O assassinato do ator Rafael Miguel, de 22 anos, e de seus pais, João Aloizio Miguel, de 52 anos, e Mirian Selma Silva Miguel, de 50 anos, completa dois anos, nesta quarta-feira (9), sem que o homem responsável pela chacina tenha sido colocado atrás das grades. Em uma noite de domingo, o rapaz que se tornou conhecido do público brasileiro, ainda na infância, pelas suas atuações na novela Chiquititas, exibida pelo SBT, e comerciais de TV, havia ido até a casa da namorada, Isabela Tibcherani, junto com seus pais. A ideia dele era conversar sobre o namoro com o sogro, o comerciante Paulo Cupertino Matias. Na casa, a família de Rafael havia sido recebida por Isabela e pela mãe dela, Vanessa — que, mais tarde, revelou um histórico de agressões por parte do marido. Porém, mais tarde, Cupertino Matias chegou ao local armado. Exaltado, o criminoso decidiu eliminar o genro e os familiares. Atirou nas três vítimas, que estavam no portão da casa. Um laudo elaborado pela Polícia Técnico-Científica de São Paulo mostrou que o atirador disparou 13 vezes. Rafael foi atingido por sete tiros — um na cabeça, outro no peito, três nas costas e dois no braço esquerdo. O pai foi baleado quatro vezes (uma peito, duas no braço esquerdo e uma no braço direito), e a mãe, duas (no peito e no ombro). Segundo a Polícia Civil, Paulo Cupertino cometeu o crime por não aceitar o namoro do ator Rafael com sua filha, Isabela Tibcherani — que obteve na Justiça uma medida protetiva contra o pai. A mãe do acusado, Lourdes, revelou que pouco antes do assassinato, Cupertino pode ter sido avisado que Isabela estaria grávida. Ela teria ouvido a versão de um conhecido e ex-funcionário do criminoso. A suposta mentira teria sido inventada pela mãe de Isabela para que a filha pudesse namorar com Rafael. Logo após balear as vítimas, Cupertino fugiu a pé pelas ruas do bairro da Pedreira, na zona sul de São Paulo, onde morava. Desde então, as equipes da Polícia Civil encarregadas de investigar o caso iniciaram uma caçada ao assassino. O criminoso teria recebido a ajuda de amigos para financiar a fuga. Pistas sobre o paradeiro de Cupertino foram checadas em diversas cidades do interior paulista, estados do país e até no exterior. A rota de fuga incluiu passagem por fazendas no Mato Grosso do Sul e Paraguai e a emissão de um RG com dados falsos no Paraná. Paulo Cupertino, hoje com 50 anos, é o primeiro nome da lista dos criminosos mais procurados do estado de São Paulo. No detalhamento das características físicas no site da Polícia Civil paulista, consta que o criminoso tem tatuada no antebraço a frase "Marginal, sempre marginal". Ao longo dos anos, o foragido mudou a aparência várias vezes. Os registros mais recentes mostram um Cupertino com os cabelos curtos, esbranquiçados e barba longa. Mas há suspeitas que ele já tenha adotado outras faces para enganar as autoridades. A investigação do assassinato da família de Rafael Miguel foi encaminhado à equipe do 98º DP (Jardim Miriam), responsável pela região onde o crime foi praticado. Mas a polícia do estado possui um departamento especializado na busca de fugitivos da justiça — Decade (Departamento de Capturas e Delegacias Especializadas). No entanto, apesar dos esforços, os investigadores encontram dificuldades para surpreender o fugitivo antes que ele escape mais uma vez. A defasagem na Polícia Civil de São Paulo é um problema antigo que afeta diretamente a buscas de criminosos como Paulo Cupertino e o consequente fechamento dos casos, afirma a delegada Raquel Kobashi Gallinati Lombardi. "Por mais que os policiais sejam preparados e tenham 'know how', muitas vezes não conseguem corresponder à demanda. Temos um déficit que passa dos 14 mil policiais no estado. O efetivo de policiais designados para caçar foragidos está abaixo do ideal. Isso não é desculpa para que criminosos não sejam localizados, mas, quando se trabalha com uma realidade muito abaixo em estrutura, equipamento e efetivo, não se consegue dar a resposta do estado e o castigo para quem comete o crime", explicou a delegada. Segundo um levantamento do Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), obtido na terça-feira (8) com exclusividade pelo R7, embasado em dados da SSP-SP (Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo), as principais carreiras da Polícia Civil na cidade de São Paulo têm ocupação de apenas de 67% — a defasagem é de 33%. No total, o Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital) possui 2.157 cargos desocupados em relação ao previsto por lei — que estipula 6.578 postos nas delegacias da capital paulista, incluindo as funções de delegados, escrivães, investigadores, agentes policiais, agentes de telecomunicações, papiloscopistas, auxiliares de papiloscopista e carcereiros. "O fluxo de crimes aumenta a cada ano, principalmente dos reincidentes. Não se tem a certeza do castigo; existe a impunidade. A falta de estrutura do sistema criminal, que é a Polícia Judiciária, coloca em risco a população, que fica à mercê dos criminosos soltos", finalizou a delegada Raquel Kobashi Gallinati Lombardi.