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Contra abandono, coletivo distribui itens de higiene a mulheres presas

Grupo formado por mulheres organiza produtos de higiene e limpeza para serem doados em unidades prisionais femininas de São Paulo

São Paulo|Fabíola Perez, do R7

Coletivo organiza doações para mulheres presas em unidades de São Paulo
Coletivo organiza doações para mulheres presas em unidades de São Paulo

Mulheres encarceradas sofrem diariamente com o abandono por parte de companheiros e familiares. Com o avanço do novo coronavírus e a suspensão de visitas de rotina, viver o dia a dia em celas precárias, com espaço limitado e dividido com outras mulheres se tornou um potencial risco para o aumento de casos de covid-19 no sistema prisional.

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"É um cenário de caos", diz Rosângela Teixeira, socióloga e pesquisadora da Universidade Federal do ABC. "Doenças que já foram erradicadas fora das prisões ainda são recorrentes nas unidades. Não há um plano de ação para combater a covid-19 dentro do sistema penitenciário."

No dia a dia, os grandes responsáveis pelo fornecimento de alimentação e produtos de higiene que mulheres presas necessitam são os familiares. Mas, desde o dia 20 de março, as visitas em unidades femininas e masculinas foram suspensas, segundo a Secretaria de Administração Penitenciária, para evitar a disseminação da covid-19. O único caminho possível para o envio de alimentos e materiais de higiene pelas famílias seria pelo Sedex, mas a opção também se tornou inviável em função do preço. "Muitas já passavam por dificuldades financeiras e agora perderam o emprego em decorrência da crise”, diz Rosângela. 


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O coletivo “Mulheres que (R)existem”, formado por uma socióloga, uma economista e produtora cultural e uma estudante egressa do sistema prisional, foi criado para suprir a demanda emergencial por produtos de higiene que ajudam a evitar que a pandemia se alastre nas unidades femininas. "É um grupo voltado às mulheres que perdem seus vínculos quando estão no cárcere", diz a socióloga. "O único contato que têm com os familiares é por meio de correspondência. Ainda assim, a comunicação é difícil e precária e os telefones estão congestionados."


Além de não suprir as necessidades da população carcerária, o Estado, segundo a socióloga, não tem um planejamento organizado para a contenção do vírus. "Mesmo com a suspensão da visita de familiares ainda há uma quantidade significativa de pessoas que entram e saem das unidades. Diversos servidores estão afastados por suspeitas de covid-19", afirma Rosangela. "É preciso questionar como será feita a gestão dessas pessoas e a limpeza e higienização de itens básicos, como tigelas plásticas e outros materiais utilizados por elas."

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O coletivo reuniu doações e montou 300 kits de higiene que foram distribuídos no Centro de Detenção Feminino de Franco da Rocha, onde existem hoje 756 mulheres aguardam julgamento. "Escolhemos Franco da Rocha porque em outras unidades há uma condição melhor de trabalho às mulheres, lá não tem nenhum trabalho, além de estarem vivendo em um contexto de abandono familiar", diz Rosângela.

A previsão é que os kits, com um custo estimado em R$ 38 a unidade, sejam suficientes para 30 ou 45 dias. "Compramos produtos que consideramos extremamente básicos para higiene pessoal e para a higienização da cela e do pátio", diz ela. "Muitas mulheres utilizam o dinheiro que guardam para enviar às famílias, para comprar fralda e leite para os filhos.”

O grupo afirma que recebeu autorização da Secretaria de Administração Penitenciária para enviar o material. "Tivemos doações de pessoas que conhecemos, pessoas que trabalham no sistema de Justiça e coletivos", diz Rosângela. "Queríamos que essas mulheres soubessem que existe um grupo de pessoas pensando nessa angústia que elas devem estar sentindo nessa condição."

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A invisibilidade da mulher no sistema prisional incomodou a economista Daniela Machado, que também integra o coletivo. "A mulher já passa por todos os processos de discriminação social", afirma Daniela que também é produtora cultural. "Quando se fala em sistema penitenciário, a narrativa é sempre masculina. A ideia é que se tenha uma narrativa a partir do ponto de vista das mulheres."

O grupo, que contou com a ajuda de voluntários para a organização dos kits, montou as 300 unidades em dois dias. "Pensamos em itens como água sanitária, pasta de dente, absorvente, sabão em pó, sabonetes, desinfetante, sabão em pedra”, afirma Daniela. "Entrariam outros itens como escova de dente, detergente, cotonete, mas em um primeiro momento conseguimos chegar a esses produtos."

Na primeira semana de maio, o grupo prepara a organização de mais 300 novos kits a serem entregues. "Enquanto durar a pandemia seguimos com as doações e, depois, entraremos com outras ações para trabalhar com a vertente de projetos artísticos, como teatro, dança, escrita criativas nesses espaços", ressalta a produtora.

Em uma semana, o grupo conseguiu o valor de R$ 10 mil para os primeiros kits. De acordo as organizadoras, a pasta foi retirar os produtos para fazer a entrega no CDP de Franco da Rocha. "A Penitenciária Feminina de Santana também espera esses produtos e mais alguns devem ir para o CDP. É uma ação pequena frente a todos os problemas do sistema prisional, mas esperamos que inspire ações parecidas em outros estados e municípios."

Como ajudar

Mulheres que (R)Existem

Associação dos Artistas e Produtores do Centro de São Paulo

CNPJ 32.877.709/0001-66

Banco do Brasil

Agência 6806

Conta 13.242-x

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