Chef oferece curso de gastronomia para ajudar pessoas na periferia
Edson Leite brilhou em restaurantes europeus, mas decidiu voltar para o Brasil e mudar a realidade de jovens do extremo sul de São Paulo
São Paulo|Karla Dunder, do R7
A gastronomia como uma ferramenta de transformação social, essa é a proposta de Edson Leite e de sua sócia Adélia Rodrigues com o Gastronomia Periférica.
Leite começou a carreira de chef de cozinha quase que por um acaso. Após a série de ataques do PCC em 2006, a vida ficou pesada nas periferias de São Paulo. “Estava muito difícil, decidi tentar a sorte em Portugal”. Foi apenas com as malas e arrumou um emprego para lavar pratos em um restaurante sofisticado de Lisboa, a Leitaria Gourmet.
“Um dia, duas funcionárias faltaram e o chef me perguntou se eu sabia cozinhar”, conta. “Não sabia fazer arroz, mas disse que sabia. Liguei para um amigo que era chef e para a mãe da minha filha, eles me ajudaram e assim comecei a aprender a arte da gastronomia”.
Tinha tudo para dar errado, mas o jovem cozinheiro decidiu estudar, procurar cursos e aprimorar as técnicas. Chegou ao posto de chef e depois de dominar a cozinha mediterrânea, percebeu que pouco sabia sobre a gastronomia brasileira.
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Em 2012, ele retornou ao Brasil por conta de uma hérnia de disco e decidiu ficar. Desde então, passou a se dividir entre empregos em restaurantes de alta gastronomia no centro da cidade e projetos sociais na periferia. Um deles, o Projeto Viela, serviria de incubadora para o Gastronomia Periférica.
“Ao voltar para o Brasil decidi estudar, optei pelo curso de Serviço Social e vi que era possível ligar a questão social à gastronomia”. A ideia tomou forma quando passou a oferecer um curso de gestão de alimentos em uma ONG. Como não havia infraestrutura, era preciso cozinhar nas casas dos moradores do bairro, que também contribuíam com alimentos para o preparo das refeições.
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“Começamos a filmar essas ações para a TV Capão e tivemos a ideia de transformar isso em um programa em que chegávamos na casa da pessoa e fazíamos um almoço com o que ela tivesse na geladeira”, conta. “A ideia era mostrar que é possível fazer comida de qualidade na quebrada aproveitando o que você tem em casa e evitando o desperdício”.
Foi durante a gravação de um dos episódios que Edson conheceu Daniel N. Faria, o fundador da Orpas, ONG que promove atividades culturais e profissionalizantes no Jardim São Luiz, onde o Gastronomia Periférica ganharia uma casa para a realização de oficinas três vezes por semana.
“Não temos a intenção de ter uma sede fixa, nossa proposta é multiplicar o trabalho para outros bairros para que possamos atingir mais pessoas”, explica Adélia Rodrigues. O Gastronomia Periférica se caracteriza como um negócio social, sustentável. São realizados eventos e esse dinheiro mantém o projeto. Adélia e Leite também contam com o apoio de empresas parceiras, como a Nespresso, que dou parte dos equipamentos de cozinha.
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Aplicativo
Além do projeto, a dupla aposta em um aplicativo para celulares. A proposta é mapear mais de 60 restaurantes do Jardim São Luís. “Esse foi o primeiro passo, na sequência vamos ampliar o número de estabelecimentos para outros bairros da periferia e depois fazer parceria com empresas de entrega, mas com valor acessível”, diz Adélia.
“Nosso principal objetivo é conectar pessoas e proporcionar uma vida melhor a todos”, diz Adélia.