Moradores do centro de SP temem novos arrastões na Cracolândia
Motoristas e pedestres foram atacados por dependentes químicos na terça-feira (8), após uma ação de limpeza urbana da prefeitura paulistana
São Paulo|Cesar Sacheto, do R7
Os moradores dos edifícios residenciais nas proximidades da Cracolândia, quadrilátero no centro de São Paulo conhecido pela frequência de dependentes químicos e pessoas em situação de rua, estão assustados com a possibilidade de novos arrastões e ataquessemelhantes aos registrados na tarde desta terça-feira (8), após uma operação de limpeza urbana efetuada pela prefeitura paulistana.
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A maioria dos proprietários ou inquilinos de apartamentos na região prefere manter o anonimato ao falar das dificuldades enfrentadas diariamente pela presença constante de usuários de drogas e de traficantes no entorno. Mas é fácil notar que a convivência com a vizinhança causa preocupação, especialmente após um episódio tão violento.
"Agora pegaram o gosto. Você vai ver direto que vão fazer arrastões nos carros", afirma, sem se identifica, uma moradora, de 56 anos, que se mudou há poucos anos para a região.
Projeto de revitalização
Em 2016, muitos interessados como ela se inscreveram para obter um imóvel a preço baixo como forma de atrair quem trabalhava no centro, mas morava longe do serviço.
O projeto também tinha como objetivo revitalizar o bairro com apartamentos construídos com acabamento de qualidade e bem equipados. "Quando compramos, nos prometeram que estavam tirando a Cracolândia de lá. O que todos querem é ter a tal segurança prometida, ter o direito de ir e vir. Somos prisioneiros", completou.
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No entanto, as mudanças de políticas públicas para lidar com os usuários de drogas que circulam pelo bairro minam a esperança dos moradores de ter tranquilidade, acessar serviços, áreas de lazer e outras vantagens que a vida no centro oferece.
"É som ligado à noite toda, ônibus clandestinos acelerando e aquela muvuca de gente. Eles queimam fios, roubam, quebram as coisas, espalham lixo. Todo dia tem um carro com o vidro estourado. na porta do complexo [residencial]. A presença do porteiro não os inibe", contou a moradora.
Muitas dessas pessoas compartilham os seus receios em relação ao bairro nos grupos de aplicativos de mensagens criados para relatar situações perigosas, divulgar ações e cobrar providências das autoridades. Vídeos com flagrantes de confusões, vandalismo, furtos, roubos e comércio de drogas são bastante comuns.
Alheios às discussões sobre a melhor forma de abordar o tema, os moradores da região da Luz querem ter assegurado o direito de se sentir seguros em suas próprias casas e ao sair para trabalhar ou praticar qualquer atividade nas redondezas.
"A princípio, colocar viaturas e base da policia. E que tenham autorização para agirem. Tem que ter policiamento ostensivo", complementou a moradora.
Prefeitura se manifesta
Em nota, a Prefeitura de São Paulo informou que a concentração de dependentes químicos da região da Luz, no centro, foi deslocada da rua Dino Bueno para a alameda Cleveland.
Assim, os usuários que costumeiramente ficam na alameda Cleveland, haviam sido deslocados para a rua Dino Bueno por causa do aumento do tráfego de caminhões para a retirada de material de demolição em função das intervenções no local.
Ainda segundo a administração municipal, a ação foi informada e combinada previamente na manhã desta terça-feira (8). À tarde, a GCM iniciou a operação e a mudança estava ocorrendo com normalidade.
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No entanto, segundo a prefeitura, um grupo de frequentadores começou a agredir GCMs com pedras, paus e outros objetos. A reação teve de ser contida para preservar a segurança de todos na região. A Polícia Militar apoiou a operação com patrulhamento preventivo nas imediações.
A SMSU (Secretaria Municipal de Segurança Urbana) informou também que a GCM faz três intervenções diárias acompanhando a zeladoria na região da Luz para proteger agentes públicos e garantir os serviços de coleta de lixo e limpeza das ruas.
Desocupação de prédios
Segundo a prefeitura paulistana, a desocupação de imóveis na região está suspensa por ordem judicial. A prefeitura autorizou, no dia 14 de outubro, a demolição dos imóveis remanescentes em 11 lotes localizados na rua Helvétia e alameda Cleveland, que estavam desocupados.
A ação, discutida e aprovada há mais de um ano pelo Conselho Gestor da ZEIS (Zona Especial de Interesse Social), foi necessária para dar continuidade à PPP (Parceria Público Privada) da Habitação que destina habitações de interesse social para famílias de baixa renda que trabalham no centro paulista — resultado de uma parceria entre a prefeitura e o governo do estado.
De acordo com a gestão municipal, as unidades habitacionais que serão construídas vão ser destinadas a famílias de baixa renda que residiam no local e foram previamente cadastradas pela Sehab (Secretaria Municipal de Habitação), em 2017.
Desde 2015, a PPP da Habitação já entregou 1.443 moradias sociais na região central da capital paulista e outras 210 unidades estão em construção.