'Mulher da mansão abandonada' de Higienópolis foi investigada pelo FBI
Ela e o marido mantiveram nos Estados Unidos a empregada doméstica em condições análogas a escravidão por duas décadas
São Paulo|Do R7, com informações da Record TV
A mulher que vive na mansão abandonada em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo, foi foragida do FBI, departamento de polícia dos Estados Unidos. Margarida Bonetti e o marido foram acusados de manter a empregada doméstica sem salário, sendo agredida e impedida de deixar a casa por 20 anos enquanto o casal morava no exterior.
A mansão foi tema de podcast do jornal Folha de S.Paulo, que relatou que a mulher morava na casa com aspecto de abandonada. Ela aparecia de vez em quando nas janelas, sempre com pomada branca no rosto. Aos vizinhos, se apresentava como Mari.
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Em entrevista ao Cidade Alerta, o chefe da segurança do bairro, Edvaldo Palma Santos, informou que a mulher o tratava bem: "Se ela precisava de alguma coisa, eu estava aqui. Ela aparecia na janelinha e falava: 'Capitão', eu perguntava se tava tudo certo".
Era vista poucas vezes. Mas, na pandemia, sempre que aparecia, estava com o rosto pintado de branco e usava roupas simples. Ela costumava ficar na varanda e também varria a calçada.
"Você a via numa semana três vezes e ficava dois meses sem ver", disse um morador.
Investigação
No fim dos anos 1970, o marido, que é engenheiro, foi transferido a trabalho para os Estados Unidos. O casal se mudou para o exterior na companhia da empregada doméstica. Por duas décadas, ela viveu em péssimas condições, sem acesso à geladeira da família e ainda era agredida. O caso foi denunciado por vizinhos.
O marido, Renê Bonetti, ficou preso por sete anos pelo crime, se naturalizou americano e ainda vive no país. Já Margarida conseguiu voltar para o Brasil após a morte do pai e nunca mais retornou aos Estados Unidos para ser julgada.
Veio morar na casa herdada da família, com 20 cômodos, e dois cachorros. Imagens da casa mostram uma montanha de livros e objetos empilhados, misturados a joias e artigos valiosos. A família é descendente de barões e pertenceu à elite paulistana.
O crime poderia ter prescrito em 2012, mas a Corte Interamericana de Direitos Humanos ainda analisa se a escravidão contemporânea é um crime cuja pena pode ser aplicada enquanto o criminoso estiver vivo.
A Polícia Civil de São Paulo pediu autorização à Justiça para ter acesso ao local já que o caso voltou à tona.
Mansão
O imóvel, localizado na rua Piauí, começou a atrair a atenção de quem passa na região, e é comum ver pessoas fazendo "selfies" com o casarão ao fundo, como em pontos turísticos.
Apesar de degradada e sombria, a mansão reúne objetos de valor a lixo. O porão tem tapumes e as janelas sempre estão fechadas. O casarão está em meio a prédios e não teria esgoto.
O Instituto Luisa Mell resgatou no domingo (3) dois cachorros que foram deixados para trás na casa. Margarida teria se mudado para um local desconhecido.