Com déficit mensal de R$ 2,5 milhões, Hospital São Paulo pode reduzir atendimento
Superintendente disse que a situação "beira o limite" e não descarta reduzir serviços
São Paulo|Do R7
Com déficit mensal de cerca de R$ 2,5 milhões, o Hospital São Paulo, administrado pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), está trabalhando com ao menos 150 funcionários abaixo do necessário e já tem de fazer mais atendimentos do que sua capacidade. José Roberto Ferraro, superintendente da unidade, disse que a situação do hospital "beira o limite" e não descarta a necessidade de reduzir serviços nos próximos meses, caso não consiga aumento de repasses federais.
Na tarde de segunda-feira (27), 12 pessoas estavam sendo atendidas em macas espalhadas pelo corredor do hospital. Na porta do pronto-socorro pediátrico, um cartaz informava que a unidade estava "superlotada" e só seriam atendidos casos de urgência e emergência.
De acordo com a direção do Sintunifesp (Sindicato dos Trabalhadores da Unifesp), apenas neste ano foram cerca de 200 demissões — a maior parte no setor de enfermaria. Em nota, a Unifesp admite que, por causa do orçamento deficitário deste ano, não repôs as vagas de funcionários demitidos desde setembro do ano passado. As reposições, segundo a universidade, só são feitas em serviços considerados essenciais — sem informar quais.
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Funcionários, que não quiseram ser identificados por medo de represálias, disseram que o excesso de pacientes e a redução do quadro estão comprometendo a qualidade do atendimento. O aposentado Agostinho Noronha, de 59 anos, ficou quatro dias internado no hospital, sendo atendido em uma maca no corredor. Ele faz tratamento há oito meses contra câncer de pulmão.
— Os médicos tentam nos atender bem, mas são muitos pacientes. O atendimento é demorado, e a gente fica jogado em um corredor.
A atendente de telemarketing Marilze Dias de Oliveira acompanhava a mãe, de 88 anos, que também faz tratamento contra câncer. Elas já esperavam havia oito horas por atendimento no corredor.
— A gente vê de tudo aqui, gente baleada, sangrando, desmaiando. É terrível.
Protesto
Uma enfermeira do setor de cirurgia pediátrica, que não quis ser identificada, disse que a situação se agrava a cada dia porque os próprios funcionários não aguentam a pressão física e psicológica do trabalho e pedem demissão. O setor está com os 25 leitos ocupados, mas há apenas quatro técnicas e auxiliares de enfermagem para atender as crianças.
— São crianças em estado grave. Imagine, quatro pessoas para fazer todo esse trabalho? É quase impossível.
Para pressionar a chefia a contratar novos profissionais, as enfermeiras do setor estão fazendo um protesto silencioso, em que vestem roupa preta para chamar a atenção dos pacientes e superiores.
— Diferentemente de outras profissões, nós não podemos fazer paralisação ou operação tartaruga. Essas crianças precisam do nosso atendimento de forma integral. Essa foi a única forma que encontramos para chamar a atenção para nossa situação.
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