Mapa da Desigualdade: Endereço é fator de risco para covid-19 em SP
Estudo da Rede Nossa SP indica que pandemia faz mais vítimas em distritos onde a população vive em favelas e tem menor expectativa de vida
São Paulo|Joyce Ribeiro, do R7
A edição extraordinária do Mapa da Desigualdade divulgado nesta quarta-feira (24) pela Rede Nossa São Paulo aponta que o endereço pode ser um fator de risco durante a pandemia do novo coronavírus na capital paulista. Isto porque os distritos com maior número de mortes pela covid-19 têm mais domicílios em favelas. Por outro lado, nos distritos onde a expectativa de vida é maior, os óbitos ocorrem em menor proporção.
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De acordo com a Rede Nossa São Paulo, os dados resultam do cruzamento dos registros, por distrito, do Mapa da Desigualdade 2019, sobre idade média ao morrer, população negra e porcentagem de domicílios em favelas, com o número de óbitos por covid-19, divulgados pela prefeitura e Ministério da Saúde.
Segundo o levantamento, há evidências de que o impacto da pandemia se relaciona com as vulnerabilidades e desigualdades territoriais e que a qualidade de vida e longevidade são aspectos que podem influenciar esses números.
"Os distritos onde as pessoas vivem mais tempo são os que têm melhores condições de vida e onde as mortes por covid-19 estão crescendo pouco. Na outra ponta, nos distritos onde as pessoas vivem menos tempo, encontram-se também piores condições de vida e é onde as mortes por coronavírus estão crescendo consideravelmente desde o começo da pandemia", concluiu o estudo.
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Expectativa de vida
Os dois distritos de São Paulo onde a população tem uma maior idade média ao morrer registram um número baixo de óbitos por covid-19. Em Moema, na zona sul, a expectativa de vida é de 81 anos e no Jardim Paulista, na região central, 80 anos. Juntos, eles somam 130 mortes durante a pandemia.
Já entre os três distritos com a menor idade média ao morrer, dois têm altos índices de falecimentos pela doença. No Grajaú, na zona sul, os moradores vivem em média 59 anos e em Cidade Tiradentes, na zona leste, 57 anos, mas as regiões concentram 460 mortes, sendo 267 só no Grajaú. Segundo o levantamento, são 3,5 vezes mais óbitos nessas regiões do que nos dois distritos com maior expectativa de vida.
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População negra
Os dois distritos com maior proporção de população negra entre os habitantes, Jardim Ângela (60%) e Grajaú (57%), ambos na zona sul da capital, apresentam alto número de óbitos por covid-19: 507 mortes, sendo 240 óbitos e 267, respectivamente.
Em contrapartida, o Alto de Pinheiros, na zona oeste, tem 8% de negros e 44 mortes, e Moema, na zona sul, com 6% dos moradores negros, registra 66 óbitos. Os dois distritos com menor proporção de negros entre os moradores somam 110 mortes por covid-19. O número é cinco vezes menor do que no Jardim Ângela e Grajaú.
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Segundo a Rede Nossa São Paulo, é possível compreender que os óbitos por covid-19 afetam mais a população negra, já que "os distritos que representam os maiores números de mortes também são os que concentram a maioria dos negros. Enquanto os distritos com menos óbitos são também os que têm números reduzidos de residentes pretos e pardos".
Domicílios em favelas
De acordo com o estudo, os 11 distritos que não reúnem domicílios em favelas, segundo dados oficiais, têm baixo número de óbitos por covid-19, em comparação com a média da cidade. São eles: Alto de Pinheiros, Bela Vista, Brás, Cambuci, Consolação, Jardim Paulista, Moema, Perdizes, República, Santa Cecília e Sé.
No Alto de Pinheiros, foram 44 mortes, no Jardim Paulista outras 64 e em Moema, 66.
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Já os dois distritos que têm mais mortes pela covid-19 têm o percentual de domicílios em favelas três vezes maior do que a média. Brasilândia, na zona norte, e Sacomã, na zona sul, têm 30% e 28% de casas em comunidades. Juntos, concentram 503 mortes.
O levantamento indica, portanto, que nos locais onde há maior concentração de favelas, a pandemia faz mais vítimas.
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