Covid: SP vacina 85% da população com ao menos uma dose em 1 ano
Foram aplicados no estado 88 milhões de doses desde janeiro do ano passado, com liberação progressiva a diferentes públicos
São Paulo|Isabelle Amaral*, do R7
O estado de São Paulo completa, nesta semana, um ano do início da vacinação contra a Covid-19 com 85,6% da população vacinada com a primeira dose, segundo dados do Vacinômetro do governo estadual divulgados na terça-feira (18). Nesse período, muitas transformações e polêmicas marcaram a estratégia de combate à pandemia adotada pelo estado. Novos estudos sobre o vírus, vacina própria produzida em São Paulo e restrições a diversos setores da economia, flexibilizadas com a diminuição do número de mortes por coronavírus, foram algumas das medidas que fizeram parte desse percurso.
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O vírus, identificado pela primeira vez no Brasil em fevereiro de 2020, gerou pavor em grande parte da população. Quando a pandemia se iniciou e cada vez mais mortes por Covid-19 eram registradas, o governo do Estado de São Paulo decidiu aderir à quarentena, que afetou comércios, empresas, escolas e outros tipos de atividades consideradas não essenciais.
Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) e os membros do então Centro de Gerenciamento de Covid-19 preferiram evitar o termo lockdown para se referir ao fechamento das atividades comerciais. No entanto, o plano de flexibilização econômica afetou muitos setores e houve protestos, principalmente entre comerciantes do estado, que apontaram um fechamento indiscriminado das atividades com impactos para a economia e a sobrevivência das empresas.
As restrições foram flexibilizadas ao longo de 2020. Mas foi apenas em janeiro de 2021, quase um ano após o primeiro caso e depois de milhares de mortes pelo vírus, que a primeira pessoa recebeu a vacina no Brasil, a enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, com comorbidades, que mora e trabalha na zona leste da capital paulista. Além do marco histórico para o estado, a mulher foi vacinada com a CoronaVac, imunizante inicialmente comprado da chinesa Sinovac e que depois passou a ser produzido pelo Instituto Butantan, do governo de São Paulo.
Com a chegada da vacina, o governo priorizou os idosos e profissionais da saúde, que trabalham na linha de frente contra a pandemia, estratégia semelhante à adotada em quase todo o mundo. Em entrevista ao R7, Maria Conceição Silva, de 82 anos, conta que recebeu a primeira dose do imunizante, também da CoronaVac, na segunda semana de fevereiro de 2021. “Foi uma sensação de alívio para mim, depois de ver o mundo passar por tanta coisa por conta da Covid, eu estava com muita expectativa”, relata.
Maria, que mora em Suzano, na região metropolitana de São Paulo, conta ainda que pouco mais de um mês depois de receber o imunizante foi diagnosticada com o vírus, mas que teve sintomas leves.
Com a vacinação a passos lentos, o estado e o restante do país viram uma nova onda da Covid-19 se espalhar rapidamente, levando a números recordes de internação e óbito entre março e abril de 2021. O avanço do novo coronavírus foi novamente acompanhado de quarentena em diversas áreas da atividade econômica. Ela foi, novamente, aos poucos, flexibilizada, mas apenas em agosto daquele ano o estado teve a primeira sexta-feira sem restrições ao comércio desde o início de março.
Paralelamente, a vacinação se estendeu a outros públicos, até que chegou aos adolescentes entre 12 e 17 anos, que começaram a receber a primeira dose em meados de setembro no estado.
O estudante Vinícius Guedes, de 14 anos, que mora em São Miguel, na zona leste de São Paulo, relata que esperava receber a dose o quanto antes, mas preferiu que os avós tivessem acesso primeiro. "Achei bom que começassem a vacinar primeiro os idosos e as pessoas que mais precisam, quando chegou a minha hora, eu fui”.
Cidade no interior de São Paulo é escolhida para estudos sobre a vacinação
A cidade de Botucatu, no interior de São Paulo, foi escolhida para a realização de um estudo de vacinação em massa contra a Covid-19 com a AstraZeneca. A pesquisa científica acompanhada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) começou no dia 16 de maio do ano passado em pessoas com idade entre 18 e 60 anos. O objetivo inicial era vacinar 80% desse público com a primeira dose, mas a meta foi ultrapassada.
O estudo ocorreu em um período de oito meses, incluindo a aplicação das duas doses e o acompanhamento da população vacinada. Os resultados promissores foram notados logo após a aplicação da primeira dose, já que em um mês da vacinação em massa houve uma diminuição de 86,5% no número de casos diários.
O número de internações decorrentes da doença também diminuiu significativamente. Em 16 de maio, eram 74 — 20 em UTIs (unidades de terapia intensiva) e 54 em enfermarias. Já no dia 4 de junho, havia apenas 14 — sete em UTIs e sete em enfermarias.
Com a chegada da nova cepa do coronavírus, a Ômicron, a cidade de Botucatu viu o número de casos disparar. Mas, diferentemente do cenário que se apresentava no auge da pandemia, no primeiro semestre de 2021, as internações e óbitos não acompanharam o aumento de casos.
“A transmissão vem aumentando de forma expressiva. Porém, em locais com coberturas vacinais avançadas, esse crescimento não se traduz proporcionalmente em aumento de hospitalizações e de óbitos”, informou ao R7 o secretário municipal da Saúde, André Spadaro.
Briga entre o governo do estado e o federal sobre a vacinação com a CoronaVac
A troca de farpas entre o governador do estado de São Paulo, João Doria (PSDB), e o presidente Jair Bolsonaro (PL) ganhou força com o ínicio da pandemia. Em uma reunião sobre estratégias contra a Covid-19, transmitida pela internet e com a presença de vários governadores, Doria acusou Bolsonaro de minizar os riscos do vírus, e o presidente rebateu afirmando que o governador se apropriou do nome dele durante as eleições, quando lançou o slogan "Bolsodoria".
O embate também marcou o início da vacinação no país. O governador chegou, inclusive, a classificar uma fala de Bolsonaro como criminosa, quando em outubro de 2020 ele decidiu não comprar a vacina, desenvolvida a partir da parceria entre o laboratório chinês Sinovac e Instituto Butantan, mesmo se aprovada pela Anvisa.
“Da China não compraremos. Não acredito que ela transmita segurança para a população pela sua origem. Esse é o pensamento nosso”, disse Bolsonaro um dia após desautorizar a compra de 46 milhões de doses do imunizante da fabricante Sinovac. A compra da Coronavac pelo governo federal acabou fechada apenas no início de 2021.
Antes disso, em novembro de 2020, a Anvisa chegou a paralisar os estudos com a CoronaVac após a morte de um voluntário. O ato levou a um embate entre a agência e o Butantan. Mas os testes foram retomados após a conclusão de que o óbito não teve relação com a aplicação do imunizante.
“Há um ano, cumprimos com o nosso dever e disponibilizamos um imunizante que se mostrou primordial no combate ao coronavírus. A ciência não para, está em constante evolução, e nós iremos acompanhar todos os avanços relacionados à vacina. O Brasil pode contar com o Butantan", afirmou, em nota, o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas.
SP vacinou a primeira criança no Brasil
O menino Davi Seremramiwe, de 8 anos, que é indígena da etnia xavante, de Mato Grosso, foi a primeira criança brasileira a receber a vacina da Pfizer, no mesmo local em que foi imunizada a enfermeira Mônica Calazans, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
A vacinação do menino ocorreu na sexta-feira (14). A expectativa do governo é vacinar 4,3 milhões de crianças de 5 a 11 anos em três semanas.
Apesar disso, a vacinação dos pequenos também teve um início conturbado, já que, mesmo com os resultados de 90,7% de eficácia do imunizante da Pfizer nesse grupo divulgados em outubro do ano passado, a Anvisa autorizou a aplicação somente em 16 de dezembro, em meio a críticas e até ameaças por conta da decisão.
Muitos pais e responsáveis legais pelas crianças esperavam ansiosos para vacinar seus filhos e, após o anúncio da liberação, o estado recebeu pouco mais de 230 mil cadastros de crianças para vacinação contra a Covid-19 em 24 horas.
“A gente vê tanta repercussão quanto ao assunto da vacinação infantil para nada. Desde que começaram a aplicar a vacina aqui em São Paulo, eu só vi o número de mortes diminuir, ainda que tenham novos casos, então eu confio que posso vacinar os meus filhos também”, afirma Ligiane Barbosa, mãe do pequeno Lorenzo, de 5 anos, e Pedro Henrique, de 9.
*Estagiária sob supervisão de Fabíola Perez