Capoeirista acusa PMs de agressão durante ação em comunidade de SP
Segundo familiares, vítima foi abordada na frente da casa de alunos, junto com um filho e teria sido atingido por um mata-leão pelos policiais
São Paulo|Laura Lourenço, da Agência Record
Amigos e familiares do capoeirista Vandenir Alves dos Santos, conhecido como Mestre Nenê, acusam policiais militares de o terem agredido durante abordagem realizada por volta das 19h30 da última quarta-feira (19) na Comunidade do Mangue, situada Rua Fidalga, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo.
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De acordo com a esposa do capoeirista, Stefânia Faro Barbosa Lima, Nenê estava na frente da casa de dois alunos e ao lado de quatro crianças — entre elas, o seu filho —, quando viaturas da Polícia Militar passaram pelo local em atendimento a uma denúncia de assalto na rua Wisard, que fica nas proximidades.
Ainda segundo a mulher, os policiais pararam as viaturas em frente à casa e obrigaram todos os homens a se deitarem no chão. Nenê, que estava com o filho no colo, tentou deixá-lo na casa de um dos vizinhos.
Porém, um dos PMs derrubou o capoeirista com um golpe conhecido como mata-leão. O policial também teria empurrado Nenê até uma vielha e desferidos vários chutes em seu corpo, antes de algemá-lo..
Imagens gravadas por celulares que a Record TV teve acesso mostram os policiais envolta do capoeirista. Um deles, que está armado, impede os populares de se aproximarem da viela.
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Nenê foi encaminhado ao 14° DP (Pinheiros) e, posteriormente, ao Pronto Socorro da Lapa. A esposa o acompanhou durante o trajeto e disse que o capoeirista chegou algemado e sem máscara na unidade médica, onde recebeu atendimento e antes de retornar à delegacia.
Nenê e sua esposa registraram um boletim de ocorrência por desacato e abuso de autoridade. No início da madrugada da quinta-feira (20), o capoeirista foi conduzido ao IML (Instituto Médico Legal fazer exames de corpo de delito.
Versão dos PMs
Segundo informações registradas no boletim de ocorrência, os PMs Higor Alexandre Sivelli e Cleber Bezerra de Oliveira informaram que receberam um chamado verificar uma ocorrência de roubo para a Rua Wisard, 193.
O suspeito seria um motoboy com uma mochila de entrega que teria fugido do local. Ele teria roubado notebooks, celulares e a localização de um dos aparelhos telefônicos indicatava que o equipamento estaria na rua Fidalga.
Quando chegaram no endereço, os PMs decidiram abordar quatro homens que estavam em frente a uma casa. O capoeirista, que estava com seu filho no colo, teria desobedecido a ordem legal de abordagem e deixou o local rapidamente, indo até uma viela.
Os PM o seguiram e pediram para que ele deixasse a criança no chão e parasse. Ainda conforme o relato dos policiais militares, Nenê não obedeceu novamente a ordem, se jogou no chão e começou a gritar, motivo pelo qual as equipes contiveram o capoeirista e o algemaram.
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Os policiais Cleber e Higor relataram que tanto as equipes quanto Nenê ficaram feridos. Quando encaminhado para o hospital, o capoeirista estaria fora de si, batia a cabeça nos vidros da viatura e teria recusado atendimento.
Outras equipes da PM que continuaram na rua Fidalga informaram aos policiais envolvidos na ação que tinham conseguido prender o criminoso que realizou o assalto. O suspeito, que teria confessado o roubo, também foi encaminhado ao 14° DP. Os objetos foram recuperados.
Segurança pública paulista se pronuncia
Em nota enviada ao R7, a SSP-SP (Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo) disse que a Polícia Militar instaurou uma investigação para apurar o procedimento adotado na abordagem ao capoeirista. A pasta também reafirmou a versão apresentada pelos policiais militares no boletim de ocorrência registrado na Polícia Civil.
"No início da noite de ontem, policiais do 23º BPM foram acionados para uma ocorrência de roubo na Rua Wisard, Vila Madalena, onde foram subtraídos três celulares e três notebooks. No local, uma das vítimas relatou aos policiais que o sinal de localização do celular acusava estar na Rua Fidalga. Durante diligências, os agentes encontraram quatro homens parados próximos ao local indicado pelo sinal de localização do celular. Ao iniciar a abordagem, um dos indivíduos desobedeceu a determinação legal e tentou deixar o local, resistindo à ação dos policiais que precisaram contê-lo. Enquanto ele era detido, outra equipe da PM, na mesma rua, prendeu o autor do crime recuperando todos os objetos roubados, o que reforça a suspeita fundamentada dos agentes para a realização de abordagem naquele local.
Todas as circunstâncias relativas aos fatos são investigadas por meio de inquérito policial instaurado pelo 14º DP (Pinheiros). A PM também abriu uma investigação sobre o ocorrido", disse o texto emitido pela SSP-SP.
Relembre abordagens consideradas violentas ou suspeitas da PM de SP: