estava no auge da carreira, lançando um hit atrás de outro, como Mina de Vermelho, Mais Amor, Menos Recalque e Bonde dos Menor. "Recém-estourado" nas mídias, o artista era um dos mais requisitados em bailes funk.Família e autoridades entrevistadas pelo R7 contam o que mais intriga sobre o caso:• O momento em que o funkeiro recebeu os tiros foi filmado por pessoas que curtiam o show. Havia cerca de 3.000 espectadores, e ninguém viu nem gravou o atirador;• Na época, a polícia recebeu inúmeras denúncias, muitas delas falsas (o que dificultou as investigações do caso, segundo a advogada da família da vítima na época). Nenhuma foi "forte" o suficiente para garantir provas do crime e prender os envolvidos;•Daleste foi sequestrado três semanas antes de ser assassinadoe, segundo a família, era ameaçado por uma facção meses antes do atentado;•Ele deixou uma música chamada Despedidaantes de morrer, e a família acredita que o jovem já sabia que perderia a vida em breve;• O projétil, provavelmente de fuzil, que perfurou o corpo de MC Daleste atingiu também um caminhão e nunca foi localizado;• A principal teoria sobre o crime é que o funkeiro teria se relacionado com uma ex-garota de programa casada com um traficante. Esse traficante seria o mandante do crime. Até áudios que apontam essa teoria foram enviados ao MP, mas, mesmo assim, não houve a confirmação;• O túmulo do funkeiro foi alvo de vandalismo. As investigações sobre o caso do funkeiro foram encerradas em junho de 2016 sem nenhuma prova. Porém, em agosto do mesmo ano, o MP pediu a reabertura do caso após receber, da advogada da família de Daleste na época, Patrícia Vega, conversas entre integrantes da equipe do cantor que conheciam o real motivo do crime. A Record TV teve acesso a esses áudios, que remetem à principal suspeita da motivação do crime: a vítima teria realmente se envolvido com a mulher de um traficante. Em um dos trechos é possível ouvir: “Todas as amigas da menina sabem que o Daleste ia lá e ficava com ela. E aí o traficante foi, se apaixonou por ela. Tirou ela da zona, deu casa, deu carro, deu tudo. Só que o Daleste continuou conversando com ela escondido”. O promotor do caso, Ricardo Silvares, contou ao R7 que, de fato, já havia essa suspeita principal, que foi reforçada pelos áudios. No entanto, ele ressalta que as gravações, sozinhas, não são comprovações suficientes. "Era uma prova de ouvi dizer", comenta. Por isso, as investigações foram encerradas novamente. Silvares, que acompanhou o trabalho da polícia de perto, conta que os investigadores de Campinas chegaram a conversar com essa mulher, bem como com o marido dela, que era foragido na época, e mesmo assim não conseguiram provas concretas do crime. "Não necessariamente quem atirou tinha o interesse de matar. A pessoa pode ter sido contratada", afirma. Para Silvares, o atirador era um profissional "de ponta", isso porque o tiro foi dado a cerca de 150 m de distância. Acredita-se que o disparo tenha sido de fuzil. A munição nunca foi localizada, e todo e qualquer vestígio do assassino foi simplesmente apagado. Logo após mandar os áudios para o MP, a advogada decidiu deixar o caso. Questionada pela reportagem, a defensora se limitou a dizer que "não houve motivação específica".• Compartilhe esta notícia no WhatsApp • Compartilhe esta notícia no Telegram Com o crime impune e sem respostas, a família e os fãs de Mc Daleste continuam frustrados. O pai do funkeiro, Rolland Pellegrini, até hoje usa a foto em que está com o filho mais novo como perfil do WhatsApp. "Só um pai que perdeu um filho de uma forma trágica dessa pode me entender. Tenho um buraco no peito que nada preenche", disse Rolland ao R7. Para o pai, "a polícia podia ter feito mais". Apesar de já fazer dez anos e as investigações terem se encerrado, ele pede que não desistam de solucionar o caso, para que os envolvidos paguem pela perda imensurável. A irmã, Carolina Sena Pellegrini, publica constantemente postagens sobre a falta que o irmão faz. "Eu nunca vou superar, passe o tempo que passar", escreveu em uma das publicações em que MC Daleste aparece se apresentando em shows. Páginas nas redes sociais feitas por fãs ainda tentam reviver a memória do funkeiro. Recentemente, a história dele foi transformada em música e postada na página do Instagram chamada Daleste Mito. A letra fala sobre o menino humilde que saiu da Penha, na zona leste de São Paulo, disposto a conquistar o mundo, escrevendo funks que mostravam a realidade das favelas. "Imagina se tivesse mais amor e menos recalque [em referência a música escrita pelo funkeiro], ia ver o Daleste cantando em cima do palco" — veja o vídeo abaixo. Nás páginas e comunidades de fãs, as publicações são lotadas de comentários, como "saudades", "te amo", "inesquecível", "o melhor" e "cadê a justiça?". Não só a família e os fãs, mas a própria polícia e o Ministério Público têm um sentimento de frustração por nunca ter conseguido desvendar o caso. "Dentro do que havia de informação e recurso, nós usamos. Acredite, queríamos dar uma resposta à família e não conseguimos. Há frustração da nossa parte também", afirmou o promotor Ricardo Silvares.