Corte de impostos, privatização e postura após tragédias marcam os 100 dias do governo Tarcísio em SP
Ex-ministro da Infraestrutura ganha elogios, sofre críticas e chega a 44% de aprovação entre paulistas, segundo pesquisa Datafolha
São Paulo|Isabelle Amaral, do R7
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), completa 100 dias na gestão do estado mais populoso do Brasil nesta segunda-feira (10). Até aqui, a trajetória se destaca com a defesa de privatizações; a demonstração de empatia e postura diante de desastres naturais; a liderança após ataque a escola paulistana; e a assinatura de decretos para a redução de impostos.
No campo das concessões, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) é uma candidata a passar para as mãos da iniciativa privada. Ao mesmo tempo, apesar dos frequentes problemas, Tarcísio já foi firme em defender a manutenção do contrato das Linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, da CPTM, hoje sob a administração da ViaMobilidade.
O republicano também se destacou pela presença em São Sebastião (SP) em fevereiro, quando deslizamentos de terra em série e desabamentos de casas provocaram uma tragédia humanitária no litoral norte paulista. Tarcísio chegou a transferir o gabinete pessoal da capital paulista para a cidade litorânea.
Nos 100 primeiros dias, o governador ainda precisou lidar com o ataque covarde de um estudante de 13 anos a uma escola estadual da zona oeste de São Paulo. Na ocasião, pôs os secretários de Educação (Renato Feder) e Segurança Pública (Guilherme Derrite) para acompanhar de perto os desdobramentos do atentado.
A avaliação positiva da gestão de Tarcísio se comprova em números. Pesquisa Datafolha divulgada no último domingo (9) mostra que 44% dos paulistas consideram a administração boa ou ótima. Outros 39% acham o atual governo estadual regular. Por outro lado, 11% veem a gestão Tarcísio entre ruim ou péssima. Outros 6% não souberam ou não responderam.
Além dos fatos citados, o governador de São Paulo ainda enfrentou uma greve no Metrô, recebeu críticas sobre a falta de ações na Cracolândia e precisou passar por cirurgia de emergência durante uma missão internacional na Europa.
Veja abaixo os principais pontos dos 100 dias da gestão Tarcísio
Desde a campanha eleitoral, o ex-ministro de Infraestrutura do governo Bolsonaro se mostrou a favor de conceder serviços públicos à iniciativa privada, como a Sabesp, mais linhas do Metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), o Porto de Santos, entre outros órgãos.
Entre as medidas, a mais polêmica é a privatização da Sabesp, uma das maiores empresas de saneamento do mundo, que atende quase 29 milhões de pessoas com água e cerca de 25 milhões com tratamento de esgoto em 375 cidades paulistas.
De economia mista, a concessão da Sabesp divide a opinião dos paulistas por causa do risco de aumento da conta de luz e da piora na qualidade do serviço e, ao mesmo tempo, o alívio que o repasse da empresa provocaria nos cofres paulistas.
Nas redes sociais, o assunto causa divergências. "Somos mensalmente assaltados por meio das contas de água, então a privatização da Sabesp é mais do que necessária pelo fim do cabide de emprego e de ladrões sindicalistas", escreveu Edivaldo Ferreira.
Mari Simplício, por outro lado, afirma que concordar com essa privatização é um "absurdo". "Saneamento básico não é negócio, usar um bem tão essencial como lucro é um absurdo", afirmou.
O governo paulista promete assinar, nos próximos meses, o contrato com uma empresa terceira para fazer pesquisas sobre a privatização da Sabesp. Freitas prevê que a iniciativa deve ocorrer em 2024.
Postura em meio às tragédias
Outro fator que marcou o 100 primeiros dias do governador foi a postura que ele teve em meio às duas tragédias mais marcantes que ocorreram neste período: a do litoral norte, que deixou 65 mortos, entre eles, 18 crianças, e o ataque a uma escola na zona oeste da capital paulista há duas semanas, quando um aluno matou uma professora e deixou cinco feridos (dois estudantes e três docentes).
O cenário devastador deixado pela chuva no litoral norte, ocorrido no início de fevereiro, foi o primeiro grande desafio do governador. Tarcísio foi pessoalmente até a cidade mais afetada, São Sebastião, fez apelo aos turistas para que deixassem a região, acompanhou a retirada de moradores de áreas de risco, bem como o trabalho das equipes de resgate, e ajudou a restabelecer os serviços essenciais, como água e luz, que ficaram comprometidos após os temporais.
Sobre a violência na escola estadual Thomázia Montoro, em São Paulo, Freitas compartilhou sua tristeza nas redes sociais e informou que estuda formas de viabilizar a contratação de policiais da reserva para ficarem permanentemente nos colégios. O ex-ministro da Infraestrutura acredita que essa ação tornará o ambiente "mais seguro".
Redução de impostos
Entre as ações que mais chamaram atenção na gestão Tarcísio está a redução de impostos, o que normalmente agrada à população. O desconto nos tributos de vários segmentos do setor produtivo passou a vigorar no fim de fevereiro e vai até 31 de dezembro de 2024.
Os decretos do governador promoveram isenção, redução de base de cálculo, crédito outorgado ou diferimento do ICMS aos produtores de soja, fabricantes de suco de fruta e bebidas à base de leite, à geração de energia elétrica, indústria de informática, empresas de data center, entre outros.
Greve no Metrô
Outro percalço da gestão Tarcísio até agora foi a greve do Metrô no fim de março — cerca de 2,8 milhões de pessoas usam os trens da empresa na capital paulista todos os dias. A paralisação do Metrôprovocou críticas ao governador, principalmente dos metroviários, que cruzaram os braços.
O governo teria feito um acordo com os trabalhadores, mas o sindicato afirma que Tarcísio usou uma decisão da Justiça para não aceitar a volta do funcionamento das linhas sem a cobrança da tarifa.
Com a continuidade da greve, os metroviários culparam o governador por "recuar" em seu acordo. O Metrô só voltou a funcionar após uma nova proposta, que foi aceita pelos trabalhadores.
Próximos desafios
Entre os próximos passos, Tarcísio tem à frente a ampliação dos projetos de concessão e parcerias público-privadas. O trem que vai ligar São Paulo a Campinas deverá começar a sair do papel do segundo semestre, quando está previsto o leilão da linha férrea — posteriormente, Santos, Sorocaba e São José dos Campos podem ser atendidas pelo projeto.
Outro programa em andamento é a mudança da sede do governo paulista do Palácio dos Bandeirantes, localizado no Morumbi, zona sul de São Paulo, para os Campos Elíseos, bairro da região central da capital. A alteração ajudaria no processo de revitalização do centro, mas a iniciativa ainda deve levar três anos para sair do papel.
Para completar, a administração do republicano tem no radar a procura por um parceiro privado para modernizar a infraestrutura das cerca de 5.000 escolas estaduais de São Paulo. O projeto bilionário, porém, ainda está em estágio embrionário.