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Desigualdade em SP: morador da periferia vive 23 anos menos

Estudo revela que no Jardim Paulista, bairro nobre, idade média do paulistano ao morrer é de 81,5 anos. Já no Jardim Ângela, apenas 58,3 anos

São Paulo|Cesar Sacheto, do R7

População do Jd. Ângela, na zona sul, tem pior expectativa de vida da cidade de SP
População do Jd. Ângela, na zona sul, tem pior expectativa de vida da cidade de SP

O morador da periferia de São Paulo pode viver até 23 anos menos do que alguém que resida em bairros nobres da cidade, segundo dados revelados pelo Mapa da Desigualdade 2020, elaborado pela Rede Nossa SP. O Jardim Ângela, na zona sul, apresenta o pior índice de idade média ao morrer da população paulistana (58,3 anos), enquanto o Jardim Paulista, região elitizada da capital, detém o melhor resultado (81,5 anos).

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"Sem surpresa, pois a qualidade do serviço de saúde é diferente de um para o outro. As pessoas do Jd. Paulista desfrutam da qualidade de serviço de saúde melhor. Também tem a diferença de uma alimentação adequada que ajuda na qualidade de saúde", avalia Ronivon Souza Ribeiro, líder comunitário na região do Jardim Ângela.

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"É como se andássemos 1 km e perdêssemos um ano de vida"

O coordenador-geral da Rede Nossa SP, Jorge Abrahão, acrescenta que, além da qualidade de saúde, o indicador expõe também o resultado da falta de saneamento, habitação, do crescimento da violência e da mortalidade infantil. Em suma, aponta os fatores que tornam o ambiente da comunidade precário.

"O chocante nisso tudo é que essa diferença de 23 anos em uma mesma cidade faz com que a gente tenha essa pergunta: como podemos ter numa mesma cidade 23 anos de diferença em locais que estão a 20 km de distancia? É como se andássemos 1 km e perdêssemos um ano de vida", comparou.


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O levantamento realizado para a elaboração do Mapa da Desigualdade foi realizado nos 96 distritos da capital paulista em um trabalho que comparou dados, abordou várias áreas da administração pública com a utilização de fontes oficiais, além de verificar serviços e equipamentos públicos.


Os indicadores obtidos pela análise das informações dimensionam os desafios dos gestores públicos e visam contribuir para a elaboração de políticas públicas. Também determina o nível do Desigualtômetro, uma ferramenta que auxilia na medição da desigualdade na cidade.

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Especificamente sobre a idade média ao morrer em São Paulo aferida neste ano, o nível do Desigualtômetro (1,4) mostrou que a vida de um morador do Jardim Paulista pode ser, em média, 40% maior que a de um habitante do Jardim Ângela.

Segundo pessoas que vivem nas comunidades mais pobres de São Paulo, a pandemia do novo coronavíruspiorou ainda mais uma realidade já difícil de suportar. No Jardim Ângela, há relatos de famílias que enfrentaram 16 dias sem abastecimento de água. 

O estudo mostrou ainda que justamente nos lugares com menor idade média ao morrer, houve mais óbitos por covid-19. A constatação se deve a uma combinação de fatores que deixam essas regiões mais vulneráveis. Os pesquisadores encontraram uma relação comprovada entre a desigualdade e o número de mortes.

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O desemprego aumentou e faltam ítens básicos de sobrevivência. Com isso, instalou-se um clima de desânimo em relação ao futuro, agravado pela notícia que os mais ricos acumularam ainda mais patrimônio mesmo durante a pandemia, enquanto pessoas mais pobres sofrem ainda mais.

"Na parte da infraestrutura, todos os anseios da população são negados pelo poder público, onde essa parte da cidade tem pouca visão e faltam saneamento básico, esgotos, energia de qualidade, transporte público, etc.", acrescentou o líder comunitário Ronivon Souza Ribeiro.

Por outro lado, Jorge Abrahão acredita que o mesmo indicativo pode demonstrar que há uma luz no fim do túnel, desde que exista comprometimento por parte dos gestores públicos. "A provocação do mapa é que, embora o dado seja chocante, é possível fazer. Vai depender dos políticos, dos prefeitos, vereadores."

O coordenador da Rede Nossa SP entende que a cidade não precisa importar soluções, mas torna-se necessário que ocorra uma redefinição das políticas públicas, dos investimentos e prioridades. Ele fala em "compromisso ético" por uma sociedade equânime.

"E nem estou falando de renda, mas em condições em que um estado que é o ator que pode mediar na nossa sociedade, que tome definições para reduzir essa diferença muito grande. É possível, por exemplo, ter metas na cidade. Por exemplo, se o gestor público se comprometesse a reduzir a diferença da idade média ao morrer para a metade", completou Jorge Abrahão.

O líder comunitário Ronivon Souza Ribeiro cobra ações concretas dos políticos que assumirão postos na Prefeitura e na Câmara Municipal de São Paulo na próxima legislatura, a partir de 1º de janeiro de 2021. 

"Por parte dos vereadores, que legislem com coerência, e criem projetos que possam beneficiar a todos. E por parte do prefeito, que supra os anseios da população como: educação de qualidade, saúde de qualidade, segurança e moradias dignas. Isso é que o reza na Constituição brasileira e não é praticada, infelizmente", concluiu.

Debate

A Rede Nossa SP convidou os concorrentes ao cargo de prefeito da capital paulista para o lançamento do Mapa da Desigualdade 2020, nesta quinta-feira (29). A intenção da entidade é mostrar que a construção de políticas em prol da igualdade social podem ter efeitos políticos importantes. gerar empregos, reduzir a violência e encaminhar uma cultura de confiança na sociedade.

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"Não podemos naturalizar a desigualdade. Ela foi construída efetivamente por políticas. Se isso é estarrecedor e a gente fica chocado, você percebe que isso foi construído. não é uma coisa natural. [É possível] criar políticas para reverter essa situação. Fazemos esse mapa há quase dez anos. Temos uma linha do tempo em relação ao que vem acontecendo na cidade", finalizou Jorge Abrahão.

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