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Covid: SP vacina 85% da população com ao menos uma dose em 1 ano

Foram aplicados no estado 88 milhões de doses desde janeiro do ano passado, com liberação progressiva a diferentes públicos

São Paulo|Isabelle Amaral*, do R7

Na segunda (17), completou um ano desde que a primeira pessoa foi vacinada em SP e no Brasil
Na segunda (17), completou um ano desde que a primeira pessoa foi vacinada em SP e no Brasil

O estado de São Paulo completa, nesta semana, um ano do início da vacinação contra a Covid-19 com 85,6% da população vacinada com a primeira dose, segundo dados do Vacinômetro do governo estadual divulgados na terça-feira (18). Nesse período, muitas transformações e polêmicas marcaram a estratégia de combate à pandemia adotada pelo estado. Novos estudos sobre o vírus, vacina própria produzida em São Paulo e restrições a diversos setores da economia, flexibilizadas com a diminuição do número de mortes por coronavírus, foram algumas das medidas que fizeram parte desse percurso.

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O vírus, identificado pela primeira vez no Brasil em fevereiro de 2020, gerou pavor em grande parte da população. Quando a pandemia se iniciou e cada vez mais mortes por Covid-19 eram registradas, o governo do Estado de São Paulo decidiu aderir à quarentena, que afetou comércios, empresas, escolas e outros tipos de atividades consideradas não essenciais.

Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) e os membros do então Centro de Gerenciamento de Covid-19 preferiram evitar o termo lockdown para se referir ao fechamento das atividades comerciais. No entanto, o plano de flexibilização econômica afetou muitos setores e houve protestos, principalmente entre comerciantes do estado, que apontaram um fechamento indiscriminado das atividades com impactos para a economia e a sobrevivência das empresas.

As restrições foram flexibilizadas ao longo de 2020. Mas foi apenas em janeiro de 2021, quase um ano após o primeiro caso e depois de milhares de mortes pelo vírus, que a primeira pessoa recebeu a vacina no Brasil, a enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, com comorbidades, que mora e trabalha na zona leste da capital paulista. Além do marco histórico para o estado, a mulher foi vacinada com a CoronaVac, imunizante inicialmente comprado da chinesa Sinovac e que depois passou a ser produzido pelo Instituto Butantan, do governo de São Paulo. 


Com a chegada da vacina, o governo priorizou os idosos e profissionais da saúde, que trabalham na linha de frente contra a pandemia, estratégia semelhante à adotada em quase todo o mundo. Em entrevista ao R7, Maria Conceição Silva, de 82 anos, conta que recebeu a primeira dose do imunizante, também da CoronaVac, na segunda semana de fevereiro de 2021. “Foi uma sensação de alívio para mim, depois de ver o mundo passar por tanta coisa por conta da Covid, eu estava com muita expectativa”, relata.

Maria recebeu a primeira dose em 11 de fevereiro de 2021
Maria recebeu a primeira dose em 11 de fevereiro de 2021

Maria, que mora em Suzano, na região metropolitana de São Paulo, conta ainda que pouco mais de um mês depois de receber o imunizante foi diagnosticada com o vírus, mas que teve sintomas leves.


Com a vacinação a passos lentos, o estado e o restante do país viram uma nova onda da Covid-19 se espalhar rapidamente, levando a números recordes de internação e óbito entre março e abril de 2021. O avanço do novo coronavírus foi novamente acompanhado de quarentena em diversas áreas da atividade econômica. Ela foi, novamente, aos poucos, flexibilizada, mas apenas em agosto daquele ano o estado teve a primeira sexta-feira sem restrições ao comércio desde o início de março. 

Paralelamente, a vacinação se estendeu a outros públicos, até que chegou aos adolescentes entre 12 e 17 anos, que começaram a receber a primeira dose em meados de setembro no estado.


O estudante Vinícius Guedes, de 14 anos, que mora em São Miguel, na zona leste de São Paulo, relata que esperava receber a dose o quanto antes, mas preferiu que os avós tivessem acesso primeiro. "Achei bom que começassem a vacinar primeiro os idosos e as pessoas que mais precisam, quando chegou a minha hora, eu fui”.

Cidade no interior de São Paulo é escolhida para estudos sobre a vacinação

A cidade de Botucatu, no interior de São Paulo, foi escolhida para a realização de um estudo de vacinação em massa contra a Covid-19 com a AstraZeneca. A pesquisa científica acompanhada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) começou no dia 16 de maio do ano passado em pessoas com idade entre 18 e 60 anos. O objetivo inicial era vacinar 80% desse público com a primeira dose, mas a meta foi ultrapassada.

O estudo ocorreu em um período de oito meses, incluindo a aplicação das duas doses e o acompanhamento da população vacinada. Os resultados promissores foram notados logo após a aplicação da primeira dose, já que em um mês da vacinação em massa houve uma diminuição de 86,5% no número de casos diários.

O número de internações decorrentes da doença também diminuiu significativamente. Em 16 de maio, eram 74 — 20 em UTIs (unidades de terapia intensiva) e 54 em enfermarias. Já no dia 4 de junho, havia apenas 14 — sete em UTIs e sete em enfermarias.

Com a chegada da nova cepa do coronavírus, a Ômicron, a cidade de Botucatu viu o número de casos disparar. Mas, diferentemente do cenário que se apresentava no auge da pandemia, no primeiro semestre de 2021, as internações e óbitos não acompanharam o aumento de casos.

“A transmissão vem aumentando de forma expressiva. Porém, em locais com coberturas vacinais avançadas, esse crescimento não se traduz proporcionalmente em aumento de hospitalizações e de óbitos”, informou ao R7 o secretário municipal da Saúde, André Spadaro.

Briga entre o governo do estado e o federal sobre a vacinação com a CoronaVac

A troca de farpas entre o governador do estado de São Paulo, João Doria (PSDB), e o presidente Jair Bolsonaro (PL) ganhou força com o ínicio da pandemia. Em uma reunião sobre estratégias contra a Covid-19, transmitida pela internet e com a presença de vários governadores, Doria acusou Bolsonaro de minizar os riscos do vírus, e o presidente rebateu afirmando que o governador se apropriou do nome dele durante as eleições, quando lançou o slogan "Bolsodoria". 

O embate também marcou o início da vacinação no país. O governador chegou, inclusive, a classificar uma fala de Bolsonaro como criminosa, quando em outubro de 2020 ele decidiu não comprar a vacina, desenvolvida a partir da parceria entre o laboratório chinês Sinovac e Instituto Butantan, mesmo se aprovada pela Anvisa.

“Da China não compraremos. Não acredito que ela transmita segurança para a população pela sua origem. Esse é o pensamento nosso”, disse Bolsonaro um dia após desautorizar a compra de 46 milhões de doses do imunizante da fabricante Sinovac. A compra da Coronavac pelo governo federal acabou fechada apenas no início de 2021. 

Antes disso, em novembro de 2020, a Anvisa chegou a paralisar os estudos com a CoronaVac após a morte de um voluntário. O ato levou a um embate entre a agência e o Butantan. Mas os testes foram retomados após a conclusão de que o óbito não teve relação com a aplicação do imunizante.

“Há um ano, cumprimos com o nosso dever e disponibilizamos um imunizante que se mostrou primordial no combate ao coronavírus. A ciência não para, está em constante evolução, e nós iremos acompanhar todos os avanços relacionados à vacina. O Brasil pode contar com o Butantan", afirmou, em nota, o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas.

SP vacinou a primeira criança no Brasil

O menino Davi Seremramiwe, de 8 anos, que é indígena da etnia xavante, de Mato Grosso, foi a primeira criança brasileira a receber a vacina da Pfizer, no mesmo local em que foi imunizada a enfermeira Mônica Calazans, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

A vacinação do menino ocorreu na sexta-feira (14). A expectativa do governo é vacinar 4,3 milhões de crianças de 5 a 11 anos em três semanas.

Apesar disso, a vacinação dos pequenos também teve um início conturbado, já que, mesmo com os resultados de 90,7% de eficácia do imunizante da Pfizer nesse grupo divulgados em outubro do ano passado, a Anvisa autorizou a aplicação somente em 16 de dezembro, em meio a críticas e até ameaças por conta da decisão.

Muitos pais e responsáveis legais pelas crianças esperavam ansiosos para vacinar seus filhos e, após o anúncio da liberação, o estado recebeu pouco mais de 230 mil cadastros de crianças para vacinação contra a Covid-19 em 24 horas.

“A gente vê tanta repercussão quanto ao assunto da vacinação infantil para nada. Desde que começaram a aplicar a vacina aqui em São Paulo, eu só vi o número de mortes diminuir, ainda que tenham novos casos, então eu confio que posso vacinar os meus filhos também”, afirma Ligiane Barbosa, mãe do pequeno Lorenzo, de 5 anos, e Pedro Henrique, de 9.

*Estagiária sob supervisão de Fabíola Perez

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