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"Moleque gente boa": amigos relembram Ricardo Nascimento

Carroceiro foi baleado com dois tiros no peito nesta quarta-feira (12)

São Paulo|Peu Araújo, do R7

Ato em homenagem ao carroceiro Ricardo Silva Nascimento
Ato em homenagem ao carroceiro Ricardo Silva Nascimento Ato em homenagem ao carroceiro Ricardo Silva Nascimento

Dois tiros no peito e Ricardo Silva Nascimento, de 39 anos, desabou na esquina da rua Mourato Coelho com a rua Navarro de Andrade. O carroceiro alvejado pelo policial militar José Marques Madalhano, de 23 anos, morreu no local sob os olhares de moradores e motoristas que passavam pela agitada rua em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, no início da noite de quarta-feira (12).

Sonia Regina Piassa, ao volante de um dos veículos da rua Mourato Coelho, relembra a cena 24 horas depois do crime. “Eu vi o corpo no chão nesta valeta” e apontou para o local em que o carroceiro foi assassinado.

A carroça de Negão, como era conhecido em Pinheiros, continua estacionada na esquina de sua morte. Alguns amigos e moradores do bairro acendem velas e deixam ramos de flores no carrinho que diariamente se enchia de papelão e outros objetos.

A revolta pela ação policial está nos cartazes empunhados pelos carroceiros que encabeçaram o protesto que aconteceu no fim da tarde desta quinta-feira (13). “PM covarde”, “tiros não são solução”, “foi execução” e “Uma pizza vale 1 vida?” eram apenas alguns dos recados. Cantos contra a polícia militar, pedindo justiça pela assassinato e enaltecendo Ricardo foram ouvidos em todo o protesto que durou quase 3 horas.

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No meio da rua Mourato Coelho, está escrito JUSTIÇA em letras garrafais. Ao lado da palavra — e com a mesma tinta branca — um desenho simula um corpo estirado no chão. Em um momento o artista plástico Mundano, responsável pelo projeto Pimp My Carroça e amigo de Ricardo, e outros carroceiros arremessaram ovos com tinta vermelha. A cena representa os tiros disparados pelo policial. Mundano comenta o protesto e a conduta policial que resultou na morte do carroceiro. “Marcamos a rua onde teve o assassinato, onde a polícia omitiu o corpo e as provas na frente de todo mundo, onde ele tomou três tiros.”

Por volta das 18h30, 24 horas depois da morte, 14 carroças e dezenas de pessoas começaram a andar em direção a rua Teodoro Sampaio, que foi totalmente bloqueada para o trânsito de carros. Um carroceiro mostra a foto de Ricardo aos motoristas, que aparentemente se compadecem. Uma senhora em um carro vermelho, que não deu conversa ao homem com a fotografia, insiste que precisa seguir adiante. Ele informa que não será possível. “Eu tenho horário no médico”, ela diz em tom mais elevado. O homem responde. “Ele não tem mais médico”. Resignada, ela fecha o vidro e espera em silêncio.

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O protesto terminou sem conflitos por volta das 19h40. O ato serviu como uma despedida para o carroceiro. O velório marcado para a sexta-feira (14) será reservado à família e amigos. 

Puxando o cão sem raça definida Barbinha, Piauí, grande amigo de Ricardo e também carroceiro, não para de chorar. Sua fala é também prejudicada pela embriaguez, mas mais ainda pela emoção. Em duas situações ele tenta explicar o que aconteceu, mas a única coisa que sai de sua boca é “mataram meu irmão aqui.”

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Ricardo era uma figura conhecida na região. O taxista Acácio Almeida conta que conhecia o carroceiro há mais de 20 anos. Ele fala de sua personalidade. "Moleque gente boa". E revela ainda outras profissões que ele exerceu. “Ele trabalhou em comércio aqui na região de Pinheiros. Foi funcionário de mercado, gerente de loja de 1,99 na Teodoro. Sempre esteve nessa região.”

Na rua há alguns anos depois de um conflito familiar, Ricardo dormia sempre no mesmo lugar, a rua Benjamin Egas, a 250 metros de onde foi assassinado. Emocionado, o taxista fala sobre sua relação com o carroceiro. “Ele já balançou muito o berço da minha filha, eu conheço o Ricardo não é de hoje. Ele foi funcionário do meu sogro num mercado. Minha filha, que hoje tem 14 anos, era pequena. Muitas vezes ele ajudava a gente quando ela chorava. Pegava o carrinho e ia pra lá e pra cá com ela.”

O taxista revela ainda uma característica importante de Ricardo e aponta com descrença a tese de que ele teria pedido comida na pizzaria. “Ele pode ter chegado lá e pedido uma pizza para pagar, mas não para pedir. Ele era muito orgulhoso com isso. Ontem na hora que aconteceu ele já tinha três carroças de papelão lotadas, todo dia ele fazia isso, ele tinha sempre dinheiro.”

Corroborando com o que disse o taxista, a Pizza Prime emitiu uma nota em que afirma:

A Pizza Prime lamenta a morte de Ricardo. Esclarecemos que a unidade Pinheiros se encontrava fora do horário de funcionamento durante a fatalidade e não tivemos nenhum contato com o morador de rua.

Estamos de portas abertas para auxiliar nas investigações e colaborarmos pela justiça. Repudiamos qualquer incitação ao ódio, violência e prezamos pelo comportamento ético.

A Pizza Prime dedica amor e conforto aos amigos e familiares da vítima

A Secretaria de Segurança Pública afastou os policiais militares envolvidos na ação e a Ouvidoria da Polícia Militar já pediu a intervenção do Ministério Público no caso para que o policial responda por homicídio. Até o momento o MP ainda não entrou no caso, e o policial não responde por nenhum crime.

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