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Bombeiros alertam contra álcool em substituição ao gás de cozinha

Com alta do botijão, famílias passaram a usar etanol em casa. Há risco de acidentes e cuidados específicos em caso de queimaduras

São Paulo|Joyce Ribeiro, do R7

Famílias improvisam fogareiro com etanol para cozinhar devido à alta do preço do gás
Famílias improvisam fogareiro com etanol para cozinhar devido à alta do preço do gás Famílias improvisam fogareiro com etanol para cozinhar devido à alta do preço do gás

Com a alta do preço do botijão de gás, que ultrapassa R$ 100 em algumas localidades, as famílias de baixa renda têm recorrido a alternativas, como fogareiros improvisados ou cozinhar com lenha. Mas os bombeiros alertam para os riscos de acidentes domésticos ao manusear combustíveis líquidos, que podem gerar queimaduras e até explosões. 

"As pessoas colocam álcool, etanol, gasolina para cozinhar, pegar fogo no carvão ou lenha. Mas a volatilidade dos combustíveis é alta em temperatura ambiente. Forma uma nuvem inflamável de vapor no entorno da fogueira e, se tiver uma faísca, um cigarro, e essa pessoa entra nessa nuvem, provoca uma explosão", explica o capitão e porta-voz do Corpo de Bombeiros de São Paulo, André Elias.

Foi o caso de Geisa Stefanini, de 32 anos, e do filho dela, Lucas Gabriel, de apenas 7 meses. A mulher, que passava por dificuldades financeiras, improvisou um fogareiro na casa onde morava com o bebê, em Osasco, na Grande São Paulo.

A dona do imóvel, Sara Ricardo, conta o que ouviu da vítima: "Ela não tinha dinheiro para comprar o gás e essa foi a opção que ela teve para poder cozinhar. Ela pegou a latinha, foi para o posto de gasolina, comprou etanol e colocou ali. A gente não sabe direito o que aconteceu. Pelo que conseguiu falar, ela foi tentar pôr mais álcool, aí veio pra cima dela o fogo e se espalhou para o bebê também".

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Geisa teve 90% do corpo queimado e morreu, em 27 de setembro, após ficar 25 dias internada. O filho, que estava no berço separado apenas por uma mureta do fogão, teve queimaduras em metade do corpo. Não há informações sobre o estado de saúde dele.

Segundo o capitão André Elias, não se devem utilizar combustíveis líquidos para cozinhar. "O etanol não é indicado para nenhuma utilização a não ser para abastecer o tanque do carro. Ele tem alto poder inflamável e libera vapores no ambiente. Esses gases, em contato com uma fonte de calor, inflamam, o que pode causar queimaduras."

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Hoje já existem substâncias próprias para acender o fogo, como gel ou fósforos com cabos mais longos. 

Recomendação é acionar imediatamente os bombeiros em caso de explosões e queimaduras
Recomendação é acionar imediatamente os bombeiros em caso de explosões e queimaduras Recomendação é acionar imediatamente os bombeiros em caso de explosões e queimaduras

Socorro às vítimas

Geisa e o bebê foram inicialmente socorridos por vizinhos. "Subi aqui correndo, ela estava em chamas, os vizinhos pegaram água da caixa-d'água e jogaram nela e na criança", lembra Sara Ricardo. Na sequência, os dois foram levados pelos bombeiros a hospitais da região. 

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O capitão André Elias ensina como agir em acidentes domésticos. "Se tiver queimaduras em áreas sensíveis ou em grande parte do corpo, ligar para os bombeiros o quanto antes e não usar pasta de dente no local. Deve-se jogar água corrente na ferida e tampar a superfície da queimadura com um pano limpo ou plástico para proteger de possíveis infecções", diz.

Apesar de existir a possibilidade de o pano grudar na pele, ainda assim é importante cobrir o local. A retirada da cobertura só deve ser feita pela equipe médica no hospital.

As vítimas foram levadas a hospitais de referência para queimados. Na capital paulista, a unidade especializada fica no Tatuapé, na zona leste. 

Mesmo com a percepção de aumento no número de casos dessa natureza, não há uma estatística compilada. A ocorrência é classificada pelo Corpo de Bombeiros como explosão ambiental, e a causa só é investigada pelo Instituto de Criminalística após perícia. 

Álcool 70°

Antes da pandemia de Covid-19, a comercialização do álcool 70° líquido era restrita, e usuários comuns não tinham acesso ao produto. Com a necessidade de ampliar o uso como forma de prevenção contra o coronavírus, a venda foi liberada em farmácias e mercados. No entanto, é preciso ter cuidado também com o álcool em gel. 

Estudante teve queimaduras nos dois braços
Estudante teve queimaduras nos dois braços Estudante teve queimaduras nos dois braços

Em Cariacica (ES), a universitária Azelina Paiva sofreu graves queimaduras nos braços depois de passar álcool em gel nas mãos e cozinhar na sequência. "Quando me dirigi ao fogão para fazer o almoço, aquele fogo explodiu todo em mim", contou em entrevista à Record TV.

A médica especializada em queimaduras Marcelle Barbosa alerta para que a pessoa espere pelo menos 15 minutos antes de usar fontes de calor. "É uma chama invisível. A gente não percebe às vezes e começa a sentir um ardor. É preciso colocar a área debaixo de água corrente e encaminhar a vítima para o centro especializado", aconselha.

André Elias destaca ainda que o álcool 70° tem alto poder calorífico, apesar de estar diluído em outras soluções aquosas. Por isso, é apenas indicado para assepsia das mãos. É preciso ficar atento também para o local onde o álcool é colocado, para evitar que alguém esbarre na superfície e provoque um acidente.

"A gente não imagina que vai acontecer isso que a gente vê na TV. Não imagina que vai acontecer perto de casa", afirma Lais Oliveira, que é vizinha de Geisa. 

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