Especialistas veem relação direta de cratera com obras do Metrô de SP
Escavação teria movimentado solo ao redor de galeria de esgoto que se rompeu. Concessionária rebate e diz que não há relação
São Paulo|Gabriel Croquer, do R7
O rompimento de uma coletora de esgoto da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) que causou a abertura da cratera na marginal Tietê nesta terça-feira (1º) tem relação direta com as obras da Linha 6-Laranja do Metrô, por conta das alterações no solo causadas pela escavação da área. É o que opinam dois especialistas ouvidos pelo R7 sobre o acidente que parou a capital paulista e deve trazer prejuízo milionário a uma das obras mais aguardadas do transporte público.
"Aquele corredor tem quilômetros de extensão. Por que exatamente lá, do lado do poço do Metrô, ele resolveu dar sinal de vida? É evidente que há alguma correlação com a obra. A gente não sabe qual exatamente, mas existem várias hipóteses", diz o engenheiro Sergio Ejzenberg, mestre em transportes pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo).
Ejzenberg cita duas hipóteses mais prováveis sobre a influência da obra no rompimento da galeria do esgoto. Uma envolve o "tatuzão", máquina responsável pela escavação, que teria movimentado o solo próximo à coletora. "E isso lançou esse esgoto e fez essa cratera. Essa instabilidade se dá pela obra no local", complementa o presidente do IE (Instituto de Engenharia), Paulo Ferreira.
Outro cenário mencionado por Ejzenberg é que o buraco cavado pelas obras do Metrô tenha afetado a sustentação do curso d'água, o que também pode ter provocado o rompimento. Ele ainda critica a distância de 3 metros entre o "tatuzão" e a coletora de esgoto: "É muito pouco, obra de risco".
Apesar da coincidência, os dois rechaçam o efeito das fortes chuvas que atingiram a capital nos últimos dias. "Afinal, as chuvas passam pelas galerias que fluem para dentro da lâmina do rio", explica Ferreira.
O governo estadual de São Paulo investiga as causas do acidente por meio de um comitê com a participação da Sabesp e da STM (Secretaria de Transportes Metropolitanos). O Ministério Público de São Paulo abriu um inquérito civil sobre a questão.
Em nota (veja abaixo na íntegra), a Linha Uni e a ACCIONA, responsáveis pelas obras da Linha 6-Laranja, afirmaram que, "com as informações disponíveis neste momento", o rompimento não está relacionado diretamente ao desenvolvimento das obras da Linha 6-Laranja.
Reconstrução
Os dois engenheiros também concordam que as obras de reconstrução da pista interna da marginal Tietê devem demorar cerca de três meses, por envolverem operações complexas de drenagem do esgoto e reconstrução da galeria rompida. A avaliação, porém, é de que a cratera está estabilizada e novos desabamentos não devem acontecer. "Acho difícil que cedam mais partes na marginal. O terreno já se acomodou. Exceto se houver nova ruptura", afirma Ferreira.
Depois de perder três vias para a cratera, a pista interna da marginal Tietê, no sentido rodovia Ayrton Senna, está completamente interditada. Essa pista tem o trânsito desviado para o corredor das avenidas Ermano Marchetti e Marquês de São Vicente, com retorno para a marginal na altura da praça Pedro Corazza.
Já os veículos que trafegam pela pista central estão sendo desviados para a pista expressa na altura do canteiro de obras da Linha 6 e retornam para a pista central em seguida. A pista expressa, mais afastada da cratera, foi liberada poucas horas depois do acidente por não apresentar risco para o trecho da marginal, segundo o governo estadual.
"[É importante] olhar o outro poço, do outro lado do rio. Do outro lado da marginal tem também um coletor de esgoto. Os coletores estão dos dois lados do rio. Então se aconteceu de um lado, olha do outro lado também", completa Ejzenberg.
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Outro lado
Em nota, a Linha Uni e a ACCIONA, responsáveis pelas obras da Linha 6-Laranja, afirmaram que o rompimento não está relacionado às obras da Linha 6-Laranja e que presta todo suporte necessário à sua equipe. As empresas também comentaram que o desabamento não interfere nas demais frentes de trabalho do projeto.
Veja a nota abaixo na íntegra:
"A Linha Uni e a ACCIONA, responsáveis pelas obras da Linha 6-Laranja de metrô, informam:
1- Com as informações disponíveis neste momento, o incidente ocorrido esta manhã na Marginal Tietê não está relacionado diretamente ao desenvolvimento das obras da Linha 6-Laranja. Trata-se de um rompimento de um interceptor de esgoto.
2- O incidente não ocasionou nenhuma vítima. Todos os profissionais que estavam no local foram retirados com segurança. A empresa está prestando todo o suporte necessário à equipe e à comunidade.
3- A Defesa Civil esteve no local e, até o momento, não houve recomendação de evacuação na vizinhança.
4- Os trabalhos de contenção para recuperação da pista local da Marginal Tietê já foram iniciados com toda a urgência necessária.
5- A equipe técnica segue reunida para definir as melhores soluções de engenharia para dar continuidade nas ações de mitigação dos danos e retomar as obras.
6- O incidente é pontual e não interfere nas demais frentes de trabalho do projeto, que seguem em execução."