Funcionários ficaram olhando, diz padrasto de crianças que levaram choque em refrigerador de supermercado
Irmãs de seis e sete anos ficaram em UTI; elas estão assustadas e não querem ir mais a mercados
São Paulo|Do R7

Duas irmãs de 6 e 7 anos precisaram ser hospitalizadas depois de levarem um choque em um balcão de refrigeração instalado no Carrefour da avenida Marginal Pinheiros, na zona sul de São Paulo. As meninas ficaram internadas na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e, segundo a família, a mais nova chegou a sofrer parada respiratória instantes após o acidente, ocorrido no dia 24 de março.
De acordo com o padrasto de Anny e Amanda, o engenheiro Gerson Robaina, 45 anos, as duas já saíram do hospital há uma semana e passam bem. Apesar disso, elas carregam o trauma do que aconteceu.
— Elas estão assustadas. Estão super bem. Só que não querem ir ao supermercado. As amiguinhas acolheram bem, não só quando voltaram para a escola, mas durante todo o perído [de internação]. Elas mandavam faixa, cartazes. As meninas estão com receio de entrar no supermercado. É natural. Até um adulto teria. Eu, por exemplo, tenho receio de chegar perto de uma gôndola. Ontem [sexta-feira], encostei em uma para provar para mim mesmo que não tinha problema, mas uma criança não tem essa consciência.
Conforme o engenheiro, nenhum funcionário do estabelecimento teria aparecido na hora da emergência.
— Ontem, tive uma reunião com o Carrefour. Eles me disseram que têm brigada, com pessoal preparado, treinado. Eu disse para eles que a pessoa que estava na parte de carnes ficou parada atrás do balcão olhando. A pessoa que estava na parte de comidas prontas ficou parada olhando.
"Elas ficaram grudadinhas e não falavam nada"
Robaina fazia compras com a mãe das meninas no setor de peixaria, quando as crianças correram em direção a uma das gôndolas de frutos do mar. Segundo ele, Anny, a mais nova, tomou um choque e ficou presa ao equipamento.
Ele conta que a mulher, Andréa Paula Gayer, inicialmente pensou que as filhas tinham grudado as mãos no gelo.
— A irmã, que é um ano e pouco mais velha, foi junto. Ela [Amanda] tocou na pequena e ficou grudada também. A Andréa saiu correndo e falou: “Ah, colou a mão no gelo”. Só que as meninas não gritavam. Elas ficaram grudadinhas e não falavam nada. Quando a Andréa chegou e tocou nas meninas, também tomou um choque. Ela conseguiu tirar a maior e a menor ficou.
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O engenheiro relatou que correu para salvar Anny e não percebeu que um dos pés da enteada havia ficado preso ao refrigerador.
— No tempo em que eu cheguei e corri, a Anny caiu. Sabia que ela havia tido parada respiratória, porque não estava respirando. Quando fui fazer a respiração boca a boca, tomei um choque. Tomei o segundo choque, na realidade, porque ela estava com o pé encostado [no refrigerador] e eu não me dei conta.
Robaina relata ainda que recebeu ajuda de uma cliente que estava na loja, que havia feito curso de brigadista.
— Ela começou a fazer a massagem cardíaca, enquanto eu fazia a respiração boca a boca. Chegou uma terceira pessoa, que ajudou mais um pouco. Aí, eu fui ajudar a Andréa. O choque foi tão forte que ela perdeu as forças nas pernas. Ela caiu por causa do choque, porque segurou as duas meninas com vontade. A partir daí, a Andréa estava gritando muito. O público que estava em volta veio. Havia pessoas que choravam.
Ele diz que após o fato, apareceram alguns funcionários, como o gerente da loja.
— Depois do fato consumado, veio uma moça, que era caixa, e depois nos acompanhou até o hospital. E simplesmente me apareceu um segurança, com uma cadeira de rodas para conduzir as meninas até a rua para esperar a ambulância.
Enquanto eram levadas para o hospital, as crianças se comunicavam com dificuldade, segundo o padrasto.
— Elas falavam, mas por causa da contração provocada pelo choque, elas falavam de forma precária.
Levadas ao Hospital São Luiz, no Morumbi, na zona sul, em uma viatura da Polícia Militar, conforme o engenheiro, as irmãs acabaram transferidas para a UTI do Hospital Nove de Julho, na área central.
Alerta
Robaina destaca que o objetivo de levar o caso à imprensa é alertar e fazer com que a empresa tome providências.
— A gente quer que isso chegue à mídia, que isso se espalhe, para que o Carrefour tome uma providência efetiva e imediata. O Carrefour é enorme, está em mais de 20 países, e não tem um procedimento próprio, sólido, robusto para uma situação como essa. Por um mercado como este da Marginal passam aproximadamente 4.500, 5.000 pessoas por dia. É impossível que alguma pessoa não tenha problema cardíaco, impossível que não aconteça nada.
O engenheiro enfatiza ainda que casos como o que ocorreu com as irmãs não são pontuais e que este tipo de problema não está restrito ao Carrefour. Ele informa que pretende mover ação contra a empresa, mas que isso não é prioridade.
— Uma coisa é a questão do ressarcimento de danos, indenização. Neste momento, isso para a família não é o mais importante. Nossa luta, nossa batalha é para que isso não aconteça mais.
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Outro lado
Por meio de nota, o Carrefour lamentou o ocorrido e informou que "não mediu esforços para prestar toda a assistência e suporte necessários às crianças e seus familiares".
— Logo após o incidente, a empresa acionou imediatamente o SAMU para que especialistas em primeiros socorros conduzissem a situação. O Carrefour se prontificou desde o inicio a arcar com todas as despesas médicas e com a transferência das crianças do hospital São Luiz para o Albert Einstein. Profissional de assistência social do Carrefour acompanhou diariamente a evolução do caso no hospital de escolha da família até o retorno das crianças para casa e se colocou à disposição para o que fosse necessário.
A empresa declarou que a falha ocorreu em um "balcão de refrigeração de propriedade de um fornecedor da rede, o que não exime o Carrefour de suas responsabilidades".
— Todos os equipamentos similares foram retirados de imediato da área de venda não só da loja em questão, mas de todas as unidades da rede no Brasil. A empresa ainda realizou uma perícia na totalidade dos refrigeradores da loja para assegurar sua conformidade técnica. A rede de hipermercados ressalta que tem feito importantes investimentos para garantir a segurança de seus clientes e colaboradores. O Carrefour reitera que lamenta profundamente o incidente e informa que continuará prestando todo o apoio à família e, principalmente, às crianças.
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